quarta-feira, 30 de novembro de 2022

ANGELI NUM DOS AUGES DO SEU MELHOR


 

Angeli- É, as pessoas vinham dizer que me adoravam,acordavam e a primeira coisa que faziam era ler a minha tira, e eu dizia: "pô, eu sou demai". Aí fiz o Walter Ego, porque achei que tava na hora de dar uma baixada na bola, eu não me aguentava mais. Então resolvi fazer o Walter, construir o personagem, inclusive para funcionar como uma terapia, era uma maneira de eu percebet o quanto era ridiculo ser o Walter Ego; em certos momomentos quando eu infalava , era só lembrar dele. Depois, com o Bibelô, que era a mesma coisa. Sou de famílioa italiana, da periferia, me educaram acreditando que melhor fosse um enfeite, um adereço para a minha vida, uma coisa para eu usar e jogar fora, tipo açougue. No italiano, principalmente, isso é muito forte. Uam vez num bar, uma amiga veio me dizer que eu chegava a incomodar, atacando todas. Aí comecei a rever essa postura, saquei que era verdade, devia ser chato pra cacete aquilo de ficar ali lançando olhares, querendo caçar todo mundo. Então fiz o Bibelô. Quando eu me empólgava era só pensar como o Bibelô é rídiculo. É uma terapia, uma forma de terapia. Todos esses personagens foram resolvendo coisas minhas; o Bob Cuspe resolveu uma certa vergonha que eu tinha de ser da periferia, de família de classe média baixa. Durante muito tempo tive problemas com isso, eu chegava devendo nos lugares, e o Bob Cuspe me deu um certo orgulho disso. 


Entrevista " O matador de personagens" a Angeli na revista Mil Perigos nº5, 1991.

Tiras: Angeli

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