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Lúcia (no meio, aos dez anos de idade) e seus dois primos: Francisco (nove anos) e Jacinta Marto (sete anos) segurando seus rosários (fotografia tirada na altura das aparições). |
"Se eles rezam muito eu já estou no céu. (...) Eu juro que é melhor não ser o normal. Sim sou muito louco, não vou me curar. Já não sou o único que encontrou a paz." Ney Matogrosso
A dia 13 de Maio de 1917 aparece por cima duma árvore "...uma senhora mais branca que o Sol" a três pueris crianças num Portugal rural que vive os primeiros e turbulentos anos da República, após um regicídio desse povo de brandos costumes. Enfim, numa frase, com algumas virgulas, já podemos concluir que essa questão do que um povo é ou deixa de ser são construtos para legitimar algo e desautorizar outro algo.
Essa história da aparição de Nossa Senhora de Fátima a três crianças, uma delas, a irmã Lúcia viveu até aos 98 anos, é uma pulga atrás da orelha. Até hoje uma ideia faz toc toc nesta minha cabeçorra: Que história é essa? Será que a irmã Lúcia acreditou até ao fim da vida nessa visão? Que visão foi essa em plena época histórica em que a industrialização galopa, os ismos enfrentam-se e confrontam-se guerreiam, os movimentos sociais e ideais libertários consolidam-se?
Num país em que o índice de analfabetismo passava os 90% não fica mais fácil de convencer as pessoas dum discurso? Como manter o povo lerdo, e não foi só em Portugal! Até hoje a Itália é assustadoramente conservadora, machista e beata! Só me apercebi isso depois de viajar de carro até à Sicília. Já nem vou falar de Roma e da vizinhança! Ahhhhh! Não nos esqueçamos que a Itália tem um histórico de movimentos libertários e outros resistências ao embrutecimento que o Vaticano tem vindo a efetuar há séculos e séculos. Espanha, apesar da diversidade, é beata que doí. Não tanto como a Itália, cá no meu parecer.
Mesmo assim prefiro acreditar na história da Carochinha e do João Ratão. E com isto não significa que queira atropelar a espiritualidade. PELO CONTRÁRIO! Aliás, o Vaticano, assim como outras instituições religiosas e partidárias que anseiam poder, tem roubado a espiritualidade das pessoas. E vamos combinar! O ser humano é feito de histórias e imaginários! E as aparições são encantadoras. Mas convencem? Bom, muitas vezes convencemo-nos em algo exterior quando não encontramos a divindade dentro de nós. Uma divindade libertadora que nos liberta de nós mesmos olhando de frente a nossa essência.
Ana Piu
Br, 15.05.2015