Finalmente encontrei por aqui cravos vermelhos frescos que todos os anos, ali por volta do 25 de Abril, substituo por brancos ou faço à mão para comemorar o dia da Liberdade. Ao que consta esse simbolo da virada dum regime autoritário e imperialista para a democracia foi um quase um mero acaso. Na manhã de 25 de Abril de 74 uma florista ofereceu cravos vermelhos, que era o que tinha, aos capitães de Abril e todo o pessoal que fez parte dessa queda dum regime anti fascista. Uma primavera para não ser esquecida e sempre comemorada, possamos concordar ou não com as dobras e as complexidades da democracia, dos oportunismos demagógicos com vistas a outros autoritarismos, nomeadamente o neo liberal e outros vá. Não sejamos ingénuos. Todas as primaveras eu sempre me lembro de não esquecer de quem sou, de onde vim e quem veio antes de mim. Realmente há dez anos, por viver no Brasil, comemoro as festividades sozinha comigo mesma e com pessoas mais próximas do outro lado do Atlântico. Com quem comemoro mais é com uma amiga de longa data que mora na Alemanha, que também não se esquece das conquistas de Abril, esteja em qualquer parte do mundo.
Para mim, para mim repito, falar de liberdade é agir em consonância. Não se nasce com liberdade e sim cuida-se da mesma e em situações de aperto conquista-se. Antes de falar em liberdade precisamos de pensar e sentir o que é liberdade, para isso temos que estar informa@dos para não cairmos em discursos oficiais que nos levam ao preconceito. O preconceito, seja descarado ou subtil, é uma violência. O preconceito segrega, isola. Eu já tive o preconceito de achar que nunca sofreria de preconceito. Como eu estava enganadinha. Já me senti e sinto-me muitas vezes acolhida neste imenso Brasil, mas também já me senti sozinha e confusa sem entender o porquê do preconceito e do escárnio, em algumas situações. Depois, passo a passo, também fui entendendo que existe uma lógica aí, que se quer oficial, que é feita para que a solidariedade seja esquecida, escamoteada e só lembrada em passeatas dentro duma narrativa muita svezes estreita.
Não tenho que sentir aquele orgulho patriótico nem vergonha de ser portuguesa. O que é eventualmente constrangedor é escutar esta de pessoas, que por terem andando em escolas tão bambambam e serem p'ra frentex coisa ainda abala mais: " Ai! O que acontece é que quando se fala em portugueses eu sempre me lembro dos invasores." Também sempre dá para responder: " Olhe... quando me falam de italianos eu também me lembro sempre do Império Romano, da substituição de mão de obra barata dos escravos para os italianos na virada do século passado no Brasil, mais os que se deram bem à custa de colonizar o continente americano por serem brancos, e também me lembro dos fascista de Mussolini." Podemos assim responder olho por olho, dente por dente ou respirar fundo e relembrar que tanto em Portugal, como Espanha, Itália e outros lugares a história não é única e conhecer as contra correntes mais do que necessário é uma ato de cidadania e um movimento libertador. Sem fim fim fins nem fom fom fons.
Piripipipipéu. Ploft.
A Piu
Br, 15/08/2022
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