quarta-feira, 1 de abril de 2015

A VERDADE DO DIA 1 DE ABRIL





Está calor. Se aqui é fim de Verão eu diria que é inicio ou que por aqui o Verão nunca acaba realmente. Andar de botas, por mais leves que seja porque desportivas, torna os pés tal qual pão de forma saído do forno. Coloco umas sandálias vermelhas para condizer com a estrada de terra vermelha. Laváveis, o estilo mantém-se. Uma limpeza quase de mentira, mas uma sujeira natural de quem vive no meio de alguma natureza exuberante. Muitos falam da Verdade. Hoje é dia das mentiras. Tantas verdades tem acontecido que seriam melhor que fossem mentira. Mas são verdade. A memória está cá para testemunhar.E de verdade para encontrar essa Verdade temos escutar os confins de nós, a nossa respiração para perceber o que é aceitável e o que não se pode aceitar, sendo inaceitável.
No meio do caminho, ao encostar por momentos, a roda do calhambeque está em baixo. Encho com ar. Encontro um parafuso espetado. Alguém perdeu um parafuso no caminho que me esvazia a roda do calhambeque. Ai os desparafusados que perdem os parafusos no caminho! Temos depois de encher as rodas para continuar caminho.
Para alguns o vermelho é cor de paixão, para outros representa o "ai deus me livre que eles andam aí para comer criancinhas logo pela manhã!" E assim vamos de paixão em paixão, de calúnia em calúnia, de silenciamento em silenciamento.
Esta foto foi tirada nos anos 60 num Brasil pós 1 de Abril de 1964. A menina senhora é a Catarina Meloni, líder estudantil que mais tarde escreveria "1968: o tempo das escolhas".
Temos sempre escolha, mesmo quando não temos. Todas as escolhas tem um preço ou vários preços. O preço de ficar calado, o preço de nos silenciarmos, o preço de resistir, o preço de desistir. Esquecermos tem um preço imenso. O preço da alienação e o preço de continuar com as dores resolvidas. Recordarmos tem um enorme preço. O preço de enfrentarmos a dor, acolhermos nas dobras da memória, aconchegarmos nos no desejo de paz e que um dia possamos dizer honesta e francamente: "Não, isso nunca mais voltou a acontecer. Já choramos tudo e agora podemos sorrir e rir com alegria e felicidade de quem sente os pés aconchegados na terra vermelha, porque o vermelho não é se não mais a cor da paixão e respeito pela Vida."
Ana Piu
Brasil, 1.04.2015
Foto: A LÍDER ESTUDANTIL CATARINA MELONI EM PASSEATA. MAIS TARDE, ELA ESCREVERIA O LIVRO”1968: O TEMPO DAS ESCOLHAS” (FOTO: JESUS CARLOS (IMAGEM GLOBAL))
Leia a matéria completa em: Os testemunhos das mulheres que ousaram combater a Ditadura Militar - Geledés http://www.geledes.org.br/os-testemunhos-das-mulheres-que…/…



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