terça-feira, 21 de junho de 2022

O VIETNAM PORTUGUÊS




Esta boneca, a quem chamei de Maria Canela, foi dos presentes mais bonitos que recebemos quando a minha filha mais velha nasceu. Foi oferecido por uma amiga da minha tia, que é branca. Uma informação com alguma importância para o irei escrever a seguir.Seria excelente já não termos que falar de questões de gênero e raça. Infelizmente ainda é necessário para que novas formas de nós enxergarmos e nos relacionarmos aconteçam efetivamente.

No caso desta filha ela também tem sangue indígena, além do peninsular ibérico. Por ora falarei das origens da sua irmã mais nova e o breve convívio que tive com a sua família paterna angolana e negra. Talvez hajam pessoas que se relacionam com as outras por puro exotismo e curiosidade em saber se as pessoas se envolvem da mesma maneira na Gronelandia ou nas ilhas do Pacífico. Enfim, cada um e uma e ume terá o seu grau de consciência acerca da sua objetificação e objetificação d@ outr@ e exotização d@ outr@.

Afirmar que existe algum povo que esteja totalmente isento de racismo e xenofobia seria uma falácia da minha parte. Talvez existam e eu faço questão de conhecer. Provavelmente os povos indígenas cuja missão é disponibilizar a cura espiritual através das cantorias e medicinas da floresta de outros que não os seus parentes.

Hoje início uma temática que para mim ainda é cara e ainda está envolta de silêncio,  trauma, equívocos, tomadas de consciência, encontros e desencontros.

Portugal foi dos últimos países na Europa nesse complexo processo de descolonização. Entre 1961 e 74 Portugal esteve em guerra com as ex colônias africanas. Guiné Bissau, Angola, Moçambique foram os principais palcos de guerra onde morreram milhares e milhares de parte a parte, não falando dos que voltaram amputados física e psicologicamente. A geração do meu pai viu a juventude roubada, saqueada por um regime fascista que obviamente censurava quem se opunha, perseguia e prendia os desertores que conseguia achar e autoritariamente manda jovens rapazes para defenderem um território invadido, subjugado, escravizado durante séculos. Ninguém se beneficiava com as colônias a não ser a oligarquia portuguesa. A MAIORIA DO POVO PORTUGUÊS VIVIA NO LIMIAR DA MISÉRIA. Os mesmos que eram carne para canhão.

No meu ponto de vista um anti fascista que se preze saberá ou tentará informar-se que outros anti fascistas e anti colonialistas existirão dentryduma mesma nação. Quem achar que os alemães são todos nazis ou que todos os portugueses são todos colonialistas é reacionário. Pronto, há que dize-lo com frontalidade e todas as letras. Da resistência não reza muito a história, porque não convém. Então teremos que conversar mais uns com os outros transitando generosamente entre o lugar de escuta e de fala.

Afortunadamente o meu pai não foi convocado para a guerra. Mas muitas crianças da minha geração tiverem que conviver com ex combatentes que surtavam a meio da noite com os pesadelos ou surtavam "simplesmente acordados" durante o dia e a família tinha que abrir fuga até se acalmarem.

Convivi intimamente com o pai da minha segunda filha que foi ex combatentes da guerra civil angolana nos anos a seguir à independência. Irmão matando irmão... Depois desertou para Portugal e só voltou a Angola quando já tinha a garantia que não seria julgado em tribunal militar por ter desertado.O mesmo que dizia e diz que existem mais armas do que brinquedos em Angola.

Ufa, até ao próximo texto sobre a questão.

 Vida longa, leve e alegria no coração a tod@s nós é o que eu desejo.

A Piu

Brasil, 21/06/2022

 #arte #arteterapia #muñecoterapia

Sem comentários:

Enviar um comentário