Escrava
caprichosa era uma belezura de mulher. Não é que fosse bela, até poderia sê-lo,
mas o que ressaltava à vista era aquele corpo escultural impecável. Impecável
era o termo. Mãe de três filhos e um corpo impecável. Nem uma prega a mais, nem
a menos. Bom havia umas tantas, mas estavam escondidas.
Escrava
caprichosa também era uma dona de casa impecável. A mulher a dias alinhava as lides e a escrava caprichosa
mantinha. Durante o dia escrava caprichosa atendia ao público numa repartição
pública. E o seu trato era impecável. As pessoas muitas vezes impacientes e
sentindo-se injustiçadas e ela sempre impecável. Tentava ajudar as pessoas da
melhor maneira. Nas horas de menor fluxo lá ia ela para a net conhecer pessoas.
Homens bonitos, por exemplo. De aspecto impecável. Finalizado o horário de
expediente ia buscar as crianças à escola, como todos os dias, e dava-lhes
banho e fazia o jantar para a família toda. Depois o marido colocava a louça na
máquina, porque nisso ele era impecável. Nesse aspecto não se podia queixar.
Louça e roupa para dentro da máquina era com o marido. E as migalhas do sofá
era também ele que aspirava.
Escravo
Durão gostava da mulher. Fazia-lhe todas as vontades. Cansado do trabalho, nem
sempre tinha tempo para ela. Gosta dela, mas esta exigia muito. Roupas
impecáveis, férias de sonho, restaurantes de crescer água na boca. Gostava de
sair com ela. Faziam cá um vistaço! Escravo Durão gosta de corpos esbeltos.
Gosta do corpo da mulher, mas também gosta de dar uma espiadinha naqueles que
aparecem na net. Escravo Durão fica cada vez mais durão, porque o dinheiro não
chegava para tudo. A escola dos miúdos, a ama para ficar com eles quando iam ao
restaurante de crescer água na boca, as férias de sonho multiplicadas por 5.
Escravo Durão já não agüenta aquela vida! Precisa dar uma escapadela. Mas de
forma impecável.
De noite,
quando os miúdos se vão deitar Escravo Durão e Escrava Caprichosa vai cada um
para o seu computador e dão as suas escapadelas virtuais, mas num segredo
impecável.
Escravo
Durão marca um encontro com uma moça que diz que “é solteira todos os dias”.
Dia 2 às 20h. Boa hora para se dizer em casa que se tem uma reunião.
Escrava Caprichosa
marca um encontro com um homem bem parecido que diz “que se sente só”. Dia 2 Às
20h. Boa hora para se dizer que se tem dentista. Os miúdos ficam com uma amiga desta
vez.
Escravo
Durão espera a moça no escuro. Foi ela que marcou. Ela vem de rompante e
beija-o por de trás. A partir daí a imaginação pode ser fértil. Escravo Durão
há muito que não sentia a sua virilidade daquela maneira. E a moça, a Escrava caprichosa
que não se tinha ainda dado conta que era a Escravo Durão que tinha entregue toda a sua fantasia contida
durante anos e anos, movia-se como um gato selvagem. Finalizado o ato
combinaram novo encontro. Ofegantes nem se olharam. Novo encontro. Novo êxtase. Mas de repente,
no momento exato do auge se depararam com o rosto um do outro. Acabado o ato
nem se falaram e como dois desconhecidos tomaram o seu caminho sem se
despedirem.
Umas semanas
mais tarde em casa, Escravo Durão perguntou se poderiam reconsiderar a relação,
reconstrui-la ao que Escrava Caprichosa respondeu: “Não quero compromissos.
Estou bem com a vida que tenho, mas podemo-nos encontrar em segredo. Sem que
ninguém saiba.”
Qualquer
semelhança com a realidade é pura coincidência. Mas há fagulhas da realidade
que são inspiradoras.
A piU
Br, 15 de
Agosto de 2012
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