quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A SITUAÇÃO DA CITAÇÃO

 


Quem nasceu primeiro? A situação ou a citação? Dá sempre aquele estilão fazer uma citação. Ele há casos, situações, em que a pessoa esquece ou faz-se de esquecida e não cita. Em situações acadérnicas, por exemplo, isso pode dar 'burguju', 'proglema memo'! O chamado plágio. Mas também há situações, que também as há. Ah pois há! Ca pessoa já pensou e até já escreveu sobre algo que depois um autor vem a confirmar e aí a pessoa até respira de alívio e num suspiro fala com os seus botões: "Afinal não estou assim tão maluca e se estiver não estou sozinha!"
Há que lembrar que o Paulo Freire mais do que um académico foi um pedagogo que meteu o pé na estrada e foi a onde o povo está. E como ele, eu também não sou contra a o ensino superior, que se estipolou de se chamar Academia e subscrevo totalmente o que ele pensa. Ao serviço do quê e de quem o ensino no geral e a produção académica no particular está? Até então está ao serviço duma classe dominante de pensamento hegemónico, mas existem os pontos de fuga, as manhas de quem ocupa esse lugares ainda elitizados. Por isso as cotas raciais ainda são necessárias enquanto houver desigualdade social. Há que ocupar esses espaços e colori-los.
Para mim, PARA MIM, os estudos académicos é como o dinheiro: são um meio não um fim. A pessoa pode ter muitos estudos e um curriculum esplendoroso mas além de quase nada contribuir para a sociedade vive adoecida por conta dum cabeção déspota que despreza o caminho do coração. Pode até nadar em dinheiro tipo Rei Midas. E?... E?...
Há uns anos eu tive uma experiência académica que foi como ter comido uma coisa estragada, tipo presente envenado. Fiquei anos a desintoxicar. Acho que ainda estou, mas estou melhor. Bem melhor. Depois reencontrei-me nos estudos teórico práticos em Arteterapia e Muñecoterapia e acredito que tudo dialoga com tudo: arte com antroplogia com pedagogia com filosofia com teologia com biologia com a psicologia com a medicina etc etc. A questão é que ainda hoje o pessoal da Academia fica dentro dumas gavetinhas por vezes dificeis de abrir e como tal claustrofóbicas e até prepotentes. Uma espécie de donos da verdade. Mas ainda bem que existem os Paulos Freires da vida que desconstroem essas prepotências e decolonizam o pensamento com as suas ações.
Vamu lá à citação! Ora vamu lá!
(...) eu não proponho que se faça um negócio desse para fazer tese de mestrado na universidade não, defender uma tese e mandar às favas os índios. E publicar isso lá para ganhar dinheiro. Não. Eu estou propondo que essa pesquisa volte ao índio. Ele é o pesquisador também, e não eu o pesquisador dele. Isso aí é instrumento da pedagogia dele. Agora, na medida em que você trabalhasse intensamente como um grupo de indígenas na compreensão da sua própria cultura, se depois alguns exploradores se apoderam desse material para voltar lá e explorar, não vai dar não. Não vai dar, porque o cara assumiu a sua cultura. Como é que ele vai ser explorado? (...) Porque no momento em que um grupo indígena diz: não precisa de vir aqui pra me ensinar a ser iranxe, e diz com humildade mas também com uma cientificidade maravilhosa. (...) Vale dizer, 'não precisa' é sinal de que 'eu sou'.
Freire, Paulo: "Pedagogia da Tolerância", Paz e Terra, Rio de Janeiro: 2022.
Obs: O Freire já faleceu. Ele ainda usa o termo questionável 'índio'. Mas quem conhece o Paulinho sabe que ele se refere com respeito aos indígenas, aos povos originários.
A Piu
Br, 18/08/2022

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