Tenho algumas, bastantes vá, dúvidas se existem tantas mulheres aí pelo mundo afora que queiram ter um filho com alguém por puro e duro exotismo. Existe de tudo nesta vida, mas escolher ter um bebé é uma decisão para a vida. Muitas relações, não todas, acontecem por variadissimas razões armadilhadas pelo ego: conveniência, ilusão, status, urgência de sair duma condição, o tal do exotismo - que é um vinculo que se estabelece a partir duma ótica externa, duma ideia com fortes probabilidades de não ser de igual para igual.
No meu ponto de vista, a partir da minha experiência logo haverão outras perspectivas, uma criança tampouco uma relação é uma bandeira, um tema de vitrine virtual seja lá porque motivos for. Tipo: agora estamos muitos felizes e somos as pessoas com a relação mais isto e aquilo e vai de expor a intimidade ao extremo: deixa ver o que eu já vi.... a cama onde dormem e fazem outras coisas, o momento antes de irem fazer outras coisas a comunidade virtual ser avisada. Eh pá... Não sei...Mas isto é para mim! Eu sinto-me um pouco da velha guarda. Intimidade vem da palavra intimo que é outra coisa de público. Intimista significa algo mais próximo que não para as massas e grandes audiências que não nos conhecem pessoalmente ou conhecem mas não teem nada de nada a ver com a nossa vida privada. Isso também se aplica aos burgujus ( perrengues, confusões na giria de Luanda). Se uma relação vai sobre rodas: Boa! Boa! Se a coisa está a descambar existem infinitas possibilidades: conversarem, escutarem-se, decidirem que encontram-se numa bifurcação de olhares, interesses, desejos, circunstâncias de vida que cada um precisa de ir cada um para seu lado. Ou cair fora duma forma como quem não quer a coisa, tipo: se correr o bixo pega, se ficar o bixo morde. Agora fazer da nossa vida uma telenovela nas redes eu considero uma exposição desnecessária. Já celebrar encontros, parcerias ou denunciar, como quem pede ajuda, relações abusivas em que uma das partes não entende que é mais tempo que parar as redes sociais pode ser um caminho.
Coloco esta foto, que tem 16 anos, com um homem negro, pai da minha filha mais eu ao lado bronzeada pelo Verão mediterânico. A relação intima há muito que acabou, contudo eu continuo a reconhecer o fundo deste sujeito que nasceu em 1971, dois anos antes de mim. Ele em Luanda/ Angola e eu em Lisboa/ Portugal. Ele um homem negro que nasce já às portas da Independencia de Angola para com Portugal, com estes dois países em guerra desde 61, para depois de seguida entrar em 75 em guerra cívil até meados dos anos 90. Este homem é um combatente de guerra, com certeza um traumatizado. Um doidivanas com um coração doce ferido que com certeza sabe qual o valor da vida de outras pessoas porque viu muitas vitimas mortais duma guerra estúpida, como todas, promovidas por impérios caducos e potências ganaciosas de deter o poder planetário. Não é O Homem feminista, mas é um homem que não teve o previlégio de nascer e crescer numa sociedade onde paz estava assegurada, tampouco a democracia. É um homem negro que conheci em Portugal e bem sabemos que o racismo, a exploração do trabalho e o ranço quinhentista de mau perdedor ainda está presente no pais no qual eu nasci e cresci. Isto não significa que todos os portugueses e portuguesas sejam crápulas. Sincera e honestamente: eu sinto muito mais empatia por um angolano, moçambicano, cabo verdiano, guineense, de São Tomé que se encontram em Portugal e nos países europeus doque de um brasileiro descendente de europeus que além de não reconhecer os seus previlégios no Brasil e achar que é um colonizado como um negro e um indigena, mesmo sendo descendente destes, não conhece as lutas de resistência anti fascistas, trabalhistas, assim como solidariedade e resistência às lutas independentistas africanas em Portugal no particular e na Europa no geral. Acredito que se você é brasileir@ e chegou até aqui com certeza já conhece ou quer conhecer essas lutas de solidariedades portuguesas e europeias para honrar os seus, os nossos ancestrais que estão do outro lado da barricada. Conhecer o outro lado da História com sujeitos históricos próximos a nós ou não tira-nos da igorância, do preconceito, do obscurantismo e de posturas injustas que achamos que são muito corretas em nome de ideologias e ismos exteriores à importância da dignidade da vida de cada um de nós com as inúmeras circunstâncias em que nascemos e crescemos. Se assim for, estamos juntes. A magia da empatia acontece.
Em breve escreverei sobre a diferença entre previlégio e oportunidades e colorismo.
Beijus e abraçus!
A Piu
09/11/2021
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