sexta-feira, 23 de abril de 2021

E TU! E VOCÊ! COMÉ?


 

E aí pessoal, malta, galerada comé? 'Tamos aqui para as curvas? Olhem 'quiu' caminho não é a direito! Só p'ra avisar! 'Quem avisa teu amigo é!", já 'dezia' alguém, não só a minha avó ou o meu pai ou outra pessoa qualquer da 'nha intimidade ou não. Às vezes quem não é da nossa intimidade, mas até acha que é ou nós achamos que é por momentos, é que nos vem avisar 'quiu' caminho não é a direito. Ai poizé,barnabé!

Alguém de 'vocesses', de vós outros nasceu duma garrafinha, vulgus tubo de ensaio, ou duma couve?  Ou até veio de Paris trazido por uma cegonha e logo 'vocesses' pensaram: " 'Porquéque' a cegonha não me deixou num apartamento chique num qualquer Boulevard da cidade das luzes e veio-me deixar aqui onde o vento faz a curva?"

Pois é, imaginem as cegonhas deixarem todas as criancinhas no Paris da França? O que seria de Tokyo? Da cidade do México, da grande São Paulo aqui 'memo' ao lado?!

Agora fora de brincadeira, não continuando a brincadeira mas falando de coisas sérias! Rir é curativo! Mas depende do riso! 'Vamu' lá combinar! 

Ontem, dia 22 de Abril, foi dia do arteterapeuta. Esse dia eu comemorei assistindo a um sarau da associação de arteterapeutas, dando seguimento a uma aula com o querido, nobre, admirável escritor,  ambientalista e conferencista  brasileiro indígena Kaká Werá cujos pais são do povo tapuia. E diz ele assim, a uma dada altura da aula: " Quando os portugueses chegaram traziam várias crianças órfãs. Deixaram-nas nas aldeias indígenas do litoral. Passados cinco anos voltavam, quando estas já sabiam falar a língua para daí tirarem informações e assim avançarem com o projeto colonizador. A segunda leva foi de degredados. Depois vieram as outras levas."

Olha só! Essa das crianças órfãs eu desconhecia! Mas faz todo o sentido! Filhos ilegítimos fruto de adultérios e relações consideradas pecaminosas entre padres e freiras, padres e beatas, freiras e cavaleiras, tal qual a Mariana Alcoforado. Não consta oficialmente que essa alentejanita de famílias honradas e abastadas tenha engravidado do cavaleiro franciu. Mas, ser lermos o ' Memorial do Convento' do Saramago constatamos os inúmeros cadáveres de crianças jogadas nas profundezas do convento de Mafra, construído com o saque das colónias pela oligarquia do meu querido Portugal, que não deixado ser querido ( não a oligarquia, claro) mas precisa de abrir mais a pestana e reconciliar-se honestamente com os países ex- colonizados. Essa reconciliação passa por adotar outras narrativas, acolhendo e honrando a presença principalmente das pessoas africanas no seu território ao invés de picharem na parede: 'Pretos fora! Vai p'ra tua terra!" ou maltratarem e explorarem no dia a dia.  É óbvio que não são todos os portugueses que pensam e agem assim. Mas o que é óbvio para uns nem sempre óbvio para outros. Logo o óbvio precisa de ser lembrado e dito. Principalmente aos brasileiros brancos de origem europeia, seja portuguesa, italiana, alemã e etc, que se acham colonizados e sinceramente, em muitos casos ainda não deu para entender o que conhecem da História do Brasil e da Europa, especificamente de Portugal, nestes últimos 500 anos. Mas acham muito chique e glamoroso irem para a Europa, nem que seja para um vilarejo conservador, tacanho na mentalidade e até precarizado. Por vezes dá a sensação que esse conhecimento é difuso, distorcido em prole duma narrativa oficial que foi sendo construída pelo menos nos dois últimos séculos em que no último ( século XX) foi pautado por duas ditaduras. 

