Hoje é dia de Santo António, padroeiro da cidade de Lisboa para onde o Variações, que também era António, filho de camponeses, foi viver ao sair da santa terrinha no Minho. A Lisboa de hoje não é a mesma que o António Variações conheceu desde os anos 50, quando migrou com 12 anos com o quarto ano de escolaridade para trabalhar, até ao inicio dos anos 80. Porém, Lisboa sempre nos lembra em algum momento o seu provincianismo, a sua pequenez com mania das grandezas. Coisas que os povos teem... O português é assim, como haverão outros iguais, mas também tem coisas fixes. E parece-me que mesmo assim é mais importante focarmos nas coisas fixes e nas menos fixes fazermos a diferença ou pelo menos tentar. O Variações fez a diferença. OLÉLÉ SE FEZ! O próprio dizia que não era ele que tinha que se adaptar a Lisboa e sim Lisboa teria de se adaptar a ele.
Homem de aparência exuberante, presença em palco igualmente exuberante e muito genuína. Nunca escondeu a sua homosexualidade e o amor infinito à sua mãe. Ao que consta no trato pessoal era um homem simples. Sem caganças, digamos. Aquela vaidade e arrogância que ocupa muito espaço. Eu não o conheci pessoalmente mas a minha mãe sim. Ía cortar o cabelo ao salão unisexo dele no centro de Lisboa. Penso numa foto dela com um penteado cortado por ele, mas seria especulação da minha parte. Para todos os efeitos além de hoje ser o dia de Santo António foi o dia em que o Variações nos deixou em 1984, uma das primeiras vítimas de Aids vindo a falecer de pneumonia..
"Eu quero que a minha música seja algo entre Nova York e a Sé de Braga." MUITO BOM! Um homem cosmopolita com coração na santa terrinha, fã incondicional da fadista Amália Rodrigues e admirador da estética de tudo o que era santinho e santinha.
Ele era ele, não com a intenção de provocar por provocar e sim tinha uma urgência de se expressar, mesmo não sabendo música. Uma urgência de SER. No filme que assisti ontem sobre ele há um diálogo dele com a mãe. Esta pergunta se ele é feliz, ao que responde que acha que não nasceu para ser feliz.
Olha António, todos nascemos para sermos felizes e para fazer os outros felizes. Tu não serias execepção. A tua excepção é teres tido a coragem de assumir que eras uma ave rara num país que ainda só tinha 10 anos de democracia, deixando muita décadas de fascismo para trás. Combater a tacanhez. a machisse alpha sonsa e hipócrita, não é fácil e esta para se disolver leva tempo. Outra coisa que eu admiro também muito em ti é o facto de não caires em clichés e trejeitos exagerados só para provares aos outros que eras homosexual. Tu eras tu próprio sem imitações e folcolorizações de ti mesmo. Não sei se foste santo, desconfio que não, mas eras boa pessoa e partiste no dia do Santo António em Lisboa. Pronto, coincidência sincronicidades da existência.
A Piu
Br, 13/06/2022
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