domingo, 28 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XV

 




Mais umas tantas  fotos, em prova de contacto, da série "quem nunca?", no inicio deste milénico que entrou na virada do século. Da esquerda para a direita: Anita com a sua Mogli; Anta fotogenia do seu jeito maneira; Anita " com o meu vestido preto eu nunca me comprometo" como dizia a atriz de revista Ivone Silva numa rábula; Anita segurando o queixo e encarando a câmera com o seu camiseiro casual; Anita olhando a sua Mogli; a sua Mogli com penteado de avelã; Anita e a foto clássica para capa de disco de free jazz, improvisasion voice numa fusão com fado contemporâneo; Anita sempre Anita; Mogli que entretanto cresceu.

Pronto, mais uma tentativa de book para agências. Com esta série quem foi chamada foi a Mogli, a cria da Anita, para fazer figuração num filme. Como a Anita continuou a trabalhar com teatro quem a levou às filmagens foi o seu companheiro da época, padrasto da Mogli. Quando voltaram para casa Anita ficou impressionadissima com os relatos do set e do modo como trataram as crianças que fariam parte da figuração. Horas na rua ao frio, pois era um exterior à porta duma escola, nenhum lugar para as crianças descansarem e comerem. Bom,  a experiência da Mogli ficou por ali, não contando que a agência nunca pagou os míseros 50 euros. Enfim, vivendo e aprendendo. Para encher os bolsos aos outros assim o melhor é trabalharmos para nós. Ainda terei um a câmera e farei os meus filmes com roteiros que eu escolher e/ou escrever. E caso chame uma equipe esta terá que ter a sua retribuição e valoriozação, seja esta qual for. Valorizar o trabalho alhei é um principio básico. Achar que a outra pessoa não precisa, pode oferecer o seu trabalho voluntariamente porque ainda está a ter uma oportunidade.... Uma falácia. É o lado cinico da exploração.

O que me pega realmente são as insolidariedades, desolidariedades, asolidariedades. Estas podem assumir vários contornos e estão muito em voga nesta lógica neo liberal e meritocrata. Mas o que é para mim -  sim para mim pois não posso falar em nome dos outros e falo  a partir das minhas vivências práticas, que de teorias está o mundo cheio - é curioso perguntarmos para alguém ou para várias pessoas onde estava a solidariedade para com os trabalhadores portugueses até 2017/2018, o que se conhecia dos seus desafios e lutas para sobreviver à Troika e ao desemprego? Onde  estava e está a solidariedade da classe artistica? Porque a classe artistica nem sempre se une e perde tempo com rivalidadezinhas, disputas de ego mesmo aparentando muito "só amor"? Daí, do outro lado não vem nenhuma resposta... Ou vem uma percepção distorcida da pergunta: " Ah! Sua branca! Sua previligiada! Sua invejosa! Sua mulherzinha! Sua isto! Sua aquilo!" Enfim, eu já escutei isto duma mulher brasileira que me fez revisitar uma relação abusiva com o pai desta minha Mogli aqui. Exatamente o mesmo discurso! Ufa! Eu quero para nossa vida amizade e amor. Nem todos precisamos de ser amig@s, mas pelo menos respeitos@s e amistos@s.

Concluindo, espero que esta minha filha como a outra que são mistura de pessoas com diferentes pigmentações nunca ataquem outras mulheres com esse tipo de argumentação. A mamã, aqui, agradece profundamente. Assim como se posicionem com inteligência emocional quando alguém tentar pisá-las. 
Só espero que quando esta pandemia finalizar  os encontros presenciais sejam muito mais leves e luminosos, como tal olhar para as nossas sombras não é só um direito, é um dever. Essa de sermos só luz e apresentarmos-nos como militantes  mas depois a solidariedade não está contemplada é roubada. Ou não é? Se não for avisem-me. Quer ser dona da verdade absoluta não é o meu ofício. 
Numa próxima falaremos sobre comunicação não violenta e a capacidade de pedir perdão e perdoar, dispensando conceitos teóricos do politicamente correto.

A Piu
BR, 28/11/2021

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XIV


Hoje sonhei que a Janis Joplin oferecia-me um disco, um LP, dela. Ela, em pessoa! Na minha frente! Sendo que esta faleceu 3 anos antes de eu nascer. Depois é que eu via que ela não tinha autografado! Como eu tinha perdido uma oportunidade dessas?!?! Espera aí! Não era disto que eu queria falar e sim começar por esta foto que faz parte da série " Quem nunca?". Como eu sou muito moderna, apesar de ser do tempo do telefone fixo, que em Portugal não era o preço dum carro ou imóvel como aqui no Brasil, coloquei um filtro azul cool nesta foto que tem uns 20 anos na " minha" querida Lisabonne, Lisbone, Lisbon. Na época em que se assemelhava à decadência do património arquitetónico e de Havana como alguém em Madrid certa vez comparou. Nesta época Lisboa já se estava a tornar um lugar da moda, mas ainda não tinha sofrido aquele processo de gentrificação como acontecera em Paris, Praha, Amsterdam, Berlim. 

"Oh lord , won't you buy me a color TV? Dialing for Dollars'is trying to find me. I wait for delivery each day until three. So lord win't you buy me a color TV?"

Voltei. Cantar Joplin desanuvia o fígado, deixa o astral mais up. Também para dizer que não preciso de TV e jornais para saber como vai o mundo, além de correr o risco de alienação ainda posso achar que estou muito informada e preciso de avisar os outros do que o que eu ouvi no noticiário da noite ou do meio dia e ficar muito desiludida quando as notícias são cânticos da sereia e eu só entendo passado muito tempo. Por exemplo, aqui no Brasil numa época: ouvi dizer que é bom demais viver em Portugal. Bora para todos para Portugal! Acho que até foi o Ratinho que disse no lembro entre uma noticia do assalto a um banco e um crime passional qualificado. 

Vai daí lá vamos nós todes para um lugar onde não criamos afinidade com o povo desse lugar tampouco com os desafios da sua sobrevivência. Posto lá! Zás. Só falo mal do lugar! Mas aqui tem uma dialética: primeiro posto fotos dum deslumbramento sem precedentes, depois começo a viver o dia a dia do que é ser-se estrangeiro, depois começo a azedar por motivos vários e a cobrar a mídia que me enganou, ao povo que não é assim tão acolhedor como eu gostaria que fosse e por aí. Se encontrar pessoas da minha nacionalidade crio um clube onde só falo mal daquele país, ao invés de ir ao encontro de pessoas fora da minha bolha que não legitimem a minha ingratidão, apesar de todos os desafios encontrados.

