segunda-feira, 8 de julho de 2019

PRAGA PRAHAHAHA

Naquele Agosto de 1992, e não de 1991 como meti na cabeça que era - sim, num ano acontecem muitas coisas!- saímos da cidade do Fernando Pessoa, passamos por Budapeste que foi uma cidade que inspirou o Chico Buarque a escrever um dos seus romances. A paragem seguinte seria Praha - Praga- a cidade que naquele ano já tinha virado um parque temático para turistas alemães, como Lisboa virou em meados de 2015/ 2016. Porém, Praga ou Prague ou Praha o pop star era e talvez ainda seja  Franz Kafka. Ao passo que Lisboa, o parque temático é a portugalidade dos pasteis de bacalhau, de nata, das sardinha, do vinho e do fado. Ah! E do enaltecimento quinhentista com os seus monumentos à beira rio. No entanto, antes de ser um parque turístico já era um destino de pintores japoneses pela sua luz e podiam-se ver alguns poetas alemães e escandinavos nas velhas e abandonadas rua da antiga Lisboa com os seus chapéus a la Fernando Pessoa.

O turismo é uma praga. Não é? Tudo vira produto. Uma imitação do próprio lugar, uma folcolorização da identidade individual e coletiva. Há um tempo atrás, de passagem por Portugal, entrei numa loja para ver umas sandálias. Um casal alemão ficou impressionadissimo com a minha fluidez no português! Eheh! Sim, mesmo na minha terrinhona natal quase sempre passo por estrangeirola, gringa, bifa. Qualquer dia fantasia-me de mim própria e viro atração turística no meu país natal. ;)

Voltemos à ex Techecoslováquia , hoje Republica Tcheca. Por essa altura eu já conhecia Milan Kundera, assim como Frnaz Kafka. Milan Kundera estava na estante de casa, ombro a ombro com José Saramago. Ironia? Foi Milan Kundera, aquele da " Insustentável leveza do ser" , com o seu humor crítico mostrou-me o lado B riscado do Regime Komuna.  Através de " A brincadeira", " O livro do riso e do esquecimento" e outros soube o que era a Sibéria, e como os que pensavam, refletiam ou riam eram uma ameaça para um Regime Totalitário e por isso perseguidos e punidos. Ala para a Sibéria para saber o que é bom para a tosse!

Praga é uma cidade muito charmosa e eu conhecia-a no Verão. Ainda era tudo muito barato para três kompanheiros kamaradas da vida airada que com os seus 18, 19 anos - eu era a garota mais nova, depois vinha o Xico ou o Tiago. Isso não interessa. A idade nem o género não são postos - viajavam de comboio/ trem dormindo de noite nas viagens ou ao relento nas estações centrais das cidades. Passeamos pelo centro, onde havia espetáculos de rua. Uma novidade para mim! Procuramos sair do centro para comer algo dum lugar que não turístico e beber - claro - uma cerveja techeca! Encontramos. Claro! Uma questão de sair do fluxo turístico para ir ao encontro de pessoas que ainda vivem a cidade com outros focos que não meramente o turístico. Alguém entrou para vender bouquês de flores. Um senhor que estava ao balcão comprou e ofereceu-me. Eu gosto de receber flores, e nem sempre recebo. Fiquei feliz com o gesto e não tomei como um gesto malicioso. Tomei como um gesto de amorosidade poética. Principalmente porque visivelmente estava acompanhada e quando há respeito tudo pode ser viável. Seguimos viagem, passando por aquelas pontes lindíssimas, onde um dia Kafka não desejou mais passar por ser judeu perseguido, não pelos alemães e sim pela URSS, e ser atormentado com a relação com o pai. Era no mínimo justo que Praga lhe prestasse essa homenagem. Mas que o turismo é uma praga do capitalismo... Lá isso é! Ufa!... Ninguém merece! Ai fadinho! Atira-te ao maaaar e diz que te " empurraaaareeeeem"!

Numa das pontes de Praga joguei o ramo de flores brancos e vi-o descer rio abaixo num serpenteio poético. Como uma ode à vida que vai para lá das ideologias que servem poderes que tolhem ou ou que pelo menos tentam.



A Piu
B'Olhão Geralzen Bêerre 08/07/2019







Franz Kafka Andy Warhol, nascido como Andrew Warhola (Pittsburgh, 6 de agosto de 1928 — Nova Iorque, 22 de fevereiro de 1987) Andy Warhol, nascido Andrew Warhola, foi um pintor e cineasta norte-americano, bem como uma figura maior do movimento de pop art.
FERNANDO PESSOA por Júlio Artur da Silva Pomar (Lisboa, 10 de janeiro de 1926 — Lisboa, 22 de maio de 2018) foi um artista plástico/pintor português.) Pertenceu à 3ª geração de pintores modernistas portugueses, sendo autor de uma obra multifacetada, centrada na pintura, desenho, cerâmica e gravura, com importantes desenvolvimentos nos domínios da tridimensão ou da escrita.



Sem comentários:

Enviar um comentário