segunda-feira, 1 de julho de 2019

O SÁBIO TEMPO DE FIRMEZA E DOÇURA

Hoje escrevo sobre a importância para mim da criação deste espetáculo de palhaçaria feminina sobre a violência contra a mulher. Como nunca processei judicialmente um ser ou outro por assédio, ameaças e outras coisitas más ofereço / ofereçemos ,  com a equipe que tenho a  honra de fazer parte, este testemunho na primeira pessoa ressignificado nesta linguagem artística.

No texto passado quase que prometi escrever um texto sobre o abuso e a violência exercida igualmente pelas mulheres, muitas vezes aproveitando-se da bandeira do sagrado feminino e do feminismo. Quase que prometi, não! Prometi! E o prometido é devido. Palavra é palavra. O que está dito está falado e nunca esquecer que na palavra e nas ações a honra deve andar ombro a ombro e dormir em conchinha. Não falar inutilmente já é um grande passo para dissolver mal entendidos.

Mas é necessário fechar este ciclo de entendimento da lógica de comportamentos machistas que muitos e muitas de nós exercemos muitas vezes inconscientemente, com a diferença que existem um determinado grupo que opta por esse estilo de vida macho alphice.

Como escrevi no texto anterior, por mais emancipados e emancipadas que possamos ser ou ter a ideia que somos de vez em quando corremos o risco de cair numa grande cilada abusiva. Porquê? Muitas vezes porque fomos peg@s de surpresa. Não tínhamos esse referencial que ainda existiam homens e/ou mulheres que não querem estabelecer uma relação saudável, construtiva e de cumplicidade e sim vêm na outra pessoa uma forma de exercer o seu poder de controle e projetarem todos os seus monstros interiores e vícios de comportamentos sociais. Mas também esses seres não surgem à toa, de alguma forma eles espelham algo de nós que precisamos de olhar e rever. Nem que seja a ingenuidade e até mesmo um certo e determinado orgulho da nossa parte. Esse exercício de honestidade para com nós mesm@s é minimamente necessário, para que não repitamos a mesma encrencada.

Até hoje é-me bastante desafiador e até mesmo difícil de entender um comportamento machista onde quem o exerce acha que os homens podem tudo, seduzir, dar em cima, lambuzarem-se, usar e abusar e a mulher precisa de se resignar a um lugar de resignação. O que é mais estranho é que no campo da da dita paquera a mulher é paquerada, admirada mas ao mesmo tempo desprezada. Uma bizarraria que só posso denominar como bipolar. É esperado da mulher que esta seja sedutora, mas até um certo ponto para não ser vista como fácil. Não entendo. Ela precisa de ser gostosa mas não. Só gostosa para ele, mas  mais ou menos. Que confusão. Os meuzolhos ficam a modos que esbugalhados sem entender o modo de operar. A mim tira-me a espontaneidade e até a tal vontade de paquerar, porque nunca sei o que é esperado e não esperado e ainda se corre a iminência de se receber um presente envenenado. Se por um lado o homem adora que lhe amaciem o ego, principalmente se for um vasto séquito de mulherada -  tipo: " Ai gostoso! Fica comigo, vai gatão! Eu sou melhor que aquela lá! " - já da mulher espera-se que seja ardente e recatada. Bizarro! Muito bizarro! Ah! Não falando que no meu ponto de vista a disputa seja por lá quem for é medíocre, porque o que é para acontecer acontece sem maratona nem passar a perna. Passar a perna não é um ato de amor e sim de avidez, de ego. Por isso é muito mais interessante interessarmos-nos por alguém que nos observa e que nós observamos ao invés de vir para cima de olhos esbugalhados tal qual lobo mau sedento por um pedaço de carne.

Quando temos a " sorte" ( :P ) de nos relacionarmos com um machista de gema, mesmo que aparente ser o descolado dos descolados onde ser bixo grilo dá aquele glamour que no final das contas quem é a pãozinho sem sal burguesita somos nós, aí vemos o quanto o amor nos pode cegar. Depois surgem os impropérios. Se somos negras e ele branco é porque somos negras. Se somos brancas e ele negro é porque somos brancas. Se somos europeias e e eles americanos, africanos, asiáticos ou oceânicos é por que somos europeias. Nesse caso, se somos europeias é porque somos ricas e eles pobres. Olha a ideia feita, fruto do desconhecimento! Se eles são ricos, ou aparentam, é porque não estamos à altura da sua condição e classe. Se temos o cabelo cumprido ou curto, se vestimos calças justinhas ou andamos de pernas à mostra, se nos realizamos na nossa profissão ou não, se temos uns grandes dentes de coelho ou uns dentinhos ralos, se rimos alto ou não rimos. Tudo pode  servir de argumento para nos desconsiderarem e ao limite tentarem ofender.

