Quando ele nasceu, ela já sabia ler e escrever mas mais ou menos cheia de erros 'ortogrânficos'. Era a melhor da sua sala na quantidade da troca do "f" pelo 'v' e muitas palavras carentes de 'n' e até onde a imaginação possa levar para que o ditado ficasse todo adornado de riscos e correções a bic vermelha. Uma loucura. Um êxtase de insucesso escolar!,,, Também já tinha aprendido a pedalar e raras foram as vezes que caiu na sua bicla que mais tarde viria a ser uma bmx. Em suma, quando ele nasceu, ela já metia o dedo no nariz e olhava para a escola com um grande porquê. Tipo do género mais ou menos assim: " Pra que serve tudo isto?"
Quando ele se sentou numa cadeirada escola e metia o dedo no nariz entediado já ela escrevia, já tirava boas notas, sonhava em ser pintora e apaixonou-se pelas teatradas e foi estudar isso, embora curtisse Antropologia.
Quando a ele provavelmente apareceu aquele acne casual e descobriu que existia rock já ela andava pelo mundo de mochilas às costas e a viver das suas teatradas. Quando voz dele começou a dançar entre o fino e o grosso tornando as vogais dissonantes ela estava no lugar onde recentemente havia um Muro que separava a Europa Ocidental da Oriental, o capitalismo do comunismo.
Quando a filha dela nasceu, provavelmente foi pela época do seu primeiro beijo, com uma bobinha qualquer como com certeza enxergava as meninas da sua idade e olhava as mais velhas como caquéticas desprezíveis. Mas paradar uma de galera até fazia-as sentir fofinhas.
Quando ele chegou à universidade para fazer a sua graduação ela estava, no seu mestrado, de passagem pelo meio académico para tentar criar diálogos entre o seu oficio de palhaça hospitalar e a antropologia.
Um dia picharam uma parede da erudita, douta, conceituada faculdade onde os dois transitavam, sem nunca se terem cruzado. Logo uma discussão (pseudo) intelectual analítica tomou o grupo do facebronx. Se aquilo era arte ou não.... zzzzzz A tuga, que já vira e vivera umas coisas para lá do seu lugarejo suburbano a 20 km da capital portuguesa, que hoje é essa tal de Lisbonne está na moda porque está com uma roupagem neo liberal cool, falou da sua experiência e visão sobre o gratfitti. Muitos aplaudiram com curtidas que dá sempre aquele status...:
Uma bela noite, tipo à hora do jantar duma família comum com filhos, o sujeito manda uma mensagem no privado assim: " Entendo você.". Ela perguntou quem era e ao que se referia. Apresentou-se com a sua identidade verdadeira e deu uma resposta evasiva. Na verdade ela é que não entendia o que ele tinha entendido... Mas tudo bem. Deve ser tímido. Ingenuamente achou que poderia fazer um amigo naquela faculdade de ambiente um tanto ou quanto insalubre.... Porque competitivo e outros convencimentos meritocráticos que roçavam o assédio moral. Ele não conhecia nem o Maio de 68 nem o Paulo Freire !!! Ela estava abismada, a forasteira!!!! Bombardeou-o de informação sobre a primavera franciu e sobre o seu conterrâneo que nomeadamente fora professor na faculdade de educação daquela conceituada universidade.
Ela, ingenuamente, por nunca ter vislumbrada fazer da sua vida uma carreira académica achava que as pessoas que frequentavam universidades, principalmente na área das humanas e das artes fossem mais cidadãs, logo mais solidárias. Era tempo dessa menina mulher moça de outras vivencias planetárias olhar as outras bolhas e saber que as suas utopias e onirismos eram também umas bolhas que ela poderia e deveria defender mas sem ingenuidade. Porque corria o risco de ganhar como brinde,à laia de tinder surpresa mas no fakebronk, um tanto marafado.
Mas como lá atrás com os seus 8, 9 anos ela perguntava para que servia a escola ela agora sabia que as coisas e os acontecimentos servem sempre para alguma coisa, que é subirmos mais um degrau na consciência e tornarmos nos mais leves. Quem entender, bótimo. Quem não entender mantem-se num emaranhado que para si mesmo criou querendo levar amigos, parentes, colegas e desconhecidos atrás.
A boa noticia é que as pessoas podem sempre se rever. A menos boa, mas que também é boa noticia: é que ninguém faz essa desintoxicação emocional por nós. O desafio, lá está, é tornarmos-nos responsáveis por nós mesmos ao invés de importunar os outros e ser gente de verdade com verdade. A gerência agradece de coração
A Piu
Campinas SP 06/03/2021
Sem comentários:
Enviar um comentário