Eu teria uns 30 anos quando um portal de luz ofuscou o meu olhar. Fiquei parada, numa suspensão entre o olhar se esbugalhar e procurar o carreirinho de formigas mais próximo. Não, não me tornei um ser totalmente iluminado que pudesse abrir uma seita e propagar: " Eu despertei! Vocês podem despertar desde que me paguem muito bem e eu possa ter 100 Rolls Royce na porta e possa dançar descalça no jardim da minha mansão!" Não, não foi isso que aconteceu e não faço questão que aconteça.
De origem germânica achtung! servia como interjeção chamativa para perigos e paisagens deslumbrantes. Mais a norte, nos países escandinávos,ACHTUNG!! é considerado o espirro oficial dos vikings. Em terras lusas utiliza-se a expressão "Arre!!" quando alguém está arreliado. "Arretung!" é uma espécie de grito de guerra dos trabalhadores da classe precária, que desunidos nunca vencerão.
quarta-feira, 29 de junho de 2022
SIM, VIDAS INDÍGENAS IMPORTAM
Eu teria uns 30 anos quando um portal de luz ofuscou o meu olhar. Fiquei parada, numa suspensão entre o olhar se esbugalhar e procurar o carreirinho de formigas mais próximo. Não, não me tornei um ser totalmente iluminado que pudesse abrir uma seita e propagar: " Eu despertei! Vocês podem despertar desde que me paguem muito bem e eu possa ter 100 Rolls Royce na porta e possa dançar descalça no jardim da minha mansão!" Não, não foi isso que aconteceu e não faço questão que aconteça.
terça-feira, 28 de junho de 2022
MIS CAR@S AMIGUES
segunda-feira, 27 de junho de 2022
O BRASIL (NÃO) É PARA AMADORES - e algumas coisadas curiosas
quinta-feira, 23 de junho de 2022
BREVIDADES ACERCA DE PRECONCEITO E SOLIDARIEDADE
" Grândola, Vila Morena/ Terra da fraternidade/ O povo é quem mais ordena/ Dentro de ti, ó cidade (...) Em cada esquina um amigo/ Em cada rosto igualdade/ Grândola, Vila Morena/ Terra da fraternidade" - José Afonso
Antes de construirem a auto estrada/ rodovia que liga diretamente Lisboa ao Algarve, Grândola era sempre paragam obrigatória com direito a esticar as pernsa e brincar debaixo dum sol escaldante de Verão. onde os brinquedos municipais eram feitos de chapa de aluminio. No Brasil também já vi! Uma desinteligência planetária comum duma época. Podemos assim rir das nossas desinteligências juntes ao invés de rir do "outro"com escárnio e alguma arrogância.
Estamos, acredito, em 1977. Três anos antes a música " Grândola Vila Morena" é passada na rádio na madrugada de 24 para 25 de Abril para que o Movimento das Forças Armadas avance e realize com sucesso um Golpe de Estado que colocaria fim ao fascismo de 48 anos e ao colonialismo de séculos. José Afonso foi um poeta, músico, compositor português que simboliza as lutas anti fascistas e anti colonialistas. Não sei se ele hoje voltaria a cantar que "veio da mata o homem novo do MPLA". Mas acredito que continuaria a cantar: " colonialismo não passará! Imperialismo não passará!".
Pronto aqui temos um resistente português que esteve ao lado do povo negro africano que foi censurado, inibido de exercer a profissão de professor pelo regime fascista português e perseguido pela PIDE ( Polícia Internacional e de Defesa do Estado). Como ele outros e outras. É claro que as pessoas que estavam informadas, despertas e que ousavam questionar e se opor ao regime era uma infima parte. Talvez ainda seja. Primeiro que tudo o medo e a alienação são os principais motivos das pessoas aceitarem e se resignarem com a opressão.
É compreensível que as pessoas sintam medo quando as consequências são nefastas. O que é para mim incompreensivel e díficil de digerir é quando as pessoas já estão informadas ou gozam de fontes de informação várias, internet por exemplo, vivem em liberdade, pelo menos aparente, e escolhem a alienação e reproduzir lugares comuns, assim como se acobardam na hora da solidariedade e vão pelas uniões por conveniência individualista, onde o que importa é serem vistas como bem sucedidas, mesmo que aparentemente, e com o status que possa surgir daí.
A alienação é um estado de espirito de não sabermos de facto quem somos e o que viemos aqui fazer. Uma desintegração de nós mesmos, logo uma desunião com o Todo, com o coletivo que engloba a Humanidade e o planeta com todos o que nele habitam.
