quinta-feira, 25 de agosto de 2022

AS PALAVRAS SÃO COMO TACADAS

 


Um anjo com um taco de baseball.... Que composição pós modérnica! Adoro! Na frente deste anjo está outro com umas luvas e uma bola. Ahahah. Só este já diz muita coisa. Eu sempre associo o baseball a um desporto -tá um esporte para ser includente - agressivo, bem norte americano, daqueles que uns doidinhos fazem questão de portar o taco na bagageira do carro como uma arma. Uma coisa insana, convenhamos. 

Esta foto pode ir para muitos textos, nomeadamente uma composição que considero artística pendurada no teto dum bar onde outrora foi a boite Djalma em plena praça Roosevelt em São Paulo em que a carismática Elis Regina cantou pela primeira vez em 1964 nessa imensa cidade. Imaginei quais leituras e conceptualidades que esta mesma composição teria numa qualquer galeria de arte sozinha pendurada numa sala branca. Mas não é por aí que trilharei e sim pela afetação que trago cá dentro desde ontem ao assistir a um espetáculo do Lume Teatro aqui no B'Olhão Geral Zen inserido na programação " Tem cena na vila".

" Kin Tsugi 100 memórias" dirigido por Emilio Garcia Werbi tem como elenco quatro dos atores desta companhia com quase 40 anos. Devo dizer que andava e ando ainda um pouco emburrada com o meio teatral consolidado, que não olha com olhos de enxergar artistas independentes forasteiros, deste distrito que pertence a Campinas no interior de São Paulo, mas sacudi a poeira e iniciei a saga antes de ontem no Barracão Teatro,  Assim pretendo dar continuidade a estas idas ao teatro que considero com muita qualidade além de ser importante encontar as pessoas,

Voltei para casa mexida, com uma noite de sonhos e várias insónias. Espetáculo forte, honesto e generoso. Fala de várias memórias tanto antigas como recentes de cada atriz e ator e um trabalho de pesquisa que fizeram com pessoas com diagnóstico de Alzheimer. Mas o ponto central deste enredo, que podemos chamar documental, é um episódio que aconteceu realmente há uns anos atrás no seio do grupo, quando num jantar de confraternização alguém perguntou o futuro do grupo e um dos atores, do alto da sua sombra, diz: "Eu não preciso de vocês para nada!".

Como as palavras podem ser tacadas que ferem mais que um taco de baseball. É profundamente belo que ao fim de uns 13 anos esses mesmos intervenientes tragam isso a cena não como lavagem de roupa suja, visto o mesmo ator estar em cena, e sim como cura coletiva. Num dado momento eles xingam-se uns aos outros a partir do que cada um expõe de si e das suas memórias. É durissimo e ao mesmo tempo libertador entender que podemos ser as pessoas mais afetuosas umas para as outras como as mais cruéis.

Para mim as palavras serem como tacadas não está bem nem está mal, a questão é como as usamos e qual a finalidade. Se é para derrubar por derrubar ou se é para desconstruir para erguer. Tod@s nós,sem excepção, podemos ser cruéis com o que dizemos. "Eu não preciso de vocês para nada!" magoou profundamente um coletivo, mas que ao mesmo tempo soube, creio, perdoar.

Nós sermos responsáveis por o que dizemos e fazemos é não é só digno como revela maturidade. Ontem, por exemplo, falei para uma mulher brasileira que vive em Portugal e que se acha anti racista e anti fascista mas demonstra xenofobia e até lusofobia em relação ao meu povo. Escrevi numa publicação onde ela posta uma foto do seu pai já falecido:  "Todos os pais merecem respeito. Todos sem exceção. O meu "por acaso" é português, já o da minha filha é brasileiro que mesmo com as suas avarias merece o devido respeito com a devida distância. Já as tuas publicações a zoar Portugal e os portugueses são desrespeitosas. A regra básica para se viver num país estrangeiro é respeitar mesmo com os devidos estranhamentos. As tuas stories no Instagram roçam a estupidez e eu sei que és mais inteligente que isso, pelo menos quero acreditar. Para não sermos alvo de estupidez e perseguição também temos que fazer a nossa parte. Pronto, fica aqui o desabafo publicamente para parares com esse complexo de superioridade em relação aos portugueses achando que estás a fazer um grande serviço. Gentileza gera gentileza. Estupidez pode gerar reação." Não fui mais longe por ética, mas isto que lhe disse é algo visceral.

Por outro lado, nós podemos amar alguém com quem nem sequer nunca trocarmos uma palavra nem um dedinho tocou o  dedinho desse alguém, embora observando podemos sinalizar umas avarias de jogar as mãos à cabeça e dizer publicamente sem se dirigir diretamente à pessoa: " Eh pá ó jovem, chavalo do meu coração, larga a mão dessas parvoiçadas, dessas coisadas, de pedir às pessoas que te liguem para te sentires amado e meter ciúmes a alguém. Porque é tu não não ligas e declaraste? Porque é tu não corres atrás de quem tens interesse em vez de disparar para todos os lados? Que coisa chata. Que beco sem saída. Traumático é o que o teu irmãozinho tem feito e de vez em quando ainda faz. Se não mudares essa tua atitude para com as mulheres muito provavelmente ele vai continuar a zoar de ti e com razão. Quando chegará o tempo de nos rirmos juntos de tudo isso com leveza? " Pronto, aqui temos um exemplo de como as palavras são como tacadas. Neste caso é com a esperança de juntos amdurecermos e aprendermos a amar um pouquinho mais com maturidade. 

A Piu

B'Olhão Geral Zen

25/08/2022

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