A menina mulher desceu uma e duas vezes a rua com um sutiã tamanho GG na cabeça. Parecia um alien ou até mesmo uma daquelas damas da Idade Média. A mulher que já não era menina, embora também ainda fosse aventurou-se nessa provocação a um meio que ainda cheirava demasiado a testosterona. Enviou aquele audio visual para a dita convocatória pública à laia de fazedora de teatro, de atriz palhaça que também - mesmo assim- já anda aqui há algum tempo. Naquele vídeo que não era nem conceptual tampouco com pretensões de ser a obra prima do cruzamento de artes e linguagens contemporâneas, onde o outside e o mainstream flertam, era só um recado aqueles três irmãos. principalmente a um: Eu estou aqui e vejo-vos! Talvez não estejam habituados a serem questionados por mulheres meninas, meninas mulheres ou são mas não dão a devida importância. E repito é o caminho do coração que nos permite sermos inteiros, integros.
Deve ter sido o fim da picada quando aquele vídeo duma menina mulher num bairro qualquer de Campinas a descer a rua com um sutiã na cabeça, a dançar numa ruina perto dum campo de futebol, dizer umas coisas sobre ser mulher e rir da entrada inesperada da sua cadelita no estúdio caseiro de gravação, dançar tirando as maçãs de Lilith e Eva do sutiã do alto da sua cabeça e oferecer para a câmera e depois seguir caminho pela estrada de terra na sua bicla, bike, bicicleta.
Fez não pelo dinheiro do prémio, embora até desse jeito receber essa módica quantia e partilhar com a sua amiga que a filmou e a sua filha que editou essa curta metragem que era mais que tudo um recado,tipo: " Fiquem de boa que eu também fico, mas na próxima pensem que o lugar de privilégio de homem, principalmente branco no Brasil, pode ser questionado e abanado. Privilégio que precisa sim de ser desconstruido para a própria felicidade dos homens. Privilégio de ainda ganharem salários maiores que as mulheres e outres, privilégio- se é que se pode chamar assim- de objetificar e descartar as mulheres meninas, as meninas mulheres e quando pais poderem negligenciar e até mesmo abandonar e não contentes com isso importunar a mãe dos seus filhos.
Um homem especial é aquele que escuta, que observa, que se permite rever na sua conduta (in)consciente e também tenta honrar o seu irmão fazendo com que estes dê explicações a uma mulher que se sente invadida e importunada durante anos. O irmão mentiu a outro irmão e não parou durante muito tempo. Escondia-se atrás das redes sociais. Será que continuava a achar que uma mulher não tem inteligência suficiente para o sacar? Será que ele não saca que uma mulher mesmo tendo outro sotaque ou falando outra lingua não saca as suas birrices que espirra para cima também do irmão. Já o irmão, caso fosse especial como a menina mulher lhe dissera uma vez, precisava também de se rever como homem que sente, deseja, sonha e ama também: as mulheres meninas podem até serem bobinhas quando não avisadas, mas há fortes probabilidades de deixarem de o ser pela experiência da vida e porque existem muitas mulheres que enxergam as outras mulheres como mulheres, independentemente da core classe social. Precisamos de nos avisar que as relações são para serem saudáveris. Assim como é importante enxergar os homens como homens com capacidade de amadurecer. Depois há os babacas por conveniência, por não abrirem mão da mediocridades dos seus privilégios ou por serem profundamente transtornados. Aí precisam de terapia, como todes nós , mas ainda mais urgente.
Quero acreditar que você querido leitor que se disponibilzou em chegar até aqui não é babaca. Se se achar assim trate por favor de deixar de o ser. Isso é das maiores contribuições à sociedade que se pde fazer. Partindo do principio, no caso, que ser babaca é achar que as meninas mulheres servem somente para satisfazer os prazeres masculinos, que os sentimentos destas são para brincar, jogar para o alto como se dum saco de lixo se tratasse e que o valor do seu trabalho é muito pouco ou nada, porque afinal de contas elas devem ser recatadas, belas e do lar. Bilhaque , 'caria! Não presta! Meleca rançosa mofenta!
Então, caros homens: não infantilizem as mulheres, tampouco as façam de capacho das vossas mentirinhas de pernas curtas. Para serem amados precisam de se (auto) amar. Via de mão dupla. Não querem ser tratados como trouxas? Alguma mulher já vos tratou como trouxa? Talvez sim, talvez não. E 'vocesses' já trataram as mulheres como trouxas? Se sim, nunca é tarde para deixar de fazê-lo, porque as meninas mulheres também são feiticeiras, as que abrem caminhos e protegem-se como Yansã, e são sábias porque anciãs. As que agora sabem. Como sabem não dá para dessaber e daí vão aprendendo a agir com mais sabedoria no equilibro da pedalada. Isto sem excluir, falo por mim, os homens desta eterna desconstrução milenar onde as mulheres ainda são vistas como pau para toda a obra....
Um grande abraço muito especial até ao próximo texto
A Piu
BarrOm GerHaux 14/12/2021
foto: Ana, eu mesma, em 1976
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