quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Cachoeira



" O tema das idades da vida inspirou pintores.(...) Um outro tema popular é o da Fonte da Juventude. No século XV,é o tema de inúmeras gravuras: numa delas,

vêem-se as mulheres mergulharem numa piscina e, assim que saem, rejuvenescidas caem nos braços dos belos jovens."

Beauvoir, Simone "A Velhice", Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

Meu querido diário, finalmente um banho de cachoeira! Rejuvenesci! Iuuuu! Não sei se fiquei mais jovem! Nem sei, nem me interessa. Gosto da minha idade!

Aaaaahhhh! GOSTO! Qual cremes, qual quê! Ler rejuvenesce-me. Escrever também. Tomar banho de cachoeira. Nem falo. Viver. Conversar. Olhar nos olhos. Rir. Comover-me. Indignar-me. Tanta coisa que a vida tem para desfrutar! Esta viagem tem sido muito louca. A quantidade de personagens, de episódios que se abeiram e se cruzam! Viajar é uma viagem! É muita booooommmmm! Encontramos o que não esperávamos encontrar, procuramos o que já lá estava, confrontar-nos com o nosso (des)conforto. Eu sou tu. Tu és eu. A diferença entre nós é que somos iguais e diferentes na nossa igualdade. Antes de ontem conhecemos o Reinaldo. O Reinaldo é uma personagem de desenho animado. Gordinho, jeans, blusa branca, suspensórios e chapéuzinho de xadrez. Mais os óculos e o seu violão. Um músico solitário e só, embriagado. Uma personagem da noite de New Orleans.Tocou para nós e connosco e bebeu cerveja à nossa custa. Porque não? Presenciei um ato de profunda solidariedade. A Teca pagou a sua dormida no hotel sem segundas intenções. ihihih O que será daquele homem depois? Continuará a

beber até cair no escoamento das ruas? Ele toca bem e também tem uma bela voz.

Continuamos viagem. Temos passado por lugares tão opressivos de tanto que são feios e precários. Imagino para quem lá vive. Entramos numa daquelas igrejas de culto com o som altissimo. Ao fim de poucos minutos um cansaço e uma tristeza abate-se em mim. Sinto vazio. Sinto alienação a zumzibar nos meus ouvidos.Olho à volta e observo nas pessoas uma grande necessidade de se encontrarem. Mas parece-me que quanto mais correm atrás de um sentido, mais fogem de si mesmas. Uma necessidade de se encontrarem no meio de tanto ruído. de encontrarem respostas numa entidade exterior a si mesmas. Será?

As paisagens por onde tenho passado são de um ruido visual e auditivo... Sinais da contemporaneidade? Excesso de estímulos. Apelos. Muita quantidade para

pouca qualidade. Pelos lugares onde passamos as casas estão inacabadas. Começadas precariamente são reflexo de vidas precárias, desenraizadas?
Nas ruas há lojas e mais lojas de inutilidades. Inúteis porque em excesso. Excesso de objetos, de drogarias repletas de fármacos, excesso de poluição de

carros que não param para o pedestre passar e salões de beleza. Desejo tanto a leveza da beleza. Sonho com a beleza da leveza. Por vezes, só desejo um pouco

de silêncio. Uma melodia que amacie o sentir e o pensar. Como pôr término a tanta loucura? Como pôr fim a todos estes novos contornos de escravatura?

Escravatura espiritual, mental, material, laboral? Parece-me que hoje, mais do que nunca, somos escravos de nossos hábitos. Hábitos de consumo. Hábitos de

manter a cabeça ocupada mesma que essa ocupação espremedinha não tenha nada de nada.E cá andamos nos nossos afazeres, super ocupados para nos sentirmos

realizados. Úteis.Promissores. Temos também o hábito de acharmos que estamos conectados. Que estamos aí. Uffff que canseira. Algumas vezes estamos conectados

outras não. Nem sempre estamos conectados com nós mesmos!Mas o que eu acho mesmo... O cá acho muita coisa! Que canseira! ffffffff Eu cá acho que nos

esquecemos de respirar. Encontrarmos-nos na plenitude, respirando, nos escutando internamente. ffffffffff De nos encontrarmos-nos na plenitude do verde da

paisagem, do cheiro da maresia, no banho da cachoeira. Um cadinho de natureza,um cadinho cadão do tamanho do quarteirão, é tão bããããõooo.Rejuvenesce e faz

bem ao coração e ao pulmão!



A piU
Br, 26 de Fev.2013

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