segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A mulher

A mulher mudou a página. Uma folha velha, amarelecida. Gasta pelo tempo. A mulher virou a página e seguiu para o capítulo seguinte. Algumas folhas em branco, outras numa língua estranha. Semelhante, mas estranha. A mulher não desistiu de continuar a tentar ler. As pálpebras caíam. Tentava segurá-las. Um vazio no estômago. A mulher no meio do caminho. Um caminho ora que se abre, ora se esconde por
entre a vegetação. A mulher tem de abrir caminho. Só tem as mãos para o fazer. Arranja mil e uma distracções para não arregaçar as mangas. O caminho está na frente. Voltar para trás? Porquê voltar para trás? As pernas fraquejam, mas não caem totalmente. Abre os olhos. Fixa um ponto. Mantêm o equilíbrio. Cai no chão. Sentirem pena, não. Levanta-se devagarinho. Restabelece-se. Vira uma página, vira outra. Lança mãos, pés, tronco ao caminho. Não olha para trás. Olha para os lados, para a frente. Mas para trás não. E num impulso dá um salto erguendo o peito como se duas molas os pés tivessem. Tenta agarrar uma nuvem. Cai e repõe-se. Percebe que uma nuvem se esvai entre as mãos. Fixa o olhar num troco de uma árvore de grossas raízes e záááásssss! Nunca mais pára! De galho em galho de árvore em árvore sempre se lançando no espaço e de olhar fixo no horizonte.

A piU
Br, 23.08.2012

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