quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

NA ARCA DA ANA ARCA

Patrícia Galvão, conhecida como Pagu (1910- 1962), é uma das principais personalidades femininas do século XX no Brasil. Participante do movimento antropofágico, teve militância política e intelectual. Sua produção jornalística abrange quatro décadas. (...) Seu companheiro mais conhecido foi o modernista Oswaldo de Andrade ( 1890) - 1954). As escolhas amorosas do escritor também eram um indicativo de que ele valorizou mulheres combatentes que ousaram desafiar de diferentes maneiras a sociedade atrasado do seu tempo, exercendo a função de bailarina, pintora, militante ou estudante normalista. Entre essas mulheres, destaca-se a pintora Tarsila do Amaral (1886- 1973), que encantava a todos. (...) Ela sabia que o escritor não a amava. Ele admirava a sua inquietude e coragem. '" Procurava em mim o que  OUTRAS MULHERES NÕ POSSUÍAM." mais tarde, conta que, numa ocasião em que estava terminando de datilografar um artigo de Oswaldo, ele lhe falou que tinha marcado um encontro com uma tal de Lélia. " É uma aventura  que me interessa. Quero ver se a garota é virgem. Apenas curiosidade sexual." Oswaldo contou-lhe isso como se ela fosse um seu companheiro, no início de uma aventura. Pagu ocultou o tremendo choque que essas palavras produziram, pois tinham decidido que a vida deles seria pautada pela liberdade absoluta.
Do Carmo, Paulo Sérgio " Prazeres e pecados do sexo na história do Brasil"
Ed. Sesc . SP: 2019
Dando continuidade aos textos escritos especialmente para a página " AR DULCE AR" no facebook sobre palhaçaria feminina, violência contra  a mulher e relações abusivas vou compartilhar o meu ponto de vista sobre poligamia, monogamia e poliamor. Sublinho que é o meu ponto de vista, porque outros pontos de vista tanto no seio desta equipe de trabalho como quem lê pode ou não compartilhar desta mesma opinião. Logo, o que eu penso ou o que outra pessoa pensa não são verdades absolutas e sim opiniões, pontos de vista, visões de mundo segundo as nossas experiências e referências. Porém, uma opinião deve-se sustentar para não cair num achismo. Um achismo, como a própria palavra indica. é achar muitas vezes duma forma superficial. Acredito que para formar uma opinião precisamos de escutar, observar, viver, informar-nos antes de cair na nossa própria ignorância fruto de condicionamentos, sejam estes familiares, sociais, culturais, económicos. O que for.

Para sabermos mais profundamente quem somos, o que nos levou até este preciso ponto onde nos encontramos muitas vezes à deriva mas aqui no agora, precisamos de ir lá atrás. Ao estudar a história do Brasil estou a estudar também a história do meu país natal: Portugal. Aliás, do meu e de muitos que poderão ler este texto assim como os filhos ou netos, bisnetos daqueles que um dia por motivos vários emigraram para o Brasil. Logo, desde já assumamos o nosso passado comum com responsabilidade de daqui para a frente fazermos diferente ao invés de apontar dedos. Sem escárnio. Combinado? ;) Vamos rir de nós mesmxs para nos libertarmos ao invés da piadinha de português que no final das contas é piadinha do avô, da avó ou até mesmo do pai e da mãe. <3

Ao ler o livro acima referido dou-me conta que a história, não só do Brasil, é pautada por violência numa lógica patriarcal que dura há milhares de anos. As mulheres como valor de troca, a poligamia como uma prática para servir os homens e punir as mulheres na maioria das sociedades, sejam estas menos ou mais industrializadas.

Então vamos ao que me traz aqui, esperando ser breve pois as redes sociais estão repletas de informação. Muitas vezes fico naquela dúvida existencial transcendental para normal fundamental se os meus pensamentos um tanto céticos em relação ao poliamor são caretas, defendendo até um certo ponto a monogamia. Bom já não falando que me expresso dum lugar de mulher heterossexual. Mas outras pessoas falarão melhor das suas orientações sexuais, escolhas e modos de se relacionarem com ou sem afeto. Eu defendo as relações de afeto. Então tudo é possível quando existe afeto, logo respeito e escuta.

Há uns dias atrás tive um daqueles AHA ( a chamada sacada, insight) : Poliamor/ amor livre e práticas libertárias de auto gestão em coletivo só serão possíveis quando todos nos trabalharmos por dentro, quando nos permitirmos conhecer o que se passa cá dentro e a partir daí nos auto gerirmos, nos auto amarmos. Como posso pretender viver numa comunidade libertária se nem sei cuidar das coisas mais básicas do dia a dia que é lavar uma louça, manter o espaço onde descanso minimamente limpo e habitável? Como posso pretender ter um monte de casos com esta e aquela pessoa se nem a mim me entrego plenamente? Como posso esperar que  poliamor esteja enraizado no coração de cada um e cada uma se o que ainda vivemos, consciente ou inconscientemente, é centrado nas relações de possessividade, medo de perda, desconfiança, de falta de clareza e ao limite de mentira?

Aqui há um tempo assisti a um filme sobre a Yoko Ono e o John Lennon. Muito bonito quando este assume que em algumas vezes foi machista por querer o protagonismo só para ele quando ambos eram co criadores. Muito bonito também é o Lennon assumir que ao amar profundamente a Yoko Ono não havia espaço para terceiros. Isso não é ser careta. Não existem fórmulas, mas existe a prática de nos permitirmos amar de corpo e alma.

A Piu
Campinas SP 06/02/2020
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