Nestas viagens de carro dumas 7 horas por aí, hoje é metade, eu parecia o Burro do Shrek: " Já chegámos? Já chegamos?". Uma ladainha logo que saímos de casa em cima da ponte 25 de Abril!!! Porém, hoje ainda continuo a perguntar em relação à liberdade, à consciência expandida em tempos de avanços, retrocessos e outra vez avanços e depois retrocessos: " Já chegámos? Já chegamos?". Depois respondo para mim mesma que é mais importante viver o tempo presente e estar no tempo presente do que ansiar em chegar a algum lugar. A chegada é no aqui agora onde nos relacionamos sem preconceito e com a solidariedae que está ao nosso alcance.
A Piu
Brasil, 23/06/2022
terça-feira, 21 de junho de 2022
MESMO ASSIM ANTES ERA MELHOR... (?!...)
Esta boneca de pernas longas para fazer pliês, demi pliês, alengês, pirrouettes já a adquiri no Brasil. Estava dentro duma caixa de brinquedos num bazar e piscou o olho para mim. Tirei-a do meio daquela molhada de brinquedos de plástico e borracha e abracei-a. Então, segredei-lhe ao ouvido: " Para onde eu for tu vais comigo." Também lhe pisquei o olho.
Naqueles anos que estive com o meu ex companheiro angolano, pai da nossa filha, tive a oportunidade de conviver de perto com a sua família e algumas pessoas angolanas que frequentavam a casa da mesma. Um dia, numa noite portuguesa e fria de Natal , quando o pessoal já estava um tanto regado assisti a uma discussão que além de me assustar entristeceu. Encontravamos-nos, penso que no nono andar onde havia uma varanda aberta. Alguém que era do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) começou a discutir com alguém que era da UNITA ( União Nacional para a Independência Total de Angola) . Aparentemente eram amigos... Num instante percebi que não e que no calor da discussão algum poderia levantar voo em queda livre desde a varanda até ao meio da rua.Ali já não era o Tuga branco que era o inimigo. Eram dois angolanos negros que provavelmente lutaram pela Independência de Angola. Irmão lutando contra irmão. Dois oprimidos oprimindo-se entre si.
Em alguns encontros familiares eu também escutava da minha sogra, que pertencia ao MPLA e seus amigos, que mesmo assim na época dos portugueses era melhor... Isso também me entristecia. Significava que agora estava péssimo, mesmo tendo sido oprimido e escravizado pela colonização portuguesa até 1974..
Ufa, ufa. Até ao próximo texto que falaremos dos tugas que foram rompendo com o colonialismo e o racismo.
Eu gosto desta boneca como ela é, mas ainda vou vesti-la como uma Bessangana, uma grande dama de trajes de pano.
Beijucas!
O VIETNAM PORTUGUÊS
Esta boneca, a quem chamei de Maria Canela, foi dos presentes mais bonitos que recebemos quando a minha filha mais velha nasceu. Foi oferecido por uma amiga da minha tia, que é branca. Uma informação com alguma importância para o irei escrever a seguir.Seria excelente já não termos que falar de questões de gênero e raça. Infelizmente ainda é necessário para que novas formas de nós enxergarmos e nos relacionarmos aconteçam efetivamente.
No caso desta filha ela também tem sangue indígena, além do peninsular ibérico. Por ora falarei das origens da sua irmã mais nova e o breve convívio que tive com a sua família paterna angolana e negra. Talvez hajam pessoas que se relacionam com as outras por puro exotismo e curiosidade em saber se as pessoas se envolvem da mesma maneira na Gronelandia ou nas ilhas do Pacífico. Enfim, cada um e uma e ume terá o seu grau de consciência acerca da sua objetificação e objetificação d@ outr@ e exotização d@ outr@.
Afirmar que existe algum povo que esteja totalmente isento de racismo e xenofobia seria uma falácia da minha parte. Talvez existam e eu faço questão de conhecer. Provavelmente os povos indígenas cuja missão é disponibilizar a cura espiritual através das cantorias e medicinas da floresta de outros que não os seus parentes.
Hoje início uma temática que para mim ainda é cara e ainda está envolta de silêncio, trauma, equívocos, tomadas de consciência, encontros e desencontros.
