Esta boneca de pernas longas para fazer pliês, demi pliês, alengês, pirrouettes já a adquiri no Brasil. Estava dentro duma caixa de brinquedos num bazar e piscou o olho para mim. Tirei-a do meio daquela molhada de brinquedos de plástico e borracha e abracei-a. Então, segredei-lhe ao ouvido: " Para onde eu for tu vais comigo." Também lhe pisquei o olho.
Naqueles anos que estive com o meu ex companheiro angolano, pai da nossa filha, tive a oportunidade de conviver de perto com a sua família e algumas pessoas angolanas que frequentavam a casa da mesma. Um dia, numa noite portuguesa e fria de Natal , quando o pessoal já estava um tanto regado assisti a uma discussão que além de me assustar entristeceu. Encontravamos-nos, penso que no nono andar onde havia uma varanda aberta. Alguém que era do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) começou a discutir com alguém que era da UNITA ( União Nacional para a Independência Total de Angola) . Aparentemente eram amigos... Num instante percebi que não e que no calor da discussão algum poderia levantar voo em queda livre desde a varanda até ao meio da rua.Ali já não era o Tuga branco que era o inimigo. Eram dois angolanos negros que provavelmente lutaram pela Independência de Angola. Irmão lutando contra irmão. Dois oprimidos oprimindo-se entre si.
Em alguns encontros familiares eu também escutava da minha sogra, que pertencia ao MPLA e seus amigos, que mesmo assim na época dos portugueses era melhor... Isso também me entristecia. Significava que agora estava péssimo, mesmo tendo sido oprimido e escravizado pela colonização portuguesa até 1974..
Ufa, ufa. Até ao próximo texto que falaremos dos tugas que foram rompendo com o colonialismo e o racismo.
Eu gosto desta boneca como ela é, mas ainda vou vesti-la como uma Bessangana, uma grande dama de trajes de pano.
Beijucas!
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