sexta-feira, 26 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XIV


Hoje sonhei que a Janis Joplin oferecia-me um disco, um LP, dela. Ela, em pessoa! Na minha frente! Sendo que esta faleceu 3 anos antes de eu nascer. Depois é que eu via que ela não tinha autografado! Como eu tinha perdido uma oportunidade dessas?!?! Espera aí! Não era disto que eu queria falar e sim começar por esta foto que faz parte da série " Quem nunca?". Como eu sou muito moderna, apesar de ser do tempo do telefone fixo, que em Portugal não era o preço dum carro ou imóvel como aqui no Brasil, coloquei um filtro azul cool nesta foto que tem uns 20 anos na " minha" querida Lisabonne, Lisbone, Lisbon. Na época em que se assemelhava à decadência do património arquitetónico e de Havana como alguém em Madrid certa vez comparou. Nesta época Lisboa já se estava a tornar um lugar da moda, mas ainda não tinha sofrido aquele processo de gentrificação como acontecera em Paris, Praha, Amsterdam, Berlim. 

"Oh lord , won't you buy me a color TV? Dialing for Dollars'is trying to find me. I wait for delivery each day until three. So lord win't you buy me a color TV?"

Voltei. Cantar Joplin desanuvia o fígado, deixa o astral mais up. Também para dizer que não preciso de TV e jornais para saber como vai o mundo, além de correr o risco de alienação ainda posso achar que estou muito informada e preciso de avisar os outros do que o que eu ouvi no noticiário da noite ou do meio dia e ficar muito desiludida quando as notícias são cânticos da sereia e eu só entendo passado muito tempo. Por exemplo, aqui no Brasil numa época: ouvi dizer que é bom demais viver em Portugal. Bora para todos para Portugal! Acho que até foi o Ratinho que disse no lembro entre uma noticia do assalto a um banco e um crime passional qualificado. 

Vai daí lá vamos nós todes para um lugar onde não criamos afinidade com o povo desse lugar tampouco com os desafios da sua sobrevivência. Posto lá! Zás. Só falo mal do lugar! Mas aqui tem uma dialética: primeiro posto fotos dum deslumbramento sem precedentes, depois começo a viver o dia a dia do que é ser-se estrangeiro, depois começo a azedar por motivos vários e a cobrar a mídia que me enganou, ao povo que não é assim tão acolhedor como eu gostaria que fosse e por aí. Se encontrar pessoas da minha nacionalidade crio um clube onde só falo mal daquele país, ao invés de ir ao encontro de pessoas fora da minha bolha que não legitimem a minha ingratidão, apesar de todos os desafios encontrados.

Olhem, isso é o mesmo que eu agora em 2021 dizer assim: O Brasil enganou-me! Eu cheguei aqui em 2012 a achar que só encontrar camaradas e amigos trabalhadores como eu e que me iriam enxergar como uma trabalhadora da cultura  e estudiosa e vivi algumas roubadas e entretanto ainda votaram no Coiso!!! Gilberto Gil!!! Help me!!!!! Daí amuo com o Brasil, com o povo brasileiro e passo a vida a falar destes sem olhar e agradecer todas as coisas fixe bacanas que me aconteceram e acontecem aqui. Logo pergunto: o que o Brasil me deve se eu não estou feliz nesse lugar? O que Portugal deve a um brasileiro ou brasileira que não está feliz em Portugal? O que Portugal me deve? Chego à conclusão que nada. Não me sinto satisfeita, não encontro motivo de alegria vazo/ bazo. Dou o fora. Espera aí! Eu acho que até Portugal me deve, nos deve a nós trabalhadores em Portugal, mas não espero nada! Durante os anos que vivi e trabalhei em Portugal paguei impostos, segurança social, uma dívida que durante os primeiros cinco anos aqui no Brasil liquidei e nunca tive nem tenho direito a nada. Então, car@ migrante brasileir@, viver em Portugal é o desafio como em todo o lugar, umas vezes mais fáceis outras não, não venha é cobrar a Portugal e aos seus trabalhadores, muitos deles desempregados ou com empregos precários, a sua desilusão. Fica a dica: não acredite em tudo o que passa na mídia e fale com as pessoas que lá vivem, se possível flerte, namore com o país antes de tomar a decisão de mudar. Ah! E gratidão por instituições portuguesas ou brasileiras nos apoiarem na hora do aperto, por sermos mulheres, mães solo é fundamental. Não se gosta do resto, agradecemos e retiramo-nos.

A foto aí é daquelas tentativas de criar um book para agência de cinema, publicidade e tv. Mas eu sou mesmo do teatro, pá, do trabalho artesanal, autoral, coletivo onde a expressão é mais importante que o produto comerciável. Para mim estar bem num lugar é estar ao serviço do bem comum, da comunidade com o meu trabalho. Isso constrói-se, não é dum dia para o outro.

Beijos e abraços!  Até ao próximo texto!

A Piu

Br, 26/11/2021

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