sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O AZAR, O SURTO E A SORTE

Quando escutamos e também contamos as nossas histórias encontramos algumas semelhanças com a história de outras mulheres, independentemente do recorte geracional, social, cultural e econômico. Recolher histórias de mulheres Idosos é uma das minhas tarefas, que trago desde os tempos do mestrado em Antropologia, que no Brasil é chic estudar Antropologia. Enfim, tudo pode virar chic . Permacultura, veganismo, painéis solares, terapias holísticas e até práticas espirituais. O que é alternativo pode ser chic num estalinho de dedos. Um chiqueiro de impressionante. Mas bora ao que interessa!

Acabei de escutar hoje duma senhora de 87 anos a grande pergunta, A GRANDE QUESTÃO. Devemos fazer as perguntas certas dizem @s que seguem o caminho da espiritualidade, de conexão com nós mesmos. Hoje escutei a pergunta certa! Aquela que deveríamos fazer a vida inteira: " O que eu significo para mim mesm@?"

Quando nós sabemos quem nós somos é porque criamos intimidade com nós mesm@s, conhecendo assim as nossas sombras e a nossa luz podemos nos acolher e saber que rumo tomar. Por consequência somos capazes de criar intimidade com qualidade com quem está ao nosso lado.

Uma grande parte das mulheres não foi ou não é feliz no casamento, porém hoje muitas delas hoje podem escolher outro rumo. Embora algumas poderão correr o risco de ser perseguidas por um bom e largo tempo por quem deixaram para trás. No entanto se essa pergunta for feita desde a mais tenra idade, porque lhe foi passada, há fortes probabilidades das ciladas diminuírem.

Muitas mulheres, como esta, não encontrava uma porta de saída para os maus tratos a que estava sujeita. Aguentou apavorada até ao falecimento por doença do marido. Três décadas, até que chegou o alívio. Compreensível.

Sei de uma outra história que dá um bom roteiro, tanto de cinema como de teatro  ou de ópera. É uma história tabu, como tal nunca contada na integra pelos familiares da senhora já falecida há muitos anos atrás. Ora essa senhora, após um período em que o seu marido esteve hospitalizado, decidiu numa das suas visitas a casa presentear uma das suas refeições ou quiçá um chazinho, não sei, com uma dose considerável de veneno para rato. Resultado: chegando ao hospital, o homem ZÁS. Bateu as botas. No caso os calcanhares, pois estava acamado. Fizeram a autópsia e a senhora foi 5 anos para trás das grades.


Diante desta história eu coloco várias hipóteses para esse ato punível por lei:
1. A mulher estava cansada, exausta, daquele fardo de cuidar dum homem doente, talvez em estado terminal, e quis acelerar o processo.
2. A mulher encontrou naquela situação a oportunidade de se vingar de anos de maus tratos e sofrimento vindos do marido, sem se importar da pena que teria de cumprir. Seria até um descanso não ter que fazer comida e ainda contar para as suas companheiras de presidio o grito de liberdade, o surto ao qual ela se tinha permitido.
3. O marido era um bom homem e cansado, exausto, de estar naquele estado de saúde irreversível pediu encarecidamente à sua querida esposa para pôr término à sua vida. Isso tem um nome: eutanásia.

Eu nunca conheci essa senhora pessoalmente, só por relatos de terceiros. Porém eu tendo a ir para a segunda hipótese, perguntando ainda: Surtar é um direito ou um dever depois de muito se aguentar?
Talvez nem seja um direito nem um dever e sim uma consequência mais que compreensível. Com isto não defendo o seu ato de tirar a vida ao marido, mas o que se passa entre paredes e muitas vezes em espaço público entre marido e mulher é tão desgastante que a pessoa não aguenta mais, transitando provavelmente entre sentimento de alívio, arrependimento e não arrependimento.
Por essas e por outras que casar só por casar é um grande azar! Saber o que nós significamos para nós mesm@S é assaz deveras bastante significativo para atermos mais sorte nesta caminhada pelo mundo.

A Piu
Campinas SP 28/ 02/2020






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