quarta-feira, 31 de agosto de 2022

OLARÉPIPU


 Eu não sei se muita coisa mudou em 10 anos. Viver o estado de "não sei" é um estado de abertura, de desapego das verdades absolutas, das ideias pre concebidas acerca disto, daquilo e do outro. E de nós mesmes, também. Já a dúvida que nos deixa em cima do muro da ambiguidade, de qual a intenção que está na raíz da questão do ser que pulsa e que pula e se aquieta não tem graça. Já dizia um professor meu de palhaço hospitalar. 

No meu ponto de vista, a expressão artística, literária, criativa, vá, é livre. Criatividade sem liberdade não soa muito bem. Há quem defenda que a arte d@ palhaç@ não é para tratar de coisas sérias, ou quase sérias ou mais ou menos mais para mais sérias. Palhaç@ é puro entretenimento com gags para o público rir e passar um bom bocado. Sim, é importante que o público ria se vai assistir a um espetáculo de palhaçaria ou palhaçada, yo que sei?  Mas para mim, PARA MAI SELFE MI MISMA, trazer a cena inquietações, injustiças sociais, crises internas ( que tod@s nós temos independentemente das classes sociais, privilégios ou ausências dos mesmos) é um dos meus focos do trabalho. Uma vez uma produtora disse-me que Arte não tinha nada a ver com Política. Essa é boa. Olarépipu! Também pergunto: " Uma produtora que não conhece a História da Arte e é despolitizada o que ela procura?" Sim... a indústria do entretenimento pelo entretenimento. Há lugar para tudo isso, não dá é para obrigar artistas criadores a serem entretainers só por que sim. Uns farão muito bem e está tudo certo, mas questionar através da arte é um caminho como tantos outros.

Por volta de 2012 apresentei este solo em Portugal, quando o mesmo ainda não estava na moda. Eu já vivia no Brasil, porque assim escolhi independentemente dos avanços e retrocessos das conjeturas socio políticas. Em 2012 ainda se vivia o tal "do fundo do poço" ( dívida externa, desemprego, medida de austeridade, o governo a mandar as pessoas migrarem. Uma loucura no carrossel mágico). Depois, não se sabe ao certo que golpe de mágica aconteceu ( cof cof cof pipipiripiu lá lá lá eu não sei de nada eu não sei de nada) Portugal passou a ser a terra dos sonhos para tantos e muitos. Da precariedade dos trabalhadores portugueses passou a ser o paraíso prometido de muitos brasileiros. Foi isso que me surpreendeu e até entristeceu: uma ausência de conhecimento do que se viveu e em Portugal, um deslumbre onde a solidariedade não reina nem é para reinar.

Se dizem por aí que todos os caminhos vão dar a Roma, penso que isso está um pouco ultrapassado visto a Itália não ser o exemplo de país economica e politicamente estável. Mas sei que todos os caminhos, neste momento, vão dar ao neo liberalismo. A essa lógica marafada que faz acreditar que o individualismo em massa com toques gourmetizados fajutos é que é o caminho.

Graças a quem se quer acreditar e ter fé, que para muitos é demodê, esta campanha eleitoral no Brasil não tem sido a mesma loucura de 2018. Salamaleco xangrilá! Ufa! A pessoa também tem a sua sensibilidade e não sei se aguentaria mais uma temporada de histeria. Porém, contudo, todavia chegam noticias do meu país, de Portugal, que muitos dos brasileiros que pediram cidadania portuguesa nas próximas eleiçãos no Portugalito vão votar num partideco fascista. Surpreende mas não, visto terem votado no Coiso quando já se encontravam em terras lusas. Não é que deseje mal a alguém, desejo sim consciência de quem elege boçais. Talvez seja uma utopia acreditar que as pessoas todas do mundo inteirinho tomem consciências das humanidades e desumanidades e assim elevarmos a frequência vibracional e entrarmos todos juntos pelo portal da Nova era. Aí vamos todos leves e soltes numa harmonia universal,

Sei que o neo liberalismo é feito para atender ao lucro duns tantos à custa dum mercado trabalho com direitos trabalhistas muito frágeis ou inexistentes. Por isso quando me perguntam, várias vezes:" Porque você está aqui no Brasil visto todo o mundo estar indo para Portugal?" eu tenho aprendido a respirar fundo para não dar sempre uma resposta torta. Por isso a arte salva-me. É verdade! Ihihih! Eu riu, mas é fora de brincadeiras. E o tema central do meu trabalho é: " Solidariedade". Tema bonito, não? E agora que aprofundo ainda mais o estudo de Paulo Freire, assim como de Carl Jung, tudo vai ficando mais redondinho. E rir com desconforto para mim é a cereja em cima do bolo, embora adore rir pelo prazer de rir. Com consciência, claro. Olarépipu.

Por falar em Freire e Jung! Todos os caminhos podem e devem dar ao A- M-O-R ( em vez de Roma). Olarépipu!

A Piu

Brasil, 31/08/2022

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