Voltarmos às raízes, ao ventre materno. Sabermo-nos vida é importante, logo sabermos que outras vidas são vidas e importam é aquele grande passo para que o encontro de culturas, civilizações sejam feitas em prole da vida e não da subjugação. Há uns quinze mil anos que diferentes sociedades, não só a ocidental, vive no patriarcado. O valor da mulher, do feminino na sua plenitude, o valor da gestação de uma vida igual a tantas outras vidas tem sido colocado para o canto do povoado, da cidade, da casa. 

Hoje muitas mulheres de várias etnias e civilizações tomam a voz e a vez através da escrita, da realização de filmes, obras, estudos vários para re existirem e honrarem todas as mulheres que vieram antes delas e que iniciaram essa longa jornada de afirmação e emancipação ou que foram pura e simplesmente caladas e aniquiladas. E as filhas, netas, bisnetas, tataranetas dessas mulheres intuitivamente sabem com quem podem contar ou não. Muitas vezes um homem - vamos agora colocá-lo como descolado,  moderno, bixo grilo, letrado ou mais ou menos letrado- pode até viver com uma mulher inteligente, sensível, trabalhadora, talentosa mas como a sua mente está ali tão formatada para ser o comedor de mulheres ( embora não admita que a sua companheira intima fale com um amigo de longa data, para eletudo é insinuação logo asfixia a espontaneidade) e bota o dedo na cara da mesma para a culpar das maleitas do mundo, não se dando conta que essa forma de estar na vida faz parte da maleita que o mesmo critica. Depois existem os sabichões que podem vasculhar a intimidade duma mulher, sem autorização, perseguem-na mas não entendem igualmente p...rra nenhuma acerca dessa mulher. Logo, em ambos os casos temos um perfil de homem fruto dessa lógica de colonizar o corpo, o espirito e alma da mulher. Estes dois exemplos são baseados em vivências minhas com dois homens distintos, por acaso ou não de nacionalidade brasileira. Porém, não posso negar que as mulheres brasileiras emigrantes em Portugal ou em outro país não levem uma vez ou outra  ou muitas com homens equivocados com narrativas e práticas idênticas. E você, caro e querido leitor com um pirulito no meio das pernas! Quer ser visto e descrito assim?... Hmmmm espero que não! Um homem emancipado ou disposto a se emancipar é muito sensual e atraente. Vitória a esses, sem maratonas olímpicas!

 Chuac! Chuac! Abreijos e até ao próximo texto!


A Piu

Campinas SP 23/04/2021

segunda-feira, 19 de abril de 2021

DIVERSIDADES

Hoje comemora-se o dia da diversidade indígena. Em 1940, o presidente populista Getúlio Vargas decretou 19 de Abril como dia do Índio que foi proposto pelas lideranças indígenas da época no Congresso Indigenista Interamericano realizado no México. Hoje, uma grande parte dos indígenas e/ou ameríndios não querem ser chamados do Índios, porque é uma denominação preconceituosa, folclorista. 

Eu não pretendo escrever sobre os indígenas, nem estudá-los, tampouco tomar a voz e a vez dos mesmos para tirar vantagem nos meus estudos e trajetória profissional. E me dar bem a vários níveis, ficar bem na fotografia, e os mesmos continuarem a serem segregados pela maioria e por poderes de decisão. Pretendo sim, escutá-los, aprender as suas sabedorias ancestrais de cidadãos e cidadãs contemporâneas. E honrar os seus ensinamentos e lutas com contribuições práticas dentro das minhas competências. Incentivar a leitura de escritores indígenas, mergulhar nos seus ensinamentos ecológicos, ser autora de trabalhos artístico educativos de encontros outros - duma portuguesa ( que sou eu) com povos com tanta sabedoria, assim como a dos  africanos e afrodescendentes. Livre de modismos, assistencialismos e carreirismos. 