Olhem, isso é o mesmo que eu agora em 2021 dizer assim: O Brasil enganou-me! Eu cheguei aqui em 2012 a achar que só encontrar camaradas e amigos trabalhadores como eu e que me iriam enxergar como uma trabalhadora da cultura  e estudiosa e vivi algumas roubadas e entretanto ainda votaram no Coiso!!! Gilberto Gil!!! Help me!!!!! Daí amuo com o Brasil, com o povo brasileiro e passo a vida a falar destes sem olhar e agradecer todas as coisas fixe bacanas que me aconteceram e acontecem aqui. Logo pergunto: o que o Brasil me deve se eu não estou feliz nesse lugar? O que Portugal deve a um brasileiro ou brasileira que não está feliz em Portugal? O que Portugal me deve? Chego à conclusão que nada. Não me sinto satisfeita, não encontro motivo de alegria vazo/ bazo. Dou o fora. Espera aí! Eu acho que até Portugal me deve, nos deve a nós trabalhadores em Portugal, mas não espero nada! Durante os anos que vivi e trabalhei em Portugal paguei impostos, segurança social, uma dívida que durante os primeiros cinco anos aqui no Brasil liquidei e nunca tive nem tenho direito a nada. Então, car@ migrante brasileir@, viver em Portugal é o desafio como em todo o lugar, umas vezes mais fáceis outras não, não venha é cobrar a Portugal e aos seus trabalhadores, muitos deles desempregados ou com empregos precários, a sua desilusão. Fica a dica: não acredite em tudo o que passa na mídia e fale com as pessoas que lá vivem, se possível flerte, namore com o país antes de tomar a decisão de mudar. Ah! E gratidão por instituições portuguesas ou brasileiras nos apoiarem na hora do aperto, por sermos mulheres, mães solo é fundamental. Não se gosta do resto, agradecemos e retiramo-nos.

A foto aí é daquelas tentativas de criar um book para agência de cinema, publicidade e tv. Mas eu sou mesmo do teatro, pá, do trabalho artesanal, autoral, coletivo onde a expressão é mais importante que o produto comerciável. Para mim estar bem num lugar é estar ao serviço do bem comum, da comunidade com o meu trabalho. Isso constrói-se, não é dum dia para o outro.

Beijos e abraços!  Até ao próximo texto!

A Piu

Br, 26/11/2021

terça-feira, 23 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XIII


Dizem que somos lineares, linear eu sei que não sou
Dou uma voltinha com a saia ao som de circuladô de fulô.
- E vai de roda e gira sem parar-
Linearidade é coisa que não existe
aquém e além mar!
A minha filha diz para os amigos
que sou daquelas que decora a casa com uma flor dentro duma bota
Eu riu, mas riu tanto até cair para o lado
Até endireitar-me e ficar outra vez torta
Essa aí sabe-la bem! Sabe-la bem! Sabe-la bem!
Ora pois pois pois! Não fora eu a sua mãe!
Agora a sério! Mas não era a sério? Era a sério, mas não é, mas é. Já dizia o senhor Budha. Há quem diga que Deus escreve por linhas tortas e há que ler nas entrelinhas porque o que enxergamos num primeiro momento pode não significar nada daquilo que achamos. Volto a insistir nestes fluxos migratórios transatlânticos entre Portugal / Brasil, Brasil/ Portugal. A vida é curta e também é comprida e antes que fique alguma coisa para dizer, daqui da avis rara que nem é assim tão avis rara mas não se importa de ser vista como avis rara quando ainda se mantém naquela idade do " mas porquê"?
Intão bora lá! Senhor e senhora cidadã de nacionalidade brasileira - com fortes probabilidades de ter um pai, uma mãe ou um avô e bisavó portuguesa ou do sul da Europa, por exemplo Itália cuja diáspora veio igualmente em navios para fugir da fome e da pobreza e se tornar mão de obra barata no pós abolição da escravatura - qual a ideia que vossa excelência tem acerca de Portugal? O que conhece antes de decidir ir até lá para viver ou passar um tempo, seja em trabalho, estudo ou turismo? Não, por favor não me responda que o Estado Previdência é todo gratuito e O Exemplo do primeiro mundo e vossa excelência por ter nascido no Brasil considera que o Portugal constituido por trabalhadores e impostos deve-lhe alguma coisa. Que agora é a sua vez de ir usufruir do saque que Portugal fez no Brasil. Bom, talvez essa informação distorcida seja resquicio duma educação pedagógica da ditadura miltar, aquela que aconteceu oficialmente entre 64 e 85. Vamos nos descoisar. Combinado?
Também senhor e senhora cidadã brasileira convido a buscar portuguesas e portugueses boa onda e antes de detectar xenofobia e preconceitos de caracteristicas várias devo-lhe informar que essas mesmas mazelas eu já vivi aqui. Então, antes de ir para um outro país, no meu ponto de vista, conhecermos minimamente a sua história pelo menos a do último século ou década e nutrirmos alguma admiração, não pelo lugar e sim pelas pessoas que possam habitar nesse território, é fundamental.
Vou aqui abrir o coração: quando chegou essa moda pós crise de desemprego e financeira em Portugal de levas e levas de brasileiros a irem para um país que estava e está a se levantar passao a passo irritou-me. Porquê? Porque a grande maioria desconhece que nos últimos 15 anos milhares de portugueses não conseguiam nada no seu país e este também não faz assim aquela grande questão de dignificar realmente os seus cidadãos, veja-se as politicas públicas de apoio à cultura, por exemplo. Há 10 anos atrás haviam pessoas que são biólogas a fazer camas em hoteis. Sim, existem portugueses biólogos ou só agora é que as univertsidades portuguesas ganharam status e são muito boas? Eu fiz graduação em antropologia em Lisboa quando cheguei aqui para fazer mestrado era como se não tivesse feito nada e o mais hilário é que por estar nesse departamento de antropologia eu nem atriz palhaça era para algumas figurass da praça conceituada. Em suma, 25 anos de trajetória suspensa no ar por não ser a Madonna e nem me armar em Madonna. Adoro! Vai ter roteiro! Vai ter criação! Quando nós somos, não somos, mas até somos. Ihihih Eu gosto muito do Brasil e dos movimentos artisticos, sociais que aqui acontecem. Logo escrevo justamente nesse lugar de flor dentro da bota. Chuto mas não chuto. Tiro a bota e sacudo com a flor ao que é equivoco recorrente e oficializado. Sinto a terra com os pés. Enraízo-me com o carinho que eu nutro por esta terra de mil povos feita de sujeitos históricos que gostaria que fosse o carinho dos brasileiros que voltam à terra dos seus pais e/ou avós. Se o lugar é tacanho, travado. Eh pá! O mundo grande! Não se consumam num lugar que não vos é confortável. Não queiram é dar lições de moral a todos os portuguese por tudo e por nada. A pessoas honestas e trabalhadoras e algumas mais conhecedoras das culturas no Brasil que muitos brasileiros que nem nunca escutaram de coração um indigena ou um ser humano da periferia.As suas necessidades, as suas lutas, a sua dignidade de serem escutados e vistos sem paternalismo.
Nós portugueses sabemos que somos chatos. A maioria de nós não curte dissimulação. E preciso de avisar de algo que tomem como um gesto de esperança de estreitarmos laços com qualidade: existe um preconceito em relação aos brasileiros... São falsos, não são tranparentes... Na primeira oportunidade vomitam ranço e ódio fruto do preconceito em relação a Portugal e aos portugueses. Chato isso, não? Para mim é. Eu conheço brasileir@s que não são assim, mas a fama rola fora do Brasil... Portugal tem as suas responsabilidades e dívidas históricas, mas vamos com calminha, com mais informação e empatia.
Quanto a nós portuguese... Além de qualidades, que as temos, também somos chat@s, tanto os libertários como os conservadores. Os conservadores que fiquem lá nas suas varandas a comer charutos de couve e deixem os outros em paz. Mas olhem, ter um amigo ou amiga portuguesa quando se tem é para a vida inteira. Amizade para o que der e vier! Podem crer!
A Piu
Campinas SP 23/11/2021
crédito: Amanda Dumont

