(...) Mas o Nilson não percebeu que existem vários tipos e formas de luta, vários tipos de fome. Tem a fome cultural, a fome da informação, não vamos reduzir o problema, deixar a coisa pequenininha. E o Nilson começou a assumir uma postura de criticar todo o mundo que não estava na do Henfil. O cara acredita que ele é a mão do povo que desenha. E isso me irrita profundamente por ser uma postura paternalista e falsamente heróica, tipo " vamos falar pro povo o caminho que ele tem que seguir". Só que eu parei de pensar assim quando percebi que quem estava indicado o caminho era o próprio povo. Acho que posso colaborar muito para o avanço do Brasil e da cultura brasileira sendo original e verdadeiro. Não adiante dizer " vou para a caatinga sentir os problemas do povo" se eu sou um ser urbano, eu só vou ser bom se colocar esse lado urbano no meu trabalho. Se eu começar a desenhar caras no meio do sertão, da seca, posso estar cometendo erros, falando de coisas que não conheço. eu sentia isso em relação ao Henfil, ma o Henfil tinha o seu direito, e sua genialidade tinha um trabalho construidissimo. E aí vem um sub-Henfil dizendo que vai continuar a saga do mestre! Pô, mas que merda, mas que coisa mais de viúva cristã, que falta de originalidade!
entrevista " O matador de personagens" a Angeli na revista Mil Perigos nº5, 1991.
Tiras: Angeli
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