quarta-feira, 3 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - V


HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - V
Há sempre uma ou outra história na manga sobre conceitos, preconceitos, ideias pre concebidas desfazadas e desconhecimento total acerca da realidade alheia. " Como é que vocês é se locomovem em Portugal? Existem carros? Andam de carroça?" Pergunta na cidade das luzes e neons o monsieur le mec, o senhor rapaz, nativo da la republique francé. Como ainda não se vivia o virtual com as suas reuniões não sei ao certo se a minha expressão voltou à cara de c... U... ou se 'ozolhos' ficaram simplesmente esbugalhado, feito farois de bicicleta em noites de lua nova. Mas à medida que vou tendo a pedalada do viver vou recolhendo o meu repertório. Ah poizé! Naquele momento achei que o sujeito já na reta final do século XX estivesse a fazer piada... Sim, porque apesar de tudo a distância de Paris até Lisboa são de duas horas e meia por aí de voo. Ok, estamos do outro lado da montanha, dos Pirineus, mas nem é do outro lado do mundo para exotizar a esse ponto a modos que parece que fala com uma menina selvagem. Eu quero ser uma menina selvagem num país como o meu que ainda é beato aqui e ali e cheira a mofo em algumas situações e instituições assim como mentalidades, mas não somos todos iguais e apesar de tudo a consciência de classe e distintas mentalidades é importante. Logo, conhecer o povo português, apesar de ser um território pequeno, é saber que nem todos fazem parte da burguesia, que uns são pequeno burgueses, que outros são novos ricos trabalhadores ou investidores, outros latifundiários e que o termo elite burguesa aplica-se que nem uma luva num país de fortes desigualdades como o Brasil ou Angola ou outro país com muitos recursos extrativistas nas mãos de alguns. Ah e Portugal não é primeiro mundo e sim o tal do país em via de desenvolvimento.... Isso ainda é um outro texto.
Assim sendo tenho umas na manga que podem usar quando forem peg@s de surpresa. Lá vai esta: " Sim, nós em Portugal ainda andamos de carroça puxada a burro,porque os cavalos são para os ricos, e nós mulherers, coitadinhas, andamos de lenço preto na cabeça e todos dias, todos os dias mesmo, fazemos uma peregrinação à praia de carroça e choramos muito, mas muito mesmo que nem carpideiras, em frente ao mar. Porquê? Porque não encontramos a chave do cinto de castidade no meio da areia ou quiçá os navegadores, em busca de outras terras e outras amantes, levaram.
Este postal foi uma amiga que me enviou da Dinamarca. Eu já a visitei e nessa ocasião estive com o lendário grupo Odin Teatret uma semana inteirinha. Um senhor francês que com quase toda a certeza tinha fotografado o Maio de 68, mas de longe! Não se deve ter misturado com as inúmeras pessoas de distintas nacionalidades, caso contrário não perguntaria na minha frente, a propósito de nada, a um dos atores do Odin que nacionalidade eu parecia ter. Esse ator, um sixtie da velha guarda respondeu que talvez eu fosse dinamarquesa sem acrescentar nenhuma opinião. O franciu que também fora um sixtie mas muito provavelmente de gabinete diz assim: 'É, ela é portuguesa! Nem parece! Mas estes jovens de agora são totalmente despolitizados." Eu e esse ator ficamos os dois com a tal cara de c... U... Fiquei na dúvida se deveria ficar lisonjeada dele me chamar jovem visto eu ter quase 40 anos, não entendi se era um elogio eu nem passar por portuguesa, mas ele fez questão de tentar me diminuir, principlamente sem me conhecer de lugar nenhuma a não ser daquele encontro de trabalho. Enfim... Um clássico, entre a xenofobia, o machismo e o euro centrismo ( no caso). Um francês não conhecer a história de Portugal minimamente é estranho, mas uma pessoa brasileira de origens portuguesas também ter na bagagem ideias distorcidas, que correm o risco de serem reacionárias justamente por esse desconhecimento, sobre as suas raízes também dá que pensar os porquês. Até ao texto sexto sobre o tema!
Beijus e abraçus! Ô reboire chérris!
A Piu
Br, 03/11/2021

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