sábado, 20 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XII




 Coloquei este filtro que se chama " burlesque". Eh pá!... Burlesco, pá! Sempre os francecismos ou anglo saxonismo no virar de cada esquina! Por falar em esquina!,,, Há pouco tempo soube que o sebastianismo foi uma narrativa trazida para o Brasil! Até aqui esperaram que "o Adormecido", " o Desejado" vira-se à esquina e volta-se num dia de nevoeiro!!! Só poderia num dia assim para que qualquer se fizesse passar por ele, como aconteceu. Houve vários D. Sebastiões a voltarem. Um voltou e só falava veneziano e era da Calábria, lá no sul da atual Itália. Não podia falar em português porque corria o risco de lhe limparem o sebo. E foi o que aconteceu, a ele, aos que o apoiaram e aos outros El- Reis Dons Sebastiones quando descobriram que era fraude. Havia uns que juravam a pés juntos a veracidade da Alteza em pessoa depois desta ter desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir em Marrocos, nessa empreitada de expandir o Império Português pelo norte de África e converter os mouros muçulmanos em cristãos. Desta vez a derrota foi fatal. " "Mas o mouro é que conhecia o deserto, detrás para diante e de longe e de perto", como canta o Sérgio Godinho. 

Enfim, esta é um pedacinho muito breve, mas ilustrativo dos meus antepassados históricos da Peninsula Ibérica. Lá está, antepassados não significa a minha linhagem ancestral. Essa vem do povão como a maioria de nós outres. Não tenho memória alguma de ter na famila alguém que tenha comprado um titulo da nobrza ou que estivesse ligado à coroa portuguesa. Coroa.... Deixa ver... Eu já sou coroa! Ihihih " E aí, coroa!  Comé?!" Uma coroa portuguesa que flertou bastantes anos com o Brasil e agora está casada com ele há quase dez anos. Sim, conheço ao vivo e a cores o Brasil desde 1996. Viram como sou coroa! Isto foi no milénio passado. Já faz um tempo. Depois voltei já neste milénio. Durante muito tempo não entendia na integra o fenómeno desse fosso social entre muito ricos e muito pobres. 

Há quem diga que todos os caminhos vão dar a Roma, mas até acho que não. Ou sim? Antes de nós peninsulares ibéricos sermos cristãos eramos várias matrizes desde os celtas, passadno pelos visigodos, vikings, mouros e tantos outros, até chegar o Império Romano. Onde se encontra o território italiano é um dos berços, se não o berço do mercantilismo. E o mercantilismo é avô do neo liberalismo onde a força de trabalho e sua valorização tem escalas. Em alguns casos desvalorizada.

Hoje é dia da Consciência Negra no Brasil. Salvé os seres humanos cujos ancestrais vieram à força em condições desumanas, anti vida, para serem escravos neste imenso território que vai do sul até ao norte das Américas.

Eu gosto, 'tá! eu amo, a imensa diversidade existente no Brasil, o seu povo com a sua criatividade, as suas resistências e re existências. Aprendo muito aqui. Por ora, não troco o  Brasil por Portugal. E não significa que seja tudo rosas. Tem um monte de espinhos pelo caminho, mas tem muitas bananeiras, pés de manga, de pêra abacate. Para mim eleger um lugar para morar a médio, longo prazo demora um tempo. Preciso de sentir o quee admiro realmente naquele lugar mesmo que hajam algumas desilusções, como acontecerá em outros lugares e agardecer. Mesmo assim acredito que uma mulher em qualquer parte do mundo se se apresentar como brasileira sofrerá preconceito e situações desagradáveis por ser vista como um objeto luxuriante ao serviço da lógica de satisfazer o patriarcado e o comércio sexual. Sim, precisa de peito para enfrentar. Já eu quando digo que sou portuguesa, por exemplo na Inglaterra ou outro páis vizinho, perguntam se Portugal é uma provincia da Espanha. Por acaso já foi quando o Sebastião foi embora. Em lugares mais longe nem sabem que Portugal existe e logo passo por polaca, alemã, argentina, francesa, italiana... Enfim. Até no Portugalito isso acontece. Depois eu conto na próxima uns episódios até anedóticos. Ah! Ah! Não sai do seu lugar! 

Quanto a Portugal ser país irmão ou não do Brasil... Nesta altura do campeonato já não sei nada, mas sei que uma mulher brasileira quando é vitima de violência doméstica é acolhida por instituições portuguesas que a apoiam e a protegem. Logo estar agradecida em relação a isso seria tão ou mais interessante do que estar constantemente a criticar Portugal, mesmo que este não seja o paraíso na terra e tenha preconceito para com os brasileiros. Infelizmente. Mas também devo acrescentar que muitos portugueses sempre escutaram MPB e leram Jorge Amado, entre outros, e são alvo de xenofobia ou lusofobia por parte duns tantos brazucas. Isso deixa as pessoas apreensivas e a admiração dilui-se. Eu tenho alguns amigos portugueses que abriram mão dessa admiração. Compreensível. Niguém gosta de ser tratado com desprezo e preconceito.  Do meu lado, dia após dia, admiro mais muitos seres humanos brasileiros. Não todos. Claro. Coisos, seres do tipo do Coiso que não enxerga o outro como igual pode ir  dar uma volta bem grande.

Conheci há uns três dias um filósofo negro brasileiro Renato Noguera que fala sobre o amor, a masculinidade sanada passando por várias culturas de matriz africana, indigena, oriental e ocidental. Muito bom esses encontros que expandem o entendimento de modo a que os encontros sejam leveza e profundos. Só assim os abraços e os beijos fqiuem com gosto de cravos vermelhos fresquinhos e compota de manga madura, docinha que só! Celebrar o encontros como algo especial e raro, parafrasenado o Noguera. Muito bom nitrir isso dentro de nós. Valeu!

