domingo, 12 de junho de 2022

MULHERES PORTUGUESAS QUE ME INSPIRAM

 

Há uns dias atrás, no dia do aniversário da 'nha filha vá, a Paula Rego partiu para um outro plano deixando um legado extenso de obra gráfica, de pintura e também  escultura. Ela é uma grande referência da arte contemporânea, pelo menos na Europa. Foi condecorada pelo governo português e pela rainha Isabel II, entre outras condecorações. Nascida em Lisboa em 1934, o pai envia-a para Londres aos 17 anos para estudar artes, pois Portugal que estava em plena ditadura fascista não era lugar para mulheres segundo mesmo. Um homem muito à frente da sua época, diria. A mulher e a sua condição são os principais eixos temáticos da obra de Paula. 

Eu conheci o trabalho dela no inicio dos anos 90 através da revista "Colóquio" da Fundação Gulbenkian. Algumas pinturas da sua fase dos anos 80 deixaram-me tão fascinada que foi amor à primeira vista. Levei um ou dois anos para descobrir a obra dela até à data. Um dia bati o olho no enorme livro do John McEwen na feira do livrto de Lisboa: PAULA REGO. Pensei: " Eu vou ter aquele livro. Dê lá por onde der!", reuni forças para juntar dinheiro e zás! Comprei-o esse calhamaço de capa dura numa belissima edição com qualidade de imagem. E levo-o para qualquer lugar como um filho. Está ali na estante para o consultar de quando em vez e para me inspirar para o trabalho que desenvolvo. Também estão 3 volumes da obra gráfica da Paula. Tirei uma foto dos livros para prestar homenagem a esta conterrânea que nunca negou a sua nacionalidade e origens, mesmo vivendo no Reino Unido desde a adolescência. Pelo contrário! Fez da sua arte uma forma de reinvindicar dignidade para as mulheres no geral e para as portruguesas em particular. Só tenho a agradecer a toda a inspiração que ela tem propociado a muitos artistas.

Ontem ao rever o video que realizei com uma máscara ,que eu pedi à artista visual Denise Valarini para construir a partir de imagens e ideias que eu levava, lembrei-me que esta é inspirada numa pintura da Paula Rego. Há um tempo atrás quando usei a mesma para outro trabalho pude ver que as suas feições lembravam a minha avó paterna, a Maria do Carmo. 

Pois é! E assim vai a vida! Recordarmos quem nós somos e irmos honrando a ancestralidade e removendo os nódulos e tumores do patriarcado que já dura há uns 10 mil anos ou mais.Vamos combinar: quando falamos em muitos mil mais mil menos mil já quase não faz a diferença, salvo seja. 

Milhares de mil vezes agradecida Paula Rego pela tua obra de 70 anos que tem abanado as estruturas. 

Magotes de admiração eterna por mulheres como tu.

A Piu

Brasil, 12/06/2022 

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