sábado, 23 de fevereiro de 2013

A HISTÓRIA DE UM FILHO DE UMA MULHER EMANCIPADA

Cresceu com aquele odor no nariz. Aos ombros da mãe saía em grandes passeatas. Passeatas da queima do soutien.
Sempre teve problemas de ar. Asmáticos. Pobre menino. A mãe deixava o cabelo do menino João crescer. As companheiras, camaradas e amigas  exclamavam:" Que linda menina! Como se chama?" O menino João franzia os olhos e emburrava, não respondendo. "Maria João?! Que lindo! Maria João é um lindo nome para uma criança revolucionária que vem abalar com todo um conceito de género!" O menino João arrancava um moco do nariz e fazia pontaria ao buço da senhora. Mesmo à frente da mãe! A mãe não dizia nada. Alegava que a criança deve ser livre, longe das amarras e imposições sociais!
Depois o João cresceu. Muitas primaveras se seguiram até os cravos murcharem. João começou a namorar. Aliás! Levou tempo até João começar a namorar! A mãe defendia que namorar era uma imposição social e que o amor livre é que é! É que deve ser o caminho! João aos poucos foi-se emancipando de toda aquela emancipação imposta. Namorou. Casou com pompa e circunstância. Depois foi quele viver juntos. Aquele partilhar de tempo e espaço. João e Rosa (de Luxemburgo, filha de uma grande amiga da mãe). João não fazia nada em casa e ligava a meio do dia para informar que chegaria tarde, para não esperar por ele para o jantar que mandasse um beijo aos filhos.


 # Série "Ser mulher é fogo ou as mulheres emancipadas que se esqueceram de emancipar os filhos"

A piU
Br, 22 de Fev. 2013

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