A Piu

Campinas SP 20/11/2021

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XI


HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XI
Ainda estou na dúvida onde acaba a série " Honrando as minhas raízes" e começa " Privilégios e oportunidades", porque existem vários pontos de convergência. Terá sido um privéligio ou uma oportunidade em nascer na ex- União Soviética? Melhor escutar com profundidade as pessoas com conhecimento de causa. Da minha parte tive o privilégio de nascer seis meses antes da queda do fascismo e crescer nessa jovem democracia, que apesar de aprendiz tirou o país do obscurantismo e da miséria e os páises africanos tornoram-se independentes até um certo ponto, pois a guerra fria tratou de subjugar esse e outros continentes. Há uns 200 anos o Brasil tornava-se independente da coroa portuguesa, mas a mosca mudava e a m.... continuou a mesma. Em alguns casos piorou. Na ditadura militar mataram-se mais indigenas,quilombolas e seres humanos da perifera que nos útimos 500 anos. Essa independência brasileira foi mais ou menos aquele fenómeno do primeiro rei de Portugal, o D. Afonso Henriques. Este quis que o Condado Portucalense fosse Independente do reino de Leão - sim nessa época não havia Espanha e sim vários reinos onde disputavam entre si, até chegarem às Américas e outros cantos. O D.Afonso enfrenta a mãe, a rainha , e assim nasce o Portugalito à beira mar plantado com vários séculos pela frente a lutar contra os reinos vizinhos e contra os mouros. Em suma, um histórico patriarcal de batalhas, conquistas, desconquistas, escravas mouras, presos de guerra, conversões para novos cristãos. Uma festa. Um karma ( padrão de comportamento) que foi trazido para este continente. No Brasil, os agora brasileiros filhos e netos de portugueses quiseram romper o vinculo para que as riquezas e benesses não tivessem a coroa e o clero como intervenientes. Em relação ao Vaticano, essa instituição das mais ricas do mundo, vou pesquisar para saber se não continuaram a se favorecerem. Essa é a diferença entre a indagação e o achsmo que vira uma verdade, porque alguém disse....
O jovem trabalhador russo, um jovem duns 30 e tantos anos como a minha juventude da idade da democracia portuguesa, diz assim no filme do Trefaut: " Por vezes as pessoas chegam com a ilusão que vão enriquecer em Portugal, mas chegando aqui percebemos que as pessoas não são assim tao ricas ou nem são ricas. Algumas pessoas teem aquele sonho Americano de ficarem ricas, mas você olha para os americanos e estes estão endividados até ao resto da vida. ( ri-se). A questão é nós sentirmos_nos bem ou não num lugar. Eu saí da Rússia aos 17 anos. Não volto. Já ninguém se lembra de mim. Fui para a Ucrânia lá ainda se lembram." Olhem, eu gosto desta lucidez. Adoro e subscrevo. Nós devemos estar no lugar onde faz sentido para nós, onde nos sentimos estimulados e não só naquela ilusão que vamso enriquecer, se enrquecermos melhor ainda! Podemos realizar sonhos que trazem beneficios ao coletivo e ajudar quem está perto e longe. Bom, já comecei com o tema " Privilégios oportunidades", mas para concluir: não viver na ilusão ou ostentação que viver na Europa Ocidental ou na América do Norte é caminho da luz. Muitas pessoas da ex união soviética não concordam com as práticas daquele regime mas também não morrem de amores pelo American Way of Life.
Quanto à lusofobia, foi uma construção ideológica por conveniência criada pelos filhos e netos de portugueses. Enfim....Não sei se as piadas de mau gostp,o escárnio e desdém está ligado à lusofobia. Talvez esteja no inconsciente coletivo, mas muitos que vão para Portugal sem conhecer sequer a própria história do Brasil, tampouco de Portugal, chamam de país irmão quando os calos apertam, mas não encontro nenhum comentário ou postagem de encontros felizes e emancipatórios em Portugal. Talvez não tenham essa experiência,porqueo povo português ao mesmo tempo que é acolhedore é bravo, xenófObo, racista como no Brasil. Só pergunto o sentido de estar nm lugar que não há nada de positivo na srelações inter pessoais. A cordialidade brasileira é o outro lado da moeda da brabeza portuguesa. Venha o chifrudo e escolha. Pessoalmente eu prefiro pessoas transparentes nas suas intenções, que falam na lata o que sentem, mesmo que não concordemos, e olham nos olhos sem risinhos e abraços porque dali vai tirar vantagem em beneficio unicamente individual. Pessoas de verdade que exercitam a capacidade de se colocarem no lugar do outro sem julgamento, mesmo que não entendam tudo duma só vez.
Nós não nascemos ensina'des mas aprender a escutar e a obser'var, assim como abraçar e beijar sem alarido de postagens tipo: " Olhem aí! Comi a pessoa de tal. " Isso aí não conta. Para mim, claro! Primeiro que tudo nós não somos carne de açouge e sim seres humanos com sentimentos e emoções, depois para sermos amados e sermos especiais para alguém precisamos antes de tudo aprendermos a nos amarmos e ter cuidados especiais para com nós mesmos. E isso é trabalho nosso. Uma vida e mais um tanto para fazê-lo.
A dita jornada do heroi em que é algumas vezes é solitária, assustadora porque damos de frente com as nossas sombras, mgas ratificante porque quando nos encontramos com nós mesmes a fundo os encontros pós confinameto são muito maiores que todos essa história secular de subjugações.
E assim vida sorri, dispensando positividade tóxica. Que esse também é outro tema que dá pano para mangas e que se alia ao do " Privilegios e oportunidades".
Inté ao próximo texto!
A Piu
Campinas SP 19/11/2021
crédito: Amanda Dumont