Um ser de comportamentos macho alpha não suporta que tenhamos relações amorosas com outros seres depois da experiência com o dito cujo. Mas o que é que o sujeito quer? Na minha terra diz-se assim, curto e grosso: " Nem fo... de ( ai nem pode! digo!  ;) ) nem sai de cima! " Então, temos que parar, respirar fundo, tirar essa pedra do sapato pois caminhar assim criam-se calos desnecessários. Até a pessoa entender que a mulher não lhe pertence e fazer aquele exercício de memória de quando usou outras mulheres e seus desempenhos e dotes libidinosos só para a diminuir e falar que a nossa pessoa estava dispensada dos seus desejos carnais. Oh meu amigo! É para o lado que eu durmo melhor! Ihihih Aliás, é um tanto ou quanto constrangedor realizar que alguém com quem partilhamos intimidade possa recorrer a um impropério tão raso. Boa viagem! Siga! Ihihih Vai-te lambuzar para depois da esquina! Ihihih

A questão é que nem sempre dá vontade de rir, principalmente quando o sujeito de comportamento macho alpha que negligenciou uma série de coisas, nomeadamente a paternidade assim como o respeito a outro ser humano que gerou um filho ou uma filha sua, ou que não gerou nada apenas teve uma affair, um casito de ocasião por vezes até platónico, insiste em perseguir ao invés de acalmar o coração e decidir dar o seu melhor nem que seja observar que nunca lhe foi exigido nada judicialmente, embora a lei preveja.

Mas por vibrar em sentimentos de medo, culpa e algumas vezes de raiva a pessoa reage desta forma. Então, da minha parte só posso desejar profundamente que a pessoa encontre as verdadeiras causas da sua felicidade e supere as verdadeiras causas do seu sofrimento e seja feliz verdadeiramente deixando que os demais sigam também esse caminho de entendimento.

Resumindo e concluindo, muitas vezes fui criticada por não abrir nenhum processo judicial em relação a nada nem a ninguém. Não me arrependo, pois apesar de tudo gostaria e desejo que o entendimento, que a consciência se expanda através do sábio tempo. Mas chegou a hora de nos apaziguarmos com tudo e a forma que nós nesta equipe encontramos foi a de criar este trabalho com vista a trazer benefícios para todos.

Também quero deixar aqui um grande agradecimento à Waxi Yawanawa com quem tive a honra de participar dos seus trabalhos de cura espiritual e que é uma das primeiras mulheres pajé do povo Yawanawa do Estado do Acre. Gratidão infinita à sua firmeza e carinho pela minha pessoa e por todas que encontra na sua caminhada. Também deixo o meu agradecimento aos pajés do povo Huni Kuin do Estado do Acre e aos espíritos da floresta que nos recordam de onde viemos e o nosso propósito de estar aqui. Haux haux! que sejamos metaforicamente flechados no coração e deste saiam beija flores de bem aventurança para todos.


A Piu
Br, 01/07/2018


Porém as leis existem e esta é efetiva quando o diálogo e o entendimento não acontecem:
Lei Maria da Penha no Brasil – (lei 11.340 – 07 de agosto de 2006).

Ah não se esqueça de curtir, se curte, a página no facebook " Ar Dulce Ar"- espetáculo de palhaçaria feminina sobre erradicação da violência contra a mulher com Geni Viegas e Ana Piu com direção de Leonardo Tonon e assessoria artística de Adelvane Neia. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/
foto de ensaio: Leonardo Tonon
Última cena em que Mafalda dos Reis ( Geni Viegas) torna-se uma apresentadora famosa de talk shows e convida a sua amiga Bell Trana D'Tall ( Ana Piu) a falar do livro que escreveu sobre a superação de toda a sua história, dedicando o seu livro a mulheres com U de União e homens com H de Humanidade.





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