Portugal foi dos últimos países na Europa nesse complexo processo de descolonização. Entre 1961 e 74 Portugal esteve em guerra com as ex colônias africanas. Guiné Bissau, Angola, Moçambique foram os principais palcos de guerra onde morreram milhares e milhares de parte a parte, não falando dos que voltaram amputados física e psicologicamente. A geração do meu pai viu a juventude roubada, saqueada por um regime fascista que obviamente censurava quem se opunha, perseguia e prendia os desertores que conseguia achar e autoritariamente manda jovens rapazes para defenderem um território invadido, subjugado, escravizado durante séculos. Ninguém se beneficiava com as colônias a não ser a oligarquia portuguesa. A MAIORIA DO POVO PORTUGUÊS VIVIA NO LIMIAR DA MISÉRIA. Os mesmos que eram carne para canhão.
No meu ponto de vista um anti fascista que se preze saberá ou tentará informar-se que outros anti fascistas e anti colonialistas existirão dentryduma mesma nação. Quem achar que os alemães são todos nazis ou que todos os portugueses são todos colonialistas é reacionário. Pronto, há que dize-lo com frontalidade e todas as letras. Da resistência não reza muito a história, porque não convém. Então teremos que conversar mais uns com os outros transitando generosamente entre o lugar de escuta e de fala.
Afortunadamente o meu pai não foi convocado para a guerra. Mas muitas crianças da minha geração tiverem que conviver com ex combatentes que surtavam a meio da noite com os pesadelos ou surtavam "simplesmente acordados" durante o dia e a família tinha que abrir fuga até se acalmarem.
Convivi intimamente com o pai da minha segunda filha que foi ex combatentes da guerra civil angolana nos anos a seguir à independência. Irmão matando irmão... Depois desertou para Portugal e só voltou a Angola quando já tinha a garantia que não seria julgado em tribunal militar por ter desertado.O mesmo que dizia e diz que existem mais armas do que brinquedos em Angola.
Ufa, até ao próximo texto sobre a questão.
Vida longa, leve e alegria no coração a tod@s nós é o que eu desejo.
A Piu
Brasil, 21/06/2022
domingo, 19 de junho de 2022
O QUE ESTÁ AQUI E PARA LÁ DA LINHA DO HORIZONTE?
sexta-feira, 17 de junho de 2022
LUGARES DE FALA E ESCUTA
Das coisas que considero mais ,mais mesmo mais, importantes na vida é a realmente sair da casca. Qual a mulher que nunca escutou quando É ela mesma ou tenta SER:" 'Tás muito saidinha da casca!" Pois é, quem quer virar uma omelete no prato de alguém com um fiozinho de vinagre balsâmico a serpentear a dita com uma folhinha de manjericão a dar aquele toque ulálá? EU TAMBÉM NÃO!
quinta-feira, 16 de junho de 2022
BE GOOD, PIU
terça-feira, 14 de junho de 2022
AS VARIAÇÕES DO SANTO (?) ANTÓNIO
Hoje é dia de Santo António, padroeiro da cidade de Lisboa para onde o Variações, que também era António, filho de camponeses, foi viver ao sair da santa terrinha no Minho. A Lisboa de hoje não é a mesma que o António Variações conheceu desde os anos 50, quando migrou com 12 anos com o quarto ano de escolaridade para trabalhar, até ao inicio dos anos 80. Porém, Lisboa sempre nos lembra em algum momento o seu provincianismo, a sua pequenez com mania das grandezas. Coisas que os povos teem... O português é assim, como haverão outros iguais, mas também tem coisas fixes. E parece-me que mesmo assim é mais importante focarmos nas coisas fixes e nas menos fixes fazermos a diferença ou pelo menos tentar. O Variações fez a diferença. OLÉLÉ SE FEZ! O próprio dizia que não era ele que tinha que se adaptar a Lisboa e sim Lisboa teria de se adaptar a ele.
segunda-feira, 13 de junho de 2022
UMA MULHER QUE FEZ O QUE TINHA QUE FAZER
É óbvio,ou quase óbvio porque o que é óbvio para uns não é para outros, que o grande feito da vida da pintora Paula Rego não foi ter sido condecorada pela rainha da Inglaterra ou pelo presidente da República portuguesa. O grande feito estava na sua obra em si, no seu trabalho dedicado, continuo e irreverente. Sim, ser condecorada por uma realeza britânica de estuturas tão conservadoras e rigidas, onde não há quase lugar para relações de amor e sim contratos de conveniência protocolar onde o feminino está ao serviço das regras, significa que mesmo a esses ela consegue tocar a alma, a sensibilidade. Reconhecer a obra desta artista ainda em vida é dar sinais que mesmo assim os tempos são de mudança. O mesmo se aplica ao governo português que goza duma jovem democracia de 48 anos. Nem todos os governos deste país iriam condecorar a Paula Rego. Ela toca em assuntos muito delicados e polémicos, tal como o aborto e a violência contra a mulher. Para muitos conservadores e fascistas ela é uma desnaturada, uma ofensa pública.