terça-feira, 16 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XI



HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XI
Aqui temos um honrar à ancestralidade com muito estilo. O modelito faz parelha com o modelito da gatita Amora. Temos aqui um cabelo branco feito de papel higiénico solto, a lembrar o penteado da Cyndi Lauper mas na atualidade. Já o vestidito preto está manchado porque dançou o foxtrot da centrifugação com outras roupas. E.. Desbotou....
Até aos 18 anos vivi numa rua chamada Rua do Lavadouro porque tinha um tanque público onde as mulheres, inclusive a minha avó materna, lavavam a roupa e era lá que se sociabilizavam e contavam as novidades umas às outras. A minha avó sempre chegava a casa com uma noticia acabadinha de sair do forno. Isto é, do tanque. Começava assim: " Ainda agora aqui ao tanque disseram-me que.... a Elis Regina faleceu." Sim, naquele lugarejo as pessoas sabiam quem era a Elis e também uma sujeita, que até é boa atriz mas só por....lelereleus, que protagonizava a feminista Malu Mulher. Sim... Essa... A que fez de Porcina. Essa que tem nome de chocolate português das antigas que agora é produto retrô gourmet: Regina.
É muito bom ter máquina de lavar, pois a vida não está para ser somente dona de casa, escrava duma condição em que algumas de nós mulheres temos tripla se não quadrupla jornada: trabalhadora, estudante, mãe, dona de casa e em muitos casos provedora do sustento do núcleo familiar. Ah! Falo dum recorte socio cultura onde a mulher, independentemente da cor, não tem faxineira, serviçais, criadagem. Não tem problema nenhum de ter faxineira, desde que esta seja justamente remunerada e respeitada como cidadã e ser humano que tem familia, que come, paga contas. pega transportes vários até chegar ao local de trabalho, adoece e também precisa de se manter resguardada da pandemia sem passar o aperto de não ter fonte de rendimento se não for trabalhar.
Assim sendo aproveito para citar a querida escritora, dramaturga, mulher negra do teatro Cristiane Sobral com quem tive o prazer de participar duma oficina de dramaturgia com ela através do Sesc: " As mulheres brancas/ Esposas em silenciosa cumplicidade/ Inventaram o feminismo/ Mas ainda lutavam/ Usando nossos corpos como escadas".
Volto aos " Lisboetas" (2004) do Trefaut e relembro cenas marcantes tanto da primeira vez que assisti como agora em que migrantes da Europa de Leste eram entrevistados. Como vimos antes, o Trefaut tem um histórico familiar de pessoas de esquerda e ele com certeza que o será , por ser ele quer escutar com honestidade pessoas que viveram durante o regime soviético sem mimimis; sem desmentir e desconsiderar o testemunho das pessoas que sofreram na pele só porque não combina com a sua ideologia, ao limite demagógica. Uma criança de 8 anos na praia diz que o pai quando era criança viveu com os avós no gulag. Sabeis ou lembrais vós, camaradas e amigos, o que era e é um gulag? Googla aí para saber e depois comenta em baixo se é fixe bacana estar sujeito a um regime stalinista. Se é bom para a tosse. Existem relatos inacreditáveis! Uma senhora que esteve 5 anos no resort da Sibéria porque contou uma piada!... Se lermos " A Brincadeira" do Milan Kundera saberemos que essas histórias são inúmeras.
Esse comentário da criança vem na sequência da mãe falar no celular com alguém na Ucrânia ou Rússia que o ensino em Portugal é muito fraco. Em aprendendo a lingua as crianças serão as melhoras alunas. Eu acredito piamente! Como nós, em Portugal, fomos testemunhas nessas época da arrogância mediocre de não valorizar os migrantes de leste em que muitos eram pilotos, engenheiros mercânicos, professores de inglês, russo e que foram menosprezados e relegados a lavar vasos sanitários e a construir as cidades para os outros debaixo de sol, muitos sem contratos e a trabalhar 12 horas por dias por 25 euros. ..... Dasse. Como assim?
Em suma: acolher, ajudar alguém seja migrante, amigo, familiar, desconhecido tornou-se cada vez mais claro para mim: é fazê-lo de coração sem o calculismo dali levar vantagem ou aquela cobrança que se está a ajudar mas está em dívida permanente e que é para a pessoa não abusar. e principalmente valorizar o trabalho da pessoa, querer conhecer a sua trajetória ao invés de achar que a pessoa não é nada ou é uma iniciante ou não pode brilhar assim tanto porque vem tirar o lugar dos locais. Isso é medicridade! Algumas vezes camuflada com aquelas vestes do bem como a Cristiane Sobral chama a atenção. Infelizmente ela tem razão.... Algumas mulheres brancas inventam o feminismo, que é uma causa emancipatória, para fazer das negras escada. No Brasil é muito comum. Principalmente no meio académico. Não são todas, mas são muitas. Já não falando dos revolucionários que inventam o comunismo e matam o seu povo e outros povos. Veja-se o que o Sendero Luminoso fez no Peru com indigenas e com o campesinato. Escrevo isto porque acredito na prática que podemos viver coletivamente duma forma mais justa, equilibrada em que o valor da vida e do trabalho sejam realmente respeitados. Agora vou ver se a roupa que está pendurada já tá seca para a dobrar e voltar aos estudos e trabalho, à meditação ou a simplesmente curtir um som e dançar ainda no meu lar doce lar. É que passar toda a roupa a ferro é aquela cerejinha em cima do bolo que muitas mulheres ao domingo à tarde e noite ainda fazem ao invés de descansarem, de se cuidarem, mesmo que estejam ca(n)sadas com homens que se dizem não conservadores. Ufa! Vamos olhar para as jornadas uns des outres com olhos de enxergar e dar as mãos, mas de verdade que isto de exigir que as mulheres sejam super heroínas, as mulheres maravilhas, é uma grande ironia do feminismo liberal. Ai querem ser autonomas? Ai querem se reaLizar mesmo sendo mães? Então levem tudo nas costas. Ser artista é profissão?Olha... para ti pode não ser, mas não atrapalha, não boicota só por achares que as mulheres são menos ou nada. A gerência agradece. Ai! Ai! " Os privilégios e as oportunidades" será uma outra série de textos depois do "Honrando as minhas raízes." AVANTE SEM DESPOTISMO E DISTORÇÕES DO QUE É A JUSTIÇA E IGUALDADE DE OPORTUNIDADES!
A Piu
Campinas, SP 16/11/2021

domingo, 14 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XI


Revejo o filme " Lisboetas" (2004) de Sérgio Tréfaut sobre as diferentes diásporas de migrantes nesssa cidade, onde nasci e mais tarde vivi até uma no antes desta foto já tirada no Brasil em Fevereiro de 2012. Ser migrante é um desafio e um osso duro de roer para muitos. O coração fica em farelos com o grande plano daquele homem da Guiné Bissau que quer se legalizar e não pode perder mais um dia de jorna para ir ao Serviço de Estrangeiros, aqui Policia Federal. No foto estou com o coração cheio de esperança que tudo corra bem e que seja acolhida no Brasil. Algumas vezes isso acontece ( e a minha gratidão é infinita) e outras são baldadas de águas fria 'ca pessoa até anda de lado.