Esta breve homenagem estende-se à minha filha Nina cujo pai é indígena, assim como ao mesmo, apesar dos seus inúmeros equívocos em relação à minha pessoa e suas consequências. Isto é, declaro assim publicamente neste momento tão delicado e vulnerável que não lhe quero mal, pelo contrário, muito menos à suas raízes tantas vezes espezinhadas nestes últimos quinhentos anos.

A isso eu enxergo como Nova Era: entendermos que somos um Todo com as nossas múltiplas diversidades e como a sabedoria ancestral dos povos indígenas aponta que é pela via do coração que nós avançamos à leveza. 


A Piu

Campinas SP 19/04/2021





sábado, 17 de abril de 2021

VIVA A VIDA

 Ter acesso à internet é um luxo. um privilégio e/ou uma oportunidade? A internet é U-M    M-U-N-D-O!!!

Aliás, vários mundos neste tempo contemporâneo. Como sempre foi, mas agora na Era do pós pós modernismo industrializado, na Era do pós do pós pós pós pós pós certezas e dogmas,

Eu não perco tempo com noticias chucras, nem com a mesmice dos governantes  desgovernados. É dar importância à mediocridade. Isso adoece a alma, pois não é? Desvitaliza-nos. E quando agimos no desespero o caminho leva-nos a um beco. Beco sem saída pé uma redundância, pois não é? Nunca perdi com noticinhas, mas confesso que já fui no fundo do poço com o discurso do  fundo do poço ( a tal da crise financeira sul europeia e o índice altíssimo de desemprego. E esta situação já me deu muita raiva, embora eu denominasse de indignação. Como muitos dos meus iguais. Enfim. Enfrentar a Era do pós pós modernismo industrializada é um chamado para parar, silenciar e seguir outros caminhos de encontro à alma.. Desta feita, peço encarecida e publicamente   ao cidadão e cidadã brasileira que expresse a sua opinião e mesmo a sua alegria e motivação em viver temporária ou vitaliciamente em Portugal duma forma respeitosa, consciente e informada sobre esse Portugal que se encontra na pontinha da Europa, no enclave entre o oceano Atlântico e África. Malta, pessoal, gente, esse assunto ainda mexe com a minha sobrevivência ( como mãe solo  de duas filhas em vias de autonomia) nesta lógica individualista dominante.  Voltemos. Porém estar atenta a não me alienar na narrativa da Nova Era, que muito admiro desde que consciente da realidade física e de suas interações é assaz importante. 


Nestes tempos pandêmicos só tenho a agradecer o quanto tenho aprendido, escutado, assistido, revisto as minhas crenças limitantes e libertárias com esta grande ferramenta que é a internet com espetáculos, lives, filmes, tutorias, cursos, festivais, encontros e reuniões.  Só posso agradecer a esse imenso território brasileiro e América do Sul e Central com tanto conhecimento prático e teórico nas Artes, na Sabedoria Ancestral de Cura Espiritual Ameríndia e tantos e tantos conhecimentos e sabedorias objetivas e subjetivas sem hierarquizações e sim a importância de nos sabermos e nos descobrirmos, que atualmente chegam através da internet. Até já no presencial. 

A Piu

Campinas SP 17/04/2021






terça-feira, 13 de abril de 2021

BIZARRARIA, BIZARREARIA OU BIZARRIA? série: quando a bizarraria se desfaz


 