Por outro lado não dá para negar que ela vem dum seio familiar privilegiado, atipico dum Portugal da época em que nasceu. Nos idos anos 30 a maioria da população portuguesa passava fome e frio sem condições básicas e saneamento básico assegurado. Que bom que o seu pai era republicano e anti fascista e teve visão e condições para a mandar para Londres para estudar, depois desta ter passado pelo Colégio Inglês em Portugal. Foi um serviço à Humanidade que este senhor fez e que a sua filha deu continuidade, mas ao conhecer a vida da Paula tomamos conhecimento que esta também foi vitima de machismo. Pronto, mas fez a sua parte sem se preocupar em agradar a gregos e a troianos e sim expressar o que lhe ia na alma com um sarcasmo "infantil', cruel e pueril. Para mim era isso que ainda dava mais graça aoo seu trabalho e ouvi-la falar era desconcertantemente delicioso.
Paula Rego (Lisboa, 28 de janeiro de 1935/ Londres, 8 de junho de 2022)
A Piu
Br, 13/06/2022
AI SI IU. IU SI MI?
Era uma vez um homem, por acaso era aquele mas existiam outros semelhantes, que ainda não tinha descoberto o que realmente era o Amor. Amar. Amar-se para poder amar e ser amado. Nesse aspecto ele não seria muito diferente de muitos outros seres humanos e humanas.
Um dia uma mulher apareceu inusitadamente na vida dele e ele na dela. Nadela seria um nome lindo e até pontual para dar aquela mulher. Nadela ficava na dela a observar. Um dia disse-lhe, ao homem sem sequer o conhecer pessoalmente: " Tu és especial. E olha, estar com alguém, entregar-se a alguém não é uma competição, uma corrida de mil metros ou uma maratona cá pessoa volta a coxear, com os bofes de fora a transpirar por todos os lados mas digna de subir ao pódio, se ainda tiver forças, para receber a medalha de ouro ao som do seu hino nacional. Quem é para se encontrar e ficar junto acontecerá."
Não se sabe ao certo o que o homem entendeu ou quis entender. Nadela durante anos pensava todos os dias naquele homem, sem excepção. Por vezes alegrava-se outras encolhiam os ombros. Pensava:" "Esse aí não é mau homem. Só precisa de ser menos inseguro, não projetar as suas "safadezas" nas mulheres achando que estás não são dignas de confiança. Talvez um destes dias ele confirme que ser jovem, gostoso não dura para sempre. Ou será que dura?" Nadela imaginou o homem com a barba toda branquinha tipo papai Noel e um cabelo comprido com estilo e com a madureza de entender que ela sempre o amara mesmo não o conhecendo pessoalmente. Isso muito depois do homem solicitar, implorar(?) romances à comunidade feminina. Nadela diria com carinho na certeza que ele é um homem inteligente e sensível, mas que nesse aspecto ele precisava de se atualizar. Nenhuma jovial mulher madura cairia nesse babado. Ele era mais do qie assumir o papel de homem carente metralhadora, que atirava para todos os lados. Talvez tivesse "sorte", mas temporária. Nadela sabia intimamente que não era nada disso que o homem procurava para ser feliz. Outra coisa seria abrir mão dos privilégios do patriarcado em que além de ser homem era branco. Se tinha passando vestibular, se se formara num curso tão bonito porque criativo e era reconhecido pelo seu trabalho qual a dificuldade de desaprender a lógica patriarcal?
Um dia Nadela visitou a sucapa, na calada duma tarde quieta, uma obra sua exposta. Uma almofada preta da sua solidão e outras solidões. Nadela ficou um pouco triste. Gostaria de saber que o homem sabia lidar com as suas emoções, sentimentos e solidões. Um trabalho bem mais desafiador que passar num vestibular para passar numa universidade conceituada.
Nadela quase quase tinha a certeza que o homem com quem nunca falara pessoalmente em algum momento permitir-se-ia largar a pose social da gostosura safadinha e mergulhar na plenitude de si mesmo. Nadela ficava na dela e aguardava novos sinais de fumaça da sua fogueira interior, criativa, amorosa e igualitária para com as mulheres. Aí o poder da sincronicidade de acontecimentos e encontros seria surpreendentemente fascinante. Será que teria de esperar que a sua barba ficasse toda branquinha ou seria antes?
A Piu
Br, 12/06/2022