Das coisas que considero mais ,mais mesmo mais, importantes na vida é a realmente sair da casca. Qual a mulher que nunca escutou quando É ela mesma ou tenta SER:" 'Tás muito saidinha da casca!" Pois é, quem quer virar uma omelete no prato de alguém com um fiozinho de vinagre balsâmico a serpentear a dita com uma folhinha de manjericão a dar aquele toque ulálá? EU TAMBÉM NÃO!
Hoje, que precede o dia de ontem e antecede o dia de amanhã, para mim cada vez é mais importante ocupar o lugar de escuta. Por vezes não vou gostar do que escuto e observo e 'ozolhos' ficarão feito farois como quem diz: "Estou a ouvir a bem? O que está a acontecer aqui? Vou aproximar-me um pouco mais sem esquecer de olhar para o lado para estar ciente que a realidade é uma entre várias. Ah! Então é isso! Então, 'tá bom..."
Isto foi o que me aconteceu há uns anos atrás, uns dez, quando cheguei ao Brasil e caí de paraquedas num núcleo de estudos feministas numa conceituada universidade. Senti-me assim... Um pássaro fora de água, um peixe sem asas, uma casca de ovo sem gema e clara lá dentro. Nunca conhecera mulheres brancas, ditas feministas, pertencentes à elite intelectual com todos os seus privilégios assegurados, mas lá está reinvindicando o seu lugar no meio ainda de lógica tão patriarcal como o académico.
Eu não fazia parte daquela casta, daquela classe social, daquele leque de valores. Não fazia, nunca fiz nem pretendo fazer. Tenho consciência das minhas origens que são do povo, do campo, da terra e mesmo já não sendo camponesa nem doméstica como a minha avó nem funcionária dos correios como a minha mãe e sim artista profissional, estudiosa, tenho consciência de classe. É claro, ou quase claro, que fui equivocadamente confundida e provavelmente ainda o seja com essa elite branca que ainda goza de privilégios herdados do tempo colonial. Sou branca, tenho olhos azuis, o cabelo mais para o claro do que está na fotografia ( aqui é uma corzinha vegana que eu achei que fosse mais clara e deu neste escuro que muito alegrou as minhas filhas, pois segundo elas realça o olhar. Quando me surpreendo nem precisa de cor de cabelo para os olhos sairem de órbita).
O que é facto é que eu prefiro escutar feministas negras, como a Grada Kilombo, a Djamila Ribeiro, a Sueli Carneiro, escritoras e pensadoras indigenas, afirmem-se estas ou não de feministas, mulheres brancas da classe trabalhadora ( como as que conheci em Portugal) do que... Vou ser bem sincera: escutar mulheres brancas da elite que acham super emancipatório quando nos anos 80 descobriram que a sua doméstica podia congelar as refeições para que a intelectual que cita Beauvoir podesse se alimentar. Ai! Dá licença. Tem tanta gente interessante para escutar e que foi durante séculos silenciada do que faze parte dessas tertúlias. Nada contra, mas também nada a favor. Como a Djamila Ribeiro diz: " Diferentemente das mulheres brancas, as negras lutam pelos seus filhos e homens negros para que estes não sejam presos e mortos, tampouco explorados." Com isto não quero dizer que não goste ou que não ame os homens brancos, mas esses mais do que nunca precisam de baixar a crista de galinhos garanhões e escutar quem nunca foi ouvido ou tendo as suas falas desprezadas e ridicularizadas.
Assumir os lugares de privilégio de fala e abrir mão dos mesmos vale muito mais que um voto num qualquer partido dito defensor dos direitos dos trabalhadores. É pelos trabalhadores e trabalhadoras? Então apoia-@s para que não virem nem omeletes nem carne para canhão, prepetuando pirâmides sociais obsoletas.Cada um@ de nós que faça a sua parte.
A Piu
Brasil, 17/06/2022
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