Dizem por aí,por portas e travessas ( Que não sou eu que digo, que eu não sou de intrigas! Mas dizem!) que fazer humor é das coisas mais difíceis. Pode ser... O nosso riso define uma boa parcela de quem nós somos ou como nos encontramos. Uma ex professora, antropóloga, dizia que começamos a conhecer um povo quando entendemos o seu humor. Faz sentido. Sendo que um povo é feito de multipolos humores, porque constituído de múltiplas sensibilidades. Também aprendi na arte da palhaçaria que esta não é a arte de fazer piada e sim da comicidade. Não somos piadistas, isso fica para o stand up commedy, para o teatro de revista e outras linhas de trabalho. Todas elas com a sua devida importância. A arte da palhaçaria, onde existem mil abordagens, como eu aprendi e a desenvolvo é arte de nos rirmos de nós mes@s, das nossas fraquezas, vulnerabilidades, sombras e do que nos oprime. Desvalorizarem-nos, diminuírem-nos, ridicularizarem a nossa dignidade que passa pelo assédio e outros abusos são formas de opressão. Com esse material podemos trabalhar a arte da palhaçaria, do riso, da comicidade.

Ridicularizar uma situação ou um fenómeno estrutural, no caso as relações abusivas, não é é ridicularizar o género homem, ou género mulher, trans. Enfim todos os seres humanos com as suas variadas orientações sexuais. Porque se o fizermos é igualmente abusivo. Então, esta série de textos não tem a ver com menosprezar os homens e os seus genitais, assim como a sua libido. E sim rir de algo que me incomoda, que nos incomoda a muita de nós, nas distinas orientações sexuais,com vista à emancipação, expansão de consciência. Enfim, todos esses termos que nos lembram que somos muito mais que o nosso umbigo e crenças limitantes para irmos deixando de importunar os outros e honrar os encontros.

Vamos então a esta incrível, inspiradora imagem. Este sujeito tem uma forma muito peculiar de usar o seu celular e também tablet. O cuecão já vem com o aparelho, que tem elástico próprio para a finalidade e com isso o sujeito fica com as mãos livres para o seu dia a dia. Há uns que acordam e deitam-se com este kit multifuncional. Filmam seus passo,a cima ou abaixo do genital, também serve de apoio ao genital, para este descansar, porque pensar com a cabeça debaixo cansa muito a si e aos outros seres viventes atingidos com essas pensadices. Em suma, o aparelho pode filmar a partir da perspectiva do genital e do umbigo. Aproveitando a deixa, o sujeito visita sites e contas alheias sem que ninguém perceba, pensa ele. Um dia leu uma daquelas frases de efeito: "Um sabichão acha que todos os outros são burros". Mas logo fez a leitura à sua maneira e inverteu os papeis: "Todos os burros sabem que eu sou muito é sabichão. E ser sabichão dá me poder. "

O sujeito vasculhava e vasculhava, mas o que o afetava nas suas vasculhações de privacidades alheias? O que ele entenderia? Ah! Porque afinal, para o sabichão, mesmo assim as  mulheres eram mais burras, escrevera com uma identidade falsa um dia a uma mulher.  Esta, em vez de mandá-lo a um lugar com todas as letras sugeriu que meditasse, ao que o sabichão respondeu que meditação era para donas de casa de classe média maltratadas... Olha só! E esta hein? Ouvi dizer  que já existem sutiãs para homens para colocarem o seu aparelho tecnológico e passar a enxergar a partir do coração.

Mas há uma ressalva! O uso demasiado de aparelhos tecnológicos junto ao corpo causam efeitos colaterais desastrosos. Mesmo assim o ser humano foi criado antes da tecnologia artificial. 

Por hoje é este o contributo para que uma bizarrearia se desfaça e se torne biza ria. Sim, porque mesmo antes das nossas bizas, as bizas das nossas bizas e outras mulheres já tinham que levar com sabichões. Agora, está visto, chegou o momento dum grande basta de tanta besteirada de gosto duvidoso e até amargo. Que o riso seja irreverente e doce como uma fruta madura. Amadurecemos, então. 

A Piu

Campinas SP 13/04/2021 


Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas.

https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/

sábado, 10 de abril de 2021

PÉNIS DE BORRACHA PENDURADO NO FIO DO POSTE - série: quando a bizarraria se desfaz

 


Pronto, o titulo já está arrumado!!! Fui salvar a imagem e zás aparece esta linda poesia pós moderna: Pénis ( ou pênis consoante a língua :P) de borracha pendurado no fio de poste. AI CREDO! VAI DE RETRO!

