sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ALLESG OFFEN

Meu querido diário, ontem na fila (fila!!! aiiii! vamo lá a ver mais a tal da piadinha de como se fala fila nos Portugais! ;) ) do banco (banco.... ufff nunca mais me vejo livre dessas catedrais do endrominanço.Um dia hei-de escrever um dicionário de giria luso-brasileira, mas para bom entendedor meia palavra basta). Retomando, estava eu na fila para a caixa do multinando e numa grande e visivel placa estava inscrito as pessoas que tinham prioridade. Atrás uma senhora trazia uma criança ao colo. A fila ainda levava umas tantas ou quantas pessoas. virei-me e falei que ela tinha prioridade. A senhora hesitou. ficou parada no mesmo lugar e fez um "ãããã" de encolher os ombros. Quando chegou a minha vez não voltei a oferecer-lhe lugar. Se a pessoa não está para defender os seus direitos fazer o quê?

Meu querido diário, no dia anterior numa outra fila (!!!.... aiiiii!) desta vez do supermercado (um destes dias, quando souber trabalhar a horta deixo de lá ir de vez. putchiiiii agora sim fui longe demais no onirismo) uma senhora indignadissima dirigia-se à moça da caixa:"Sabia que agora os lugares de carros para deficientes são ocupados com mães com crianças? Eu devia ter chamado era a policia!!" Meu querido diário, eu sei que à vezes devia segurar-me mas não resisti e disse:" Acha que é caso para chamar a policia? Bom, eu às vezes tenho mais receio desses sujeitos do que daqueles que são considerados bandidos." Ao que a senhora respondeu:" Eu tenho receio dos dois! Mas qualquer dia chamo a policia! Por isso o Brasil não anda para a frente!" E em fracções de segundos a fina moeda de ouro da dita senhora caiu na mais profunda da sua essência. Olha aqui para mim, para o kamikase adestrado, e fala:"E você vá para a sua terra que lá é que está bom! (o kamikase adestrado olha primeiramente com uma surpresa genuína e depois com arma de arremeço, dando aquela pausa e silêncio teatral sem perder o timing que permite uma resposta considerada à altura do cutucanço) Sim, você é daqui? É brasileira? Vá para a sua terra!" Vai daí que mantendo a altivez low profile, abafando aquele kamikase que brota do mais profundo do ser, respondi num espanto naturalista:" Para a minha terra? Para a Alemanha?" A expressão facial da senhora estremeceu.A sua boca tremelica transtornada, desconchavada, desorientada. Balbucia:" Mas voce fala português." "Pois falo, vivi lá muitos anos. Sou da Alemanha e da Itália. Se a senhora quiser voltar para a terra vamos juntas, mais os seus antepassados que vieram para cá sem eira nem beira." (Bom, alguns não vieram... Mas para o caso não é essa a questão ou até poderia ser. Mas escolhas tinham de ser feitas sempre num estilo low profile).

Meu querido diário, agora pergunto-me: Até quando as mentes serão simplesmente sombras de algo que se anseia ir para a frente? Já agora o que é ir para a frente? Parece-me às vezes que estamos a andar para trás. E não é por ser aqui ou na Conchichina. Aqueles onirismos de que os países ditos de primeiro mundo são mais esclarecidos também andam com a data de validade caducada. Certa vez em Copenhaga,vinda de Berlim, por momentos fui uma pop star. uuuhhh de Berlim! Que máximo! Mas a coisa não desenvolveu. A curiosidade ficou só no pé da oliveira. Azeite que é bom... nada. E depois de eu ter dito o meu nome de sorriso e mão no peito (foi o primeiro gesto que surgiu) o pessoallá escarneceu entre si na sua língua, continuando o seu convivio excluindo a "estrangeira" de seu deleite social noturno. Por momentos fiquei na dúvida se o meu "My name is Ana" não teria soado "My name is Hanna!" já que o meu gesto terá soado como um salamaleque árabe. Na verdade, meu querido diário, o que eu gosto mesmo de Berlim é o bairro de Kreuzberg repleto de diásporas várias. Gosto do cosmopolitanismo da cidade cheia de parques verdes e caminhos para bicicletas. Gosto da tranquilidade das pessoas nas ruas. Dos carros que param para pedestres e ciclitas passarem. Será que é porque Berlim já viveu tantos tormentos que agora precisa um pouco de paz? Um dia ainda hei-de viver em Berlim! Pena que não tenha sol suficiente e aquele calorzinho que tanto me aquece a alma. Mas aquece-me a alma sair numa cidade de todas as cores e comer fruta vendida pelos turcos e sushi dos japoneses e rir-me com os espanhois e entabular conversa com iranianos. Quanto ao resto da Alemanha... Não sei, não. Bom, mas nada como viajar. Com muitos ou poucos recursos. Por vezes os fartos recursos até impedem que o ser vivente joge com as circunstâncias. O chamado jogo de cintura cujas relações que se estabelecem, ou não, definem de algum modo a forma de ler e estar no mundo.

foto tirada em Berlim em Setembro de 2011

a piU
Br, 1 fev.2013

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