Sérgio Tréfaut nasceu em São Paulo em 1965, 8 anos depois de seu pai, o jornalista e escritor, nascido no Alentejo em 1925 Miguel Urbano Rodrigues se exilar. Este exilou-se no Brasil em 1957, em pleno fascismo português. Em 1964 chega a ditadura militar no Brasil. Volta a Portugal no pós 25 de Abril. Um dos filhos é preso e quase assassinado por essa ditadura brasileira por volta de 74/75. Em 74 Miguel U.R. volta a Portugal e assume alguns cargos de poder ligados ao partido comunista português até aos anos 90. Enfim, existem várias figuras desta família que representam o outro lado da moeda da portugalidade. Já o Sérgio adota o o sobrenome da sua mãe francesa sem nunca esquecer na sua obra cinematográfica a classe trabalhadora que transita no território português. A obordagem dele é, para mim, honesta. Ele mostra quem é explorado e excluido e dá voz. Sim, a exploração de trabalho em Portugal ainda é efectiva. Como no Brasil. E quem acha que vai enriquecer em Portugal, porque vai ganhar em euros, à custa do seu salário é bom que se informe longe da propaganda e das noticias fake, assim como dos modismos gourmet.
Durante muitos, mas muitos anos, nesta minha breve existência, eu perguntava-me porque no Brasil uma grande parte da população não conhecia o que se produzia artisticamente em Portugal. Ok, ok há sempre uma citação aqui e ali do Fernando Pessoa e do José Saramago e até do Mário de Sá- Carneiro. Em alguns casos é chique porque dá aquele ar de erudição. Ihihih Mas hoje até desconfio que alguns acharão que estes são brasileiros. Sim! Patriotismos à parte que nem patriota eu sou porque isso é coxinha mais que demais, mas você caro leitor vai aceitar que digam que o Gilberto Gil é do Estados Unidos como o Bob McFerrin? Não! Claro, que não! Logo o Gilberto Gil que além de ser bahiano foi Ministro da Cultura no Brasil!
Já li Darcy Ribeiro e escuto muitas pessoas dos movimentos negros e indigenas. Fico triste quando falam "os portugueses", embora entenda a sua dor e revolta. Mas continuo a reforçar algo que deveria ser óbvio: há portugueses e portugueseS, como brasileiros e brasileiros. Embora eu concorde que não tem como dizer " eu não sou racista" e sim dizer " eu sou anti racista", como esses movimentos alertam.
Porém descobri que existe uma fobia criada por conveniência pelos brasileiros descendentes dos portugueses e colonos em que os próprios perpetuam essas práticas nefastas de subjugação dos não brancos: lusofobia. Uma fobia a Portugal e tudo o que é português. Só me pergunto o que essas pessoas fazem ou querm fazer em Portugal. Como elas enxergam e honram as suas origens portuguesas sem mentirinhas nem falsidades. Eu tenho algumas respostas em relação aos equivocos dos que se acham colonizados e nem se enxergam que são os colonizadores. Mas agora vou fechar os olhos, como na foto, e respirar fundo desejando que a volta ao convivio social, como o Carnaval, tenha mais qualidade no contato visual. Porque essa de beijos descartáveis com gosto a cerveja Devassa dá cá uma daquelas ressacas dum vazio existencial que nem dá para filosofar. Porque apesar de tudo o homem é sempre o caçador, o conquistador e as mullheres ou são as conquistadas que se descabelam pelo bambambam oi são devassas. Ai que preguiça! O melhor é silenciar para que o entendimento de dentro para fora seja vitorioso. O que veio antes? O desejo descartável ou o Amor próprio e o respeito pelo outre onde coisificação não entra mais no léxico dos que se dejam emancipados?
A Piu
Br, 14/11/2021

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - X

 


A minha mãe trabalhou nos correios/ Nos correios a minha mãe trabalhou/ Quando levava a sua querida filhinha (eu) esta só atrapalhou!

E aí moçada! Gostaram da poesia?  Cheia de métrica, num?  Nem o Bocage se lembrararia duma rima destas! Agora falando sério... Falar dos ambientes de trabalho, das inúmeras desvalorizações do nosso e do trabalho alheio é serissimo, principalmente quando toca à dignidade do nosso sustento e dos nossos filhos para quem tem. Não dá para comparar as condições que os escravocratas impunham aos escravizados africanos com as dos trabalhadores explorados portugueses nos tempos do antigamente ( há 48 anos atrás, antes da queda do fascismo). Embora aqueles se organizavam e/ou se opunham à exploração da sua força de trabalho corriam o risco de serem presos, torturados e até mortos. Temos a Catarina Eufémia, trabalhadora agrícola portuguesa e alentejana, que foi morta com três tiros pelas costas à queima roupa em 1954 pela Guarda Nacional Republicana Portuguesa na sequência duma greve de assalariados rurais. Ela tornou-se um icone da resistência portuguesa durante a ditadura. É também importante lembrar a chacina de Beja em 1932. 

O cineasta Sergio Trefaut, nascido em São Paulo em 1965 e incentivado pelo sei pai, o jornalista, Miguel Urbano Rodrigues " a passar férias no Alentejo natal para conviver com os camponeses da região mais vasta e pobre de Portugal" *. O Sergio Trefaut tornou-se cineasta e realizou um documentário em 2014 " Alentejo, Alentejo" e posteriormente uma longa metragem " Raiva" que é uma ficção baseada nesses conflitos ancestrais entre camponeses e donos da terra. Eu assisti ao " Raiva" numa sala de cinema no centro de São Paulo. Fico profundamente comovida com esse pai e filho que não renegam as suas origens, dignificando-as e mostrando-as para o mundo. Os alentejanos não foram agrilhoados, nem colocados  em naus para serem comercializados como coisas que se mexem com força de trabalho que não é nem remunerada e que a sua moeda de troca são açoites, maus tratos, humilhações. Feridas profundas que até hoje revereberam na alma dos seus descendentes.

Falar da dor alheia pelo outro que a sofreu ou sofre é uma apropriação, é um ocupar o lugar de fala de quem foi mal tratado e silenciado, Receber apoios finaceiros, bolsas de pesquisa para falar de pobres, de explorados, de seres humanos de outras matrizes e descendêndencias identitárias requer ética. Essa ética é trazer esses seres humanos para o nosso projeto, eles tomarem com protagonismo o seu lugar de fala e de preferência dialogarmos sobre o que nos atravessa em comum ou não e como estarmos mais juntos duma forma empática e respeitosa. E obviamente serem dignamente remunerados. 

Agradeço profundamente à roteirista e cinesata Ceci Alves, mulher negra nordestina e ao cineasta indígena Hugo Fulni-ô, a oportunidade de participar das suas oficinas dentro da programação Cine Sesc. 

Seguimos escutando, observando e dialogando.

Quanto ao poema (?!) de cima, certa vez, lá pelos meus 9 anos, a minha mãe levou-me ao escritório dos correios onde trabalhava que ao que parece era um antro de mesquinharias internas, egozitos de assalariados que se chocavam. Passamos pela sala dum sujeito seu colega e eu,  ingenuamente, ao ser apresentada disse:" Ah! É aquele homem que tu falas lá em casa!" Ahahaha. Ela ficou verde, livida, transparente... Depois disse-me que não era para eu comentar o que se falava em casa. Eu nem lembro o que ela falava dele... Talvez que ele fungava muito ao carimbar os papeis ou que controlava os passos dos outros colegas e queria mandar mais do que era suposto. Sei lá! Sei que enquanto puder detectar ambientes insalubres de trabalho e cair fora, de preferência com tranquilidade sempre que possivel vamos lá. Cuidar do nosso bem estar interior é fundamental, caso contrário viramos escravos de situações, condições que nos tornam algozes de nós mesmes. E isso vai-nos adoecendo por dentro até se manifestar no corpo. 

