Maria Rosária, Bia, nasceu em Colos do Alentejo, concelho de Odemira, distrito de Beja a 17 de janeiro de 1947. Em 1949 migra com os seus pais e irmã mais nova para Abóboda, concelho de Cascais, distrito de Lisboa. Frequenta a escola pública durante os ano 50 tendo pesados confrontos, hoje considerado desobediência cívil, com a sua professora primária por não vender as flores do jardim da escola aos seus pais de origem humilde para arrecadação de fundos, sabe-se lá se para a escola se para a professora. Recusar-se a cuidar do jardim da escola para poder brincar no recreio quando os inspectores dessa época de regime fascista visitavam a escola, sendo que as crianças eram proibidas de brincar no recreio no resto dos dias. As represálias da professora era castigar e puxar as suas longas tranças, mas não ela não cedia.
Nos anos 60 faz o curso de datilografia e passa a trabalhar como funcionária pública nos CTT, Correios de Portugal. Como era comum, e ainda é, o salário de uma mulher era mais baixo que o do homem para a mesma função. Casou-se com o meu pai a 9 de Setembro de 1969. Ambos ascendaram à condição de pequeno burgueses, trabalhadores e contribuintes dos seus impostos. Já depois do 25 de Abril de 1974, revolução dos cravos para acabar com o fascismo e a guerra em África, ela dizia: " Para quê votar, se são eles que decidem por nós?". Faleceu a 11 de Janeiro de 1985 por negligência médica. Se fosse viva, agora estaria aposentada/ reformada e teria esse retorno da contribuições fiscais. Coisa que não acontece com a maioria dos artistas, como eu, que me mesmo pagando impostos e segurança social nos anos que vivi e trabalhei em Portugal a recibos verdes/ nota fiscal temos direito.
Este é um dos pontos nevrálgicos da questão! Não diria que a minha compreensão seja linear, lerda e lenta. Lenta até pode ser, mas é dialética. Primeiro vazio, depois estupefacção, de seguida interrogação, depois eventual revolta, irritação vá, depois meditação ( eu sei que esta deveria vir em primeiro lugar!!! Estou a aprender), depois compreensão que existe uma narrativa oficial comum desde a pessoa que levanta a bandeira dos trabalhadores ou dos coxinhas, processamento de toda essa informação, depois estratégias para me apaziguar e decidir escrever uma série de textos para honrar as minhas raízes para chegar a quem é preciso chegar, pois eu não tenho queda para ser influenciadora digital para massas, há quem o faça muito melhor.
Essa do sistema de segurança social em Portugal existir por conta do saque ao Brasil, assim como a Revolução Industrial (?!?!?!?) ter sido feito perlo mesmo saque SÃO DUAS MENTIRAS REDONDAS, CABELUDAS, IGNORANTES, INSULTUOSAS. Primeiro: nem a coroa portuguesa que saiu daqui há 200 anos investia no seu país, os saques era para uma oligarquia, onde já vai esse lucro depois de 200 anos?!?!?, tampouco o regime fascista investiu no país em prole dos trabalhadores, segundo não houve revolução industrial significativa em Portugal , o país sempre se manteve rural e miserável até 1974, terceiro as conquistas dos trabalhadores são sindicais, quarto uma artista, só para dar um ralo exemplo, em resposta ao meu pedido de ajuda para entrar no mercado de trabalho brasileiro, nem que sejam dicas, responde: " Porque você não volta para Portugal? Lá pode viver da ajuda do Estado." Esta resposta desconstroi a ideia que todos os brasileiros são acolhedores, revela uma ideia equivocada acerca da condição trabalhista dum artista em plena crise financeira e de desemprego e posterior a isso, assim como levanta a interrogação: " Que eleitorado dito de esquerda é este que além de desconhecer o lema o " povos do mundo inteiro uni-vos" não é solidário?"
Cada vez dou mais razão a essa frase da minha mãe que partiu tão cedo, acrecentando ainda:" Para quê votar se não me informo, não me questiono, não me solidarizo, não desobedeço às narrativas oficiais promovidas pelo topo da pirâmideem que as pessoas engolem tudinhos e acham que estão super informadas só porque passaram por uma universidade e até votam a favor dos trabalhadores, mas na hora do vamos ver é cada um por si."
PARABÉNS, BIA! Onde estiveres que esteja em paz! Não vai ficar mais nada entalado na garganta. Se existirem outras vidas espero-te encontrar e voltar a colher lirios do campo, a fazer bolos e já agora ensinas-me a tricotar e a bordar que essa parte eu não sei. A tua neta Flor sabe tricotar, peço a ela. Foste tu que a ensinaste em sonho? Sei que me ensinaste muitas coisas, umas sem ser em sonho e outras sim.
A Piu
Br, 17/01/2021