É óbvio,ou quase óbvio porque o que é óbvio para uns não é para outros, que o grande feito da vida da pintora Paula Rego não foi ter sido condecorada pela rainha da Inglaterra ou pelo presidente da República portuguesa. O grande feito estava na sua obra em si, no seu trabalho dedicado, continuo e irreverente. Sim, ser condecorada por uma realeza britânica de estuturas tão conservadoras e rigidas, onde não há quase lugar para relações de amor e sim contratos de conveniência protocolar onde o feminino está ao serviço das regras, significa que mesmo a esses ela consegue tocar a alma, a sensibilidade. Reconhecer a obra desta artista ainda em vida é dar sinais que mesmo assim os tempos são de mudança. O mesmo se aplica ao governo português que goza duma jovem democracia de 48 anos. Nem todos os governos deste país iriam condecorar a Paula Rego. Ela toca em assuntos muito delicados e polémicos, tal como o aborto e a violência contra a mulher. Para muitos conservadores e fascistas ela é uma desnaturada, uma ofensa pública.
Por outro lado não dá para negar que ela vem dum seio familiar privilegiado, atipico dum Portugal da época em que nasceu. Nos idos anos 30 a maioria da população portuguesa passava fome e frio sem condições básicas e saneamento básico assegurado. Que bom que o seu pai era republicano e anti fascista e teve visão e condições para a mandar para Londres para estudar, depois desta ter passado pelo Colégio Inglês em Portugal. Foi um serviço à Humanidade que este senhor fez e que a sua filha deu continuidade, mas ao conhecer a vida da Paula tomamos conhecimento que esta também foi vitima de machismo. Pronto, mas fez a sua parte sem se preocupar em agradar a gregos e a troianos e sim expressar o que lhe ia na alma com um sarcasmo "infantil', cruel e pueril. Para mim era isso que ainda dava mais graça aoo seu trabalho e ouvi-la falar era desconcertantemente delicioso.
Paula Rego (Lisboa, 28 de janeiro de 1935/ Londres, 8 de junho de 2022)
A Piu
Br, 13/06/2022
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