segunda-feira, 21 de novembro de 2022

NÓSOUTRAS, AS MOURAS


Mouras ou moiras? Louras ou loiras? Moiras morenas e mouras loiras? Elas lavam a louça ou a loiça? Mouras encantadas ou desencontradas? Nós viemos do fundo dos tempos,tanto do sul como do norte,fruto de batalhas cruzadas, segundo reza a história oficial. Somos mouras vindas de África, celtas vindas do centro da Europa, visigodas vindas de territórios germânicos e escandinávos, latinas vindas do imperio romana, etc, etc, etc. 

As descendentes de mouras, entre oitras (?!) descendencias passeiam pelo porto de Peniche três anos após a queda do fascimo. Tem a petiz Ana, ao lado de sua avó, seguida por sua mãe e finalmente sua tia. Não, desta vez não fomos visitar a Fortaleza de Peniche, prisão que a partir de 1934 isola presos políticos anti fascistas antes de estes serem deportados para prisões nas ex colónias em África. Já se vem que os indesejados ao bom funcionamento da sociedade portuguesa sobre o mote " Deus, pátria, família" não eram mandados para terras de África para colonizarem os povos originários e sim para apodrecerem no Tarrafal, em Cabo Verde e outros presídios. Curiosamente nunca vi nenhuma foto de turistas brasileiros na frente da Fortaleza de Peniche ou de Caxias. Já em frente ao Padrão dos Descobrimentos e ao Mosteiro dos Jerónimos é às mãos cheias, com a ambiguidade que transita entre o deslumbre, a sonsalheira de acharem que os todos os portugueses são colonizadores e eles não. Sendo que os mesmos é que gozam dos privilégios duma sociedade tão desigual como a brasileira que ainda perpetua práticas colonialistas. Pouco sabem da História de Portugal e a do Brasil também roça o duvidoso. Enfim, nada que eu não tenha escrito anteriormente. Só se torna um pouco intrigante o porquê de alguém se dar ao trabalho de investir em atravessar o oceano, seja para turistar, trabalhar ou estudar em que além de não nutrir afinidade com o povo português ainda acha que ali vai encontrar a terra das oportunidades ou que vai ajustar contas com esse povo, fruto dum ranço histórico que lhe foi passado na escola sem filtro. Oh Lula,pá, faz lá o favor de acalmar os teus conterrâneos,  dá-lhes condições para voltarem já que muitos se arrependeram dessa ilusão em massa e dignifica o ensino da História na sua potência máxima. Parabéns, Lula, por neste teu governo ser implantado o Ministério dos Povos Originários. Demorou, mas agora vai! 

Aqui temos três gerações de mulheres, mãe com duas filhas e uma neta, num momento de transição, de democratização digamos. A matriarca é uma trabalhadora braçal como tantas outras, as suas filhas estudarão para datilografar e os afins das papeladas próprias de trabalhar na frente duma secretária. Já "piquenita" sou eu cuja avó dizia: " Vocês agora teem tudo e não dão valor a nada!". Realmente quem passou uma vida com muito pouco ou quase nada ter alguma coisa já era ter tudo e não deixo de lhe dar razão. Parece que quanto mais se tem, menos valor se dá a cada coisa. Não verdade não precisamos de tantas coisas e sim da dignidade de não vivermos na penúria e em situações precárias, ditadas por um mercado de trabalho neo liberal.

Da minha parte ser apologista do que o que é bom é sermos eternamente " coitadinhas e probezinhas"... pá, não me parece que seja por aí. E isso não nos faz madames. Nada contra as madames. O que é ser madame? É gostar de se cuidar, ter estilo, apreciar comidas, viagens, lugares que durante gerações lhe foi negado e que agora pode usufruir fruto do seu trabalho e da sua rede familiar que também é trabalhadora? Ser madame é ter o real prazer de ajudar e apoir outras mulheres a se ergurem? Ou ser madame é achar que é mais que xs outrxs e o que o valor do trabalho alheio é muito pouco ou quase nada?

Em criança eu ficava muito curiosa por saber o que estava para lá do horizonte do mar. Curiosidades dum espirito aventureiro, mas nem por isso colonialista. Vamos  devagar em relação a essas conclusões precipitadas forjadas no preconceito fruto desse ranço histórico. Em suma: " Menas, seja menas e escutemo-nos mais e assim os encontros tem o frescor de se verem livres de ranços!"

Até ao próximo texto desta moura não muito loira, celta que nunca andou de asa delta, lusa umas vezes mais outras nem tanto confusa, neste mês da  Consciência Negra, importantissimo para a sociedade brasileira e todo esse processo histórico carente de reparos aqui e além mar. 

A Piu

Br, 21/11/2022

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