sábado, 6 de agosto de 2022

OLÁ CAMARADA!


Certa vez escutei dum pajé que para sabermos se uma comunidade ou sociedade é feliz é preciso perguntar para as mulheres como estas se sentem e se são bem tratadas. Pura sabedoria, não? Talvez na comunidade desse pajé não tenha sido sempre assim ou talvez esse entendimento ainda esteja a ser posto em prática passo a passo. Mas ter essa sacada já é um passo gigante. 

Há, com certeza, várias abordagens feministas, imensas linhas de pensamento e ação consoante o lugar que as mulheres no individual e no coletivo ocupam, as suas necessidades e referências. Ter consciência disso já é outro passo gigante para não borrifar setenças com aquela certeza, aquela verdade emancipatória pasteurizada sobre a condição de outras mulheres. Tampouco falar pelas outras. Uma coisa é escutar e apoiar, outra é querer ser protagonista da causa, por exemplo, do feminismo negro ou indigena, quando se vem de outro contexto ou de outra condição. Já não falando das burkas das mulheres e dos achismos em volta semperguntar a opinião das envolvidas. 

Querer ser protagonista da causa alheia é oportunismo. Ou não? Isso é como aquele pessoal que vai estudar, por exemplo, os indígenas mas além de não entender com mais profundidade a sua cosmovisão não leva beneficios nenhuns à comunidade, continuando esta necessitada de recursos ao passo que @ pesquisador@ fica de boa com a sua bolsa, a sua carreira à custa do seu "objeto de estudo" que no caso são seres humanos... Depois quando um indigena estudante universitário fala isso para uma plateia a antropóloga branca ainda tenta contra argumentar. Enfim, é tempo de decolonizar o pensamento e a ação e empatizar mais.

Romantizar as sociedades não brancas também não me parece que seja o melhor caminho de entendimento para fazer diferente. Certa vez conheci numa roda de conversa aqui na universidade estadual ao lado de casa três gerações de mulheres indigenas duma grupo lá do Matogrosso. Não as escutei como académica porque não é assim que me considero nem é esse o meu grande objetivo na vida, e sim como cidadã, mulher menina e moça. Ali estavam avó, mãe e filha que relatavam que querem acabar com uma tradição no seu povo que consiste em todos os homens da aldeia, excepto parentes mais próximos à menina que entra na puberdade, fazerem uma grande festa onde o ritual de iniciação das meninas é de estas entrarem no rio e serem desfloradas por todos os rapazes e homens da aldeia. Estamos perante um esturpo coletivo. Se estas mulheres, depois que começaram a estudar e a abrir os horizontes, querem pôr fim a esta tradição é porque não se sentem mais obrigadas a consentir, a obedecer a algo que as fere. Não se trata aqui de nomear qual o povo, porque hoje todos os povos deste imenso território precisam de solidariedade, porém os mesmos estão cientes que hoje a flecha precisa de ser certeira no coração da consciência.Os próprios o dizem e isso é imensamente bonito, libertador. Assim como para os mesmos as redes sociais são canais de divulgação das suas vozes e que provam que estão vivos mais que nunca, embora o genocidio continue em curso. 

Ai caramba! Queria escrever um texto alegre, quiçá engraçado, acerca duma visita a uma exposição que visitei à sucapa na universidade aqui ao lado de casa disfarçada de mim mesma para assistir a uma performance dum sujeito charmoso -  espero que não fique vaidoso de chamá-lo assim porque a vaidade tira brilho e torna qualquer um desinterassante - que polia umas moedas de centavos duma imensa bandeira do Brasil. Assisti à distância porque não sabia como me aproximar e nada melhor que observar e ler o entorno. Um sujeito para manter o charme precisa daquele toque de entendimento feminista como o pajé que acima foi citado sem academicismo. Pois não é, camarada? 

A Piu

Br, 06/08/2022



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