Sempre me fez espécie ( expressão idiomática para " o que é isto?") nos objetos pendurados em fios de poste. Normalmente são sapatos, botas. ( nas árvores são meias e chupetas, agora máscaras).  Mas há de tudo! Até animais!!! Vi há pouco um bode! Espero que seja de faz de conta. Tipo , do estilo: Uma criança ia a passar com um bode da vovó Donalda comprado no camelô a imitar os brinquedos da Disney veio uma ventania e PUM. Bode no fio de poste! Não quero acreditar que seja um bode de verdade, assim como aqueles pénis da foto não são de verdade, embora sejam muito ilustrativos duma certa e determinada mentalidade e conduta, que de tão vazia vai ter ao fio do poste.

Eu encontrei esta imagem através da palavra: bizarro. Sim, eu tive um vizinho na minha infância que se chamava Bizarro. Um sujeito impecável, que de bizarro ou excêntrico nada tinha. Pelo menos na minha visão. Adiante. Vamos ao foco. 

Ser bizarro ou ser excêntrico são coisas distintas. Para mim, claro! Há dois dias procurei o sinónimo de bizarro e olhem o que encontrei: ' que se destaca pela boa aparência ou expressão pessoal, bem- apessoado, que tem bom porte pela boa aparência ou expressão pessoal, bem apessoado, garboso.' Oxê! Será que vem daí a Greta Garbo? Para mim bizarrearia é uma coisa escanifobética, nada (auto) elogiosa, estranha num sentido de distanciamento, tipo: ' afasta de mim esse cálice, pai.' 

Já com o excêntrico nutro mais simpatia, pois é aquele que sai do centro, descentraliza-se, não vai com o rebanho, borrifa-se (  para não escrever caga-se, oooops escrevi...)  para o modismo, expressa-se à sua maneira. Existem os excêntricos snobes, mas esses podem-se dirigir à porta dos bizarros. 

Porque falo em tudo isto? Porque agora inicio uma pequena série sobre: " Quando a bizarrearia se desfaz" que contempla, lá está, não se pensar e agir a partir do pénis, que rapidamente se transformam em pénis de borracha anónimos pendurados em fio do poste. 

Só para dar um exemplo de bizarrearia inter comportamental: Um homem enxergar uma mulher a partir do seu pénis, ao invés de enxergá-la nas suas multiplicas funções. seja de trabalhadora, profissional, mãe ou não e antes mas antes de tudo um ser humano com sentimentos e emoções e também com a sua arvore genealógica que não precisa de te brasão. Ou seja, uma mulher integra, inter independente com a sua história de vida.

Gostou deste texto? Até ao próximo desta série.

A Piu

Campinas SP 10/04/2021


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É TUDO UMA QUESTÃO DE CLASSE?

 

Há exatamente  25 anos, eu ai io io io, pisava pela primeira vez esta terra brasileira. No caso, a tal da cidade maravilhosa onde o Zé Carioca mais o seu amigo Nestor se aventuravam pelas praias e quebradas. Também conheci de raspão Cuiabá, no Matogrosso onde a Cuca e o Saci Pererê aparecem nas áreas ainda não desmatadas. " Cuidado com a Cuca, que a Cuca te pega, te pega daqui, te pega de lá!"

Para mim ainda é um grande quebra cabeças entender a desigualdade social brasileiras e as classes sociais desta e daquela pessoa, assim como ainda não entendi na plenitude em que classe me insiro dentro dessa realidade. E não tem a ver somente com recursos financeiros, oportunidades - que num país desigual rapidamente vira privilégio, até a espiritualidade e as ideologias igualitárias se gourmetizam. Também o que entendo por classe média, que tem a ver com classe trabalhadora que vive dignamente do seu trabalho sem grandes luxos mas sem sufocos, nem sempre se encaixa nas variadas realidades com as quais eu tenho contatado. Mas o que me pega mesmo são os princípios, a (in)capacidade de enxergar a outra pessoa sem rotular com ideias pré concebidas muitas vezes errôneas.