Resumindo e concluindo: valorizar o trabalho de outrém, não só na palavra mas também na moeda de troca tenha esta o formato que tiver, valorizar a existência de outrém é básico mas precisamos de continuar a falar sobre isso porque existe aí uma galerada que esquece por conveniência. " Ai! Eu não percebi que você, ou tu, é uma trabalhadora, artista, mãe solo de duas filhas e que não recebe apoios do Estado do seu país e os pais das crias são totalmente ausentes." Eh pá! Vamos nos deixar de novelas , voyerismos, curiosidades da vida alheia em redes sociais, opinismo não solicitado seja de familiares, amigos e desconhecidos e vamos ser gente com mais justiça no coração e na ação. Assim seja . Assim é. 

Hasta pronto! 

A Piu

Br, 12/11/2021


* https://istoe.com.br/sombra-e-revolta-no-alentejo/

obs: aqui vai uma matéria sobre a atual escravatura no Baixo Alentejo/ Portugal para com migrantes https://jornalismodocumental.pt/trabalho-escravo-nos-campos-do-alentejo/  

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - IX - fala aí qual é a piada!

 




Foi com este selo comemorativo que andava lá por casa dos meus pais  que  eu tive os primeiros contatos com a obra do pintor, desenhista, cartoonista, arquiteto e cenógrafo João Abel Manta. Um homem anti colonialista e anti fascista de humor cutilante que logo sacou as disputas caprichosas e/ ou ferozes dos partidos democráticos ditos de esquerda numa época efervescente dita anti fascista ( anos 70) . Vale a pena conhecer. 

Percebi que os pilares do meu senso de humor é ele, o  cartoonista argentino Quino, o humorista português Herman José e os britânicos Monthy Python. Depois surgem outros, mas estes são aqueles que eu acompanho desde a minha infância. Ainda me riu com o parvalhão, o babacão do Herman José, apesar dele ter passado por umas fases mais pirosas, cafonas entre os anos 90 e 2000!! Mas já voltou em alta!!  Esse que foi afastado da televisão portuguesa no final dos anos 80 com direito a debate na Assembleia da República por ele ter parodiado a Rainhah Santa Isabel!! Quem assistir, pois está no you tube, é uma paródia duma rainha espanhola que casa com um rei português e é traída e por ser a rainha do milagre das rosas aproveita-se para dar a deixa: " Milagres! Que milagres? Portugal tem é de trabalhar em vez de esperar por milagres!" Ora está visto que vai-se mexer num ranço histórico, numa velha rixa entre Portugal e Espanha, uma rixa narcisica das pequenas diferenças. Tanto é que existe um ditado popular: " De Espanha nem bons ventos nem bons casamentos." Sim, existe ainda uma ala muito conservadora em Portugal. em Espanha nem se fala. Ainda hoje artistas são amaeaçados de morte e presos e Espanha por ofensa aos valores cristãos e do Estado... Esse será um outro texto.

Porém. Porém!!!! Existe uma diferença gigantesca entre o Herman José rir das caduquices do seu próprio povo com o seu povo - somos umas duas, quatro ou mais gerações a rir do humor do Herman- e a o humor de mau gosto, cafona da atriz brasileira de novela Maite Proença em 2007 numa visita a Portugal. para um programa de tv brasileira " Saia Justa" ela faz aquelas velhas piadinhas sem graça nenhuma   para provar que o povo português é burro, sendo que ela é descendente de portugueses, e ainda cospe num momumento português. Pessoalmente não sou fã dos monumentos portugueses. Nunca cuspi em nenhum, mas fico abismada com os brasileiros que postam fotos ao lado de minumentos portgueses como quem diz " ai que lindo! " sem se questinar o queestá por detrás da lindezsa e onde a empatia é quase nula para com o povo trabalhador português que paga impostos para ter um sistema de saúde e educação minimo, que não é dos melhores não cobre a demanda. E muitos dos trabalhadores quando desempregados ficam sem nada porque nunca tiveram um contrato de trabalho digno para assegura o seu desemprego. Vamos ter atençãoe conhecimento disso, caros brasileiros defensores dos direitos trabalhistas, Porqueeui já fui confrointada com mentiras ofensivas em relação a isso. A ignorância causa dano porque carece de solidariedade, ao limite é ofensiva.

Enfim... EU NÃO SOU CHARLIE, aquele cartoonista francês que foi desta para melhor quando fez um humor  que os fundamentalistas islâmicos não curtiram. Porque é que ele não se ri do chauvinismo francês ou invés de querer dar uma de homem branco europeu laico civilizado?  Meter-se com fundamentalistas é estupidez e ser islamofóbico é ofensivo. Assim como a Maite Proença que representa um certo um humor ao diminuir algo que ela elegeu como opressor, sendo que ela é parte dessa opressão.  Situação delicada porque complexa. Ela ficou com medo de sofrer represálias ao voltar a Portugal ? Claro! Melhor ficar fechada no seu condominio fechado e blindado. Ela tem uma história familiar muito trágica. O pai que matou a mãe por suspeitas de traição e o mesmo foi absolvido, tendo esta deposto a seu favor ainda na adolescência. Essa história é motivo de piada? De brincadeirinha de mau gosto? Antes de cuspir no suposto "outro" pense bem se não está a cuspir em si mesma. O humor Maitê e Charlie não me parece que seja saudável, porque é um discurso de ódio. 

E o que nós precisamos? O que esta pandemia vei-nos novamente avisar? Que só o Amor cura. Um Amor vindo do entendimento, da batida cardíaca, do sopro da respiração dispensando beatices, sermões e escárnios pelo que não conhecemos a fundo, nomeadamente a nós mesmes. Como filha e neta de alentejanos adoro piadas de alentejanos contadas pelos mesmos. Quem não é alentejano coloque a versão para a sua região. AMO QUEM SE RI DE SI MESME E NÃO DO OUTRE COM DESPREZO E PSEUDO SUPERIORIDADE. 

AÍ! INTÉ AO PRÓXIMO TEXTO!

