Cresceu com aquele odor no nariz. Aos ombros da mãe saía em grandes passeatas. Passeatas da queima do soutien.
Sempre teve problemas de ar. Asmáticos. Pobre menino. A mãe deixava o cabelo do menino João crescer. As companheiras, camaradas e amigas exclamavam:" Que linda menina! Como se chama?" O menino João franzia os olhos e emburrava, não respondendo. "Maria João?! Que lindo! Maria João é um lindo nome para uma criança revolucionária que vem abalar com todo um conceito de género!" O menino João arrancava um moco do nariz e fazia pontaria ao buço da senhora. Mesmo à frente da mãe! A mãe não dizia nada. Alegava que a criança deve ser livre, longe das amarras e imposições sociais!
Depois o João cresceu. Muitas primaveras se seguiram até os cravos murcharem. João começou a namorar. Aliás! Levou tempo até João começar a namorar! A mãe defendia que namorar era uma imposição social e que o amor livre é que é! É que deve ser o caminho! João aos poucos foi-se emancipando de toda aquela emancipação imposta. Namorou. Casou com pompa e circunstância. Depois foi quele viver juntos. Aquele partilhar de tempo e espaço. João e Rosa (de Luxemburgo, filha de uma grande amiga da mãe). João não fazia nada em casa e ligava a meio do dia para informar que chegaria tarde, para não esperar por ele para o jantar que mandasse um beijo aos filhos.
# Série "Ser mulher é fogo ou as mulheres emancipadas que se esqueceram de emancipar os filhos"
A piU
Br, 22 de Fev. 2013
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