Em criança a minha dizia mãe que não se canta nem se usa chapéu à mesa. Nunca entendi porquê, mas já não fui a tempo de perguntar. Comer de boca aberta, mastigar e sorver sonoramente até entendo. Agora qual é o problema de cantar de chapéu à mesa?..... Aqui estou eu a dançar; talvez alguém num ato de rebeldia esteja a cantar do outro lado da mesa e de seguida eu sorva sonoramente a minha laranjada e alguém animado jogue um chapéu de viking ( o meu irmão tinha um nesta época) ao ar e um dos cornos do dito chapéu se vá espetar no braço de alguém, se for uma visita.... ooops mas só de brincadeira que nós não fomos educados a bater nos outros!
Uma coisa é certa, que tenho aprendido nos últimos tempos: Se comer e beber até cair para o lado escolha bem as companhias e não converse sobre qualquer coisa com seres vivos que acabou de conhecer. Principalmente sobre política e história. A festa pode acabar duma forma brusca, e duma forma imprevisível e até surpreendente, pois aquela russinha de má pêlo que quer casar e não tem cabelo ( era assim que o meu avô chamava a minha mãe e a mim enquanto fui russinha , mas casando ou não já era um orgulho para ele saber que eu sabia colocar pratos e talheres e copos com guardanapos na mesa. Que orgulho o do meu avô!) Mal sabia ele que quando a conversa dá para o torto eu, em honra à sua condição de trabalhador braçal alfabetizado, mas com os seus estudos básicos, eu viro a mesa ( em sentido figurado) que é uma beleza. Nem preciso de beber qualquer beberaje, seja de laranja, uva, cevada ou milho. Mas se beber também é chato. O botão clica quando é desrespeitada a minha força de trabalho ou a força de trabalho de outros que significa a dignidade do nosso sustento, assim como todas as lutas que isso envolve. Vou aos ares, o peito abre-se como se fosse voar para cima da pessoa e o surto é muitas vezes garantido. Ninguém sai ferido fisicamente, mas que pode assustar pode. De cordialidade não tem mesmo nada. É mais ou menos o equivalente aquelas pessoas que vivem na periferia e que de tanto serem segregadas e exploradas um dia explodem ou vão explodindo. Claro que não me poderei comparar literalmente a uma pessoa da periferia de tez mais escura que muitas vezes vive sem o saneamento básico e é criminalizada sistematicamente,mas existem sentimento de indignação por vezes semelhantes. Até mesmo por acontecer isso com elas. Já do outro lado, que se pode assustar com esse virar de mesa porque em algum ponto negligenciou a sua sensibilidade para com terceiros poderá eventualmente dizer que foi agredida fisicamente quando levou com um berro de basta no rosto. É chato? É. Mas também é chato mentir. Como tal, esse papo que considero furado em que se alega que a razão pela qual muitos brasileiros e querem morar no exterior por se sentirem inseguros no Brasil talvez estes tenham de repensar as suas atitudes em relação aos outros seres humanos. Sejam estes de outra cor, outro estrato social, trabalhadores ou moradores de rua. Alguém que está num lugar privilégiado e recusas-se a dar a mão, mesmo quando usa frases chave " Ninguém larga a mão de ninguém" ou que pelo contrário defende que " bandido bom é bandido morto" talvez se preste a que algo não tão diplomático aconteça. Pois não enxergou um todo e somento o que lhe convinha e lhe dava vantagem.
Enquanto for da russinha de má pêlo será umas punkalhadas do bem esses chacoalhos. O pior é quando é de alguém que não é convidado para as suas festas e é barrado nos terminais rodoviários para participar dum Carnaval de rua que supostamente deveria ser para todos. Assim andarão sempre inseguros e não haverá céu para tantos helicópteros. Quanto à consciência das suas mentirinhas cada um terá de fazer o seu próprio exame. Numa grande maioria dos casos somos nós que criamos a nossa própria insegurança quando não somos empáticos e gostamos de brincar de Pinóquio e encarná-lo a vida inteirinha.
Beijos e abraços desta russa de má pêlo que deseja um mundo mais belo
A Piu
Campinas SP 28/02/2010
Campinas SP 28/02/2010
Sem comentários:
Enviar um comentário