A Piu 
Br, 11/11/2021

terça-feira, 9 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - VIII

Tenho algumas, bastantes vá, dúvidas se existem tantas mulheres aí pelo mundo afora que queiram ter um filho com alguém por puro e duro exotismo. Existe de tudo nesta vida, mas escolher ter um bebé é uma decisão para a vida. Muitas relações, não todas, acontecem por variadissimas razões armadilhadas pelo ego: conveniência, ilusão, status, urgência de sair duma condição, o tal do exotismo - que é um vinculo que se estabelece a partir duma ótica externa, duma ideia com fortes probabilidades de não ser de igual para igual.
No meu ponto de vista, a partir da minha experiência logo haverão outras perspectivas, uma criança tampouco uma relação é uma bandeira, um tema de vitrine virtual seja lá porque motivos for. Tipo: agora estamos muitos felizes e somos as pessoas com a relação mais isto e aquilo e vai de expor a intimidade ao extremo: deixa ver o que eu já vi.... a cama onde dormem e fazem outras coisas, o momento antes de irem fazer outras coisas a comunidade virtual ser avisada. Eh pá... Não sei...Mas isto é para mim! Eu sinto-me um pouco da velha guarda. Intimidade vem da palavra intimo que é outra coisa de público. Intimista significa algo mais próximo que não para as massas e grandes audiências que não nos conhecem pessoalmente ou conhecem mas não teem nada de nada a ver com a nossa vida privada. Isso também se aplica aos burgujus ( perrengues, confusões na giria de Luanda). Se uma relação vai sobre rodas: Boa! Boa! Se a coisa está a descambar existem infinitas possibilidades: conversarem, escutarem-se, decidirem que encontram-se numa bifurcação de olhares, interesses, desejos, circunstâncias de vida que cada um precisa de ir cada um para seu lado. Ou cair fora duma forma como quem não quer a coisa, tipo: se correr o bixo pega, se ficar o bixo morde. Agora fazer da nossa vida uma telenovela nas redes eu considero uma exposição desnecessária. Já celebrar encontros, parcerias ou denunciar, como quem pede ajuda, relações abusivas em que uma das partes não entende que é mais tempo que parar as redes sociais pode ser um caminho.
Coloco esta foto, que tem 16 anos, com um homem negro, pai da minha filha mais eu ao lado bronzeada pelo Verão mediterânico. A relação intima há muito que acabou, contudo eu continuo a reconhecer o fundo deste sujeito que nasceu em 1971, dois anos antes de mim. Ele em Luanda/ Angola e eu em Lisboa/ Portugal. Ele um homem negro que nasce já às portas da Independencia de Angola para com Portugal, com estes dois países em guerra desde 61, para depois de seguida entrar em 75 em guerra cívil até meados dos anos 90. Este homem é um combatente de guerra, com certeza um traumatizado. Um doidivanas com um coração doce ferido que com certeza sabe qual o valor da vida de outras pessoas porque viu muitas vitimas mortais duma guerra estúpida, como todas, promovidas por impérios caducos e potências ganaciosas de deter o poder planetário. Não é O Homem feminista, mas é um homem que não teve o previlégio de nascer e crescer numa sociedade onde paz estava assegurada, tampouco a democracia. É um homem negro que conheci em Portugal e bem sabemos que o racismo, a exploração do trabalho e o ranço quinhentista de mau perdedor ainda está presente no pais no qual eu nasci e cresci. Isto não significa que todos os portugueses e portuguesas sejam crápulas. Sincera e honestamente: eu sinto muito mais empatia por um angolano, moçambicano, cabo verdiano, guineense, de São Tomé que se encontram em Portugal e nos países europeus doque de um brasileiro descendente de europeus que além de não reconhecer os seus previlégios no Brasil e achar que é um colonizado como um negro e um indigena, mesmo sendo descendente destes, não conhece as lutas de resistência anti fascistas, trabalhistas, assim como solidariedade e resistência às lutas independentistas africanas em Portugal no particular e na Europa no geral. Acredito que se você é brasileir@ e chegou até aqui com certeza já conhece ou quer conhecer essas lutas de solidariedades portuguesas e europeias para honrar os seus, os nossos ancestrais que estão do outro lado da barricada. Conhecer o outro lado da História com sujeitos históricos próximos a nós ou não tira-nos da igorância, do preconceito, do obscurantismo e de posturas injustas que achamos que são muito corretas em nome de ideologias e ismos exteriores à importância da dignidade da vida de cada um de nós com as inúmeras circunstâncias em que nascemos e crescemos. Se assim for, estamos juntes. A magia da empatia acontece.
Em breve escreverei sobre a diferença entre previlégio e oportunidades e colorismo.
Beijus e abraçus!
A Piu
09/11/2021








sábado, 6 de novembro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - VII

 Honrar as minhas raízes é honrar seres humanos, não é honrar monumentos, narrativas muitas delas duma neurose coletiva que urge curar, fobias nossas e alheias. Sim, precisamos de nos curarmos de nós mesmes, mas isso não se fala interruptamente porque se não vira cliché, chavão politicamente correto esvaziado de conteúdo. Precisamso, meditar, fazer escolhas conscientes, elevar a vibração. Tudo isso é muito verdade, mas quando muito discursivo a coisa dilui-se na maré. Mas agora deu-me aquele impeto épico da nova era para fazer esta poesia, poderão achá-la utópica, ridicula, frase feita, mas eu também não me importo. Se acharem um tanto engraçado e tocar um cadinho no coração já 'tá valendo. Essa mistura fina de fazer rir e comover ao mesmo tempo é um pontinho de caramelo que eu sempre ando à procura. Posso saber faze isso com pessoas próximas a mim, com as mesmas referências e humores, mas alcançar esse ponto fora da bolha é que requer atenções várias. Como foto ilustrativa coloco aqui a minha filha recém nascida há 16 anos atrás no colo de seu pai. Honrar as pessoas é guardá-las no coração, mesmo quando a relação intima tenha chegado ao fim há muito tempo atrás. Isto para mim! Claro! Honrar é invocar esse respeito sem recorrer ao ex ou à ex para meter ciúmes aquela paquera na hora de algum questionamento que abana. Ihihih Riu, porque rir faz bem e se for para rir com intuito de chamar a atenção que isso não é fixe legal nem para a própria pessoa nem para a pessoa usada como motivo de pirraça, por respeito também a esta. Todos nós damos umas mancadas, mas se nos avisarem e não levarmos a mal fica tudo muito mais leve e verdadeiro. Questionar e sermos questionados, cientes da nossa intenção, não será um ato de amorosidade?

 Lá vai poesia de sábado à tarde num calor de 31º:

" Chegará o dia que nem a nossa cor, etnia, nacionalidade, sotaque, género, escolha intimas e sociais  serão mais pauta de afirmação e reinvidicação por respeito e fim ao preconceito. 

Chegará o dia! Chegará o dia que tudo é quase perfeito porque não existe mais preconceito. 

Que eu sei quem eu sou;  que vim antes da minha filha e muito depois do meu bisavô."

Pronto, por hoje é isto para ficar leve neste dia abafado. Com esta poesia sinto-me um pouco o Adrian Mole no seu diário intimo aos 13 anos e 1/4 de idade. Mas bora lá! Depois continuo a saga sobre os encontros, desencontros e novamente encontros entre povos deste mundo da dimensão em que nos encontramos, deste mundo Uno, colorido, diversificado num chamado para ser curado. Fazendo cada um, claro, a sua parte. Chegará o dia ou o dia já chegou?

Ô reboire galerada do bem!

A Piu

Br, 06/11/2021