terça-feira, 9 de julho de 2019

MEMÓRIAS COLORIDAS E A PRETO E BRANCO DA POLÓNIA DOS ANOS 90

Não sei por acaso ou não começo a escrever sobre a chegada a Varsóvia enquanto no you tube o Caetano canta Sampa. Por incrível que pareça, o que até pode até parecer estranho, São Paulo com todas as suas bizarrarias e friezas é uma cidade onde as pessoas sorriem e consoante a forma como nos relacionamos e com quem nos relacionamos, por vezes até nos esquecemos que estamos naquela selva de pedra.

Depois duma breve passagem por Pilsen, na atual República Checa onde nos hospedamos no anexo independente duma casa duma senhora super simpática e atenciosa que nos levava logo pela manhã um saboroso pequeno almoço/ café da manhã por uma quantia irreal, o que era uma festa para aquelas estudantes que viajavam com algumas economias básicas. Ainda não se falava de hostel nem de airbnb. Visitamos assim a cidade da cerveja pilsen e dos emblemáticos e coloridos carros da skoda. Já dá para ver que fazíamos uma espécie de visita de estudo com baladinha. Ihihih

Chegar à Polónia, leio à distância, que foi mesmo uma prova dos nove se realmente queríamos ali ir e ali estar e fazer o que nos tínhamos proposto. O Xico já tinha avisado que depois de Berlim voltaria para Lisboa ou até mesmo antes. Mas nós os três estávamos dispostos a visitar o campo de concentração de Auschwitz. A primeira paragem seria Carcóvia. Como viajámos durante a noite adormecemos e às 7/8 da manhã estávamos em Varsóvia. A carruagem vazia, o comboio/ trem a andar. O Xico ainda deu um salto à para quedista e eu o Tiaguini a entrar para dentro dum túnel. achamos que iríamos direto para a garagem. Não! Fomos ter aos subúrbios de Varsóvia, onde massas de pessoas caminhavam em sentidos únicos. O ambiente era cinza, pesado. Tentamos pedir informações em inglês e francês. Inglório. Nunca me senti tão turistona ocidental colorida como naquela situação. Eu que passara a vida inteirinha na Península Ibérica, entre Portugal e Espanha, e a primeira vez que fui a França fora no ano anterior para apresentar num festival de teatro estudantil curiosamente " Os Possessos" do Dostoievski encenado por uma polaca/ polonesa que adorava cueca cuela e o ocidente.

Conseguimos voltar a Varsóvia e encontrar, após várias peripécias, o nosso amigo Xico. Ah! Mas queríamos ligar para casa para informar que estava tudo a correr sobre rodas! Em 1992 até já deveria haver aparelhos eletrónicos, mas a maioria não os tinha. Eu fui ter em 98. Ligavamos de cabines telefónicas/ orelhões ou dos correios. Este gesto que aqui mostro foi o gesto que fiz para perguntar onde havia um telefone público em Varsóvia. " Telephono", " Telefone" " Tel fonne". Nada. Nem o gesto... Deram-me um cigarro. Pena que não tinham um cachimbo igual ao do gesto ou um charuto havana. Bom acho que foi o blá blá que salvou. Não lembro.

Descemos finalmente para Cracóvia e depois para Auschwitz. É uma redundância dizer que essa visita foi a mais marcante e pesada da viagem. Se muitos não sabem o que é um campo de concentração, seja nazi ou não, urge informarem-se. Aqui no Brasil é muito urgente o cidadão comum informar-se sobre tudo isso. O que é comunismo, fascismo, etc. Ah! E hoje é feriado no Estado de São Paulo ao movimento contra a ditadura de Getúlio Vargas realizada pelos paulistas em 1932. Conhecermos a História é um ato de cidadania consciente para que não defendamos princípios, ideias e pessoas que seguem o caminho da mediocridade e ao limite da boçalidade nefasta. O Jair Coisinho é um medíocre e quem o ainda defende, não porque acredita nele mas por orgulho ferido de ter apostado no cavalo errado só para não dar um voto ao PT, precisa de escutar o seu coração, abri-lo para desejar felicidade a todos os seres e que estes se libertem do seu sofrimento e do sofrimento que causam aos outros e ao meio ambiente.

Em Auschwitz tive um piripaque - adoro esta palavra que aprendi no Brasil, soa a onomatopeia de desenho animado. E que piripaque foi esse? Na época eu tinha o cabelo muito curto. O nariz e os olhos de sempre. Claro! Revi-me nas fotos das prisioneiras. Eu tenho rosto de judia e também entre polacos/ poloneses perguntam se sou uma deles. Mas nesse campo não estiveram só judeus. Estiveram ciganos, homossexuais, pessoas com deficiências físicas e défices mentais, todos os que se opunham ao nazismo, nomeadamente alemães. Por isso, muita atenção quando se fala, como já escutei, que todos os alemães são nazis....Também há que estarmos atentos ao lobby judeu, cujo respeito nutro  pelas vitimas e todos que contribuem para a Humanidade, que só fala deles próprios como vitimas do Holocausto e que até hoje são cometidas atrocidades na Palestina com o povo que já lá vivia, em que muitos são árabes.


Bom, depois da Polónia seguimos para Berlim onde ainda vimos pedaços de muro, mas desta vez eu ainda me alojei na parte oeste. Nos anos seguintes conheceria Berlim leste que ainda estava assarapantado com o capitalismo. Numa dúvida existencial se afinal tinha sido uma boa escolha ou não. Qual o preço da liberdade? Esse é o próximo texto para quem gosta de ler e compartilhar a sua escrita  nestes tempos de rapidez e imagem.

A Piu
Br, 09/07/2019

Hello! Salut! Tele phone? Tele fono! Telephen!
Cigarro? Só se for um havana com sabor a banana!


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