Atravessei o deserto. Quase, quase morri de sede. Pareceu-me ver o paraíso. Sol demasiado na cabeça. Lutei contra uma tempestade de areia. A areia alisou-me a pele. Rejuvenesci. Senti fome, uma fome do estômago se colar às costas. Chorei de fraqueza. Chorei e depois adormeci para não sentir mais fome. Dias e dias a trote andei. Um oásis. Ali fiquei. Permaneci. Tive de continuar caminho. O verde das árvores despediu-se de mim, ao fundo. Lá no horizonte. Continuei o meu trote cadenciado. Dias e dias a fio. Saciei-me com apenas uma gotinha de água e da visão do oásis, lá muito ao fundo. Caminhei sabendo intimamente que mais à frente me despediria da aridez do deserto. Rebolei do alto duma duna até cá abaixo. Ri-me de alegria. Alegria de rebolar e sentir aquela cócega na barriga. Abri os olhos e levei com um grandessíssimo flash de luz. Um raio de sol trespassou o meu olhar. Resisti de olhos abertos a essa ofuscação. Mais tarde escutei músicas antigas à luz duma lua cheia e gorda que delicadamente beijava o horizonte.
A piU
Br, 24 de Julho de 2012-07-25
Ana Piu em Palmela/ Portugal
foto: António Tavares
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