terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

ARCA COM A ANA ARCA

Escrever desde  a região de Campinas, Estado de São Paulo, é muito significativo. Reza a lenda que Campinas foi o último município no Brasil  em que a escravatura foi abolida. Porém o escritor e jornalista Laurentino Gomes* veio desmentir esse mito no seu livro: " Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares". Ao que consta os seus livros sobre o assunto já venderam 25 mil exemplares. Significa que ainda há pessoas que lêem e compram livros.

Sinceramente penso que comprar um livro dum homem branco com acesso facilitado à educação superior -  não tem problema nenhum ser branco eu também sou além de portuguesa, a questão é o nosso posicionamento - que vem confirmar ou desmentir o "mito" acima referido não encontro assim tanta relevância. É como a velha história de que o colonialismo português foi mais brando (?!) e misturado que os outros tantos europeus... Granda balela!... Colonialismo é colonialismo. Subjugação é subjugação. Ponto final parágrafo. Vir suavizar uma M... da dessas ou é cinismo ou é ignorância. Ou as duas coisas.

Ah! Outro dia um brasileiro campineiro, cujos traços faciais da sua namorada pode se adivinhar descendência afro e indígena mesmo que a sua cor seja mais clareada, veio-me dizer que o Brasil nunca foi colónia e sim uma província de Portugal.. Primeiro, tentei entender onde ele queria chegar. Se me queria agradar com essa " mentirinha " para atenuar um projeto que até hoje é perpetuado no Brasil e enaltecido no " meu" Portugalito que virou um parque temático turístico para europeus com euros e outros deslumbrados por monumentos caducos, tais como o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém como exemplo dos mais icónicos. "Ai já tivemos o mundo na mão! Demos novos mundos ao mundo!" Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Enfim, um projeto neo liberal que tratou de chutar muitos portugueses qualificados para fora do país, com o pretexto da crise financeira e do desemprego galopante principalmente entre os anos de 2007 e 2016, sensivelmente, para vender o país a quem possa investir financeiramente nele, nomeadamente os aposentados brasileiros de classe média. Uma variação um pouco mais sofisticada da escravatura, pois o que muitas vezes se cria em Portugal são subempregos com salários abaixo do que é justo e sem benefícios sociais ou empregos com contratos um tanto ou quanto duvidosos em relação ao respeito e valorização de quem trabalha. E ainda há os trabalhos informais que muitos chamam de  empresário por conta individual. Nós artistas fazemos parte dos empresários por conta individual, vulgus prestadores de serviços a recibos verdes/ notas fiscais onde descontamos e não temos garantias sociais. Enfim, uma piada. A piada ainda se aguça mais quando do outro lado do mar, pessoas que poderiam estar um pouco mais informadas reproduzem o que a Globo passa. Mas eu já tenho uma na manga para a próxima que me vieram com a história que Portugal é demais: " Sim, sim. Agora o governo é socialista neo liberal. Contempla todos, até aqueles que votaram no Bozo e vieram para Portugal, não é mesmo?" Daí a pessoa pode ficar um pouco sem chão, pois aprendeu na escola tanto institucional como da vida que socialismo é uma coisa muito máááá. Enfim, a revolução é pelos afetos, aprendendo a dialogar sem querer nos jogarmos para os colarinhos da pessoa. Isto é o que aqui a Ana Arca acredita e tenta praticar no dia a dia.

Resumindo e concluindo, já é mais que hora de escutar outras vozes que não são minoria e sim são maioria. Minoria é uma elite ou um determinado números de pessoas a quem é concedida autoridade para formar opiniões públicas. E normalmente essa autoridade é reproduzida por homens brancos classe média. Não é que não possam falar, escrever, refletir, opinar como sempre fizeram. Mas é hora de escutar mulheres, homens, transgéneros de todas as cores,credos, orientações sexuais recortes sociais e culturais.

Inicialmente eu queria escrever um texto para a página "Ar Dulce Ar" sobre de que falamos quando falamos de libido, desejo e a importância dos homens escutarem. É este o momento de escutarem e desconstruírem a sua virilidade, para se tornarem mais sensuais, desconstruírem o síndrome de Don Juan, Casanova para realmente deixarem florescer o que há de melhor, de leve, de generoso, de permissão em se entregarem sem os condicionamentos fruto duma lógica patriarcal em que a competição, a disputa singram. Também queria falar de poliamor. E vou falar, mas não neste texto.

Eu também tinha escolhido esta imagem da Nina Simone para o texto dessa página para escrever sobre a importância de outras vozes femininas que não brancas e heterossexuais. E como é tão bonita esta foto não resisti e deixo aqui para não esquecer que todos países do continente americano foram colonizados à custa de escravatura. Província.... Ai ai!...


A Piu
Campinas SP 18/02/2020

https://www.acidadeon.com/campinas/docon/especial/NOT,0,0,1454542,escritor+derruba+mitos+sobre+a+escravidao+em+campinas.aspx






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