Esta foto leva-nos para o ano da graça do senhor de  1958, num jardim público ou privado de Carcavelos, localidade litorânea perto da capital portuguesa, Lisboa. Esta é a minha mãe que nesse ano tem 11 anos e que acabara de de se livrar dum professora cuja pedagogia era déspota, onde reguadas, puxões de cabelo e humilhações várias são revestidas com uma obediência aos inspetores faxixi. A sô dona professora Carmen, que não é a Miranda, é ilustração duma mulher que deixou a sua humanidade, a potência de ser mulher adoecer por um regime cuja população era na sua maioria analfabeta e pobre.

Pois é, querid@s leitores, esta menina que é a minha mãe é filha de migrantes? Retirantes alentejanos ( o equivalente aos nordestinos com o mesmo tipo de piadola e tudo. embora eu goste de ouvir um alentejano contar piadas de alentejanos. Como nós portugueses no geral contamos piadas de nós mesmos. Já alguém vir fazer piada dum grupo ao qual não pertence ou até pode ser descendente mas simplesmente nem percebe que o que reproduz é preconceito com intuito de desdenhar e escarnecer o outro aí já não acho graça...)

Não sei em que jardim esta foto foi tirada, mas se foi num jardim que não público muito provavelmente é duma patroa da minha avó a quem esta limpava a sua casa. Não sei sinceramente. Sei sim, que as nossas origens não são motivo de vergonha;  principalmente quando são de pessoas trabalhadoras que saem do campo para  a cidade ou seus arredores, pois vislumbram uma vida melhor para a sua família. Muitos nesta época emigraram para o Brasil e conseguiram enriquecer à custa de muito trabalho, sacrifício e em alguns casos com aquela ginga de levar vantagem sobre o outro. Alguns estudo mostram que os alentejanos não saíam do país pois o seu objetivo  não era enriquecer e sim viver dignamente sem ser explorados no campo.

Alguns, provavelmente, olharão para esta foto e dirão: " Olha uma menina loura, branca de olhos verdes rica europeia! Ah E de Portuga! que enriqueceram às nossas (?!) custas!" " Pronto, se chegou até aqui acredito que se pensou isso já não pensa mais, porque escutarmo-nos, informarmo-nos, sabermos quem somos, os contornos da História e suas oligarquias, diásporas e não rotular é um passo muito grande para termos consciência de classe. Defendermos ideologia e praticarmos linhas espirituais é cinco estrelas, mas com consciência de classe. Que a minha realidade e acesso à educação, habitação. saúde, alimentação não é a mesma que a pessoa que está ao meu lado, tenha esta a fisionomia que tiver. Consciência de classe é valorizarmos o nosso trabalho, valorizar o trabalho dos outros. Em suma, respeitarmos e fazermo-nos respeitar por quem somos, com o nosso trabalho ou simplesmente pela nossa presença empática. Isto é o que me vem à cuca, muito resumidamente.

Porque escrevo isto tudo? Para não me sentir só, muita se outras vezes. Como muitos e tantos de nós e muitas e várias vezes por motivos vários. Ser do bem não é só cantar Chico Buarque e vestir saias compridas e erguer punhos e gritar que tá tudo errado ou falar namasté e maravilhoso para tudo. É um pouquinho mais que isso. 


A Piu

Campinas SP 10/04/2021

terça-feira, 6 de abril de 2021

PARA ONDE VAI A SOBERBA?

Quando o impostor levou um murro mesmo no meio dos cornos, mesmo - assim- dado à altura da sua impostura entendeu que precisava de baixar a bola e que escusava de se esconder. PUM. Mil sessões terapêuticas numa só  murraça de homem para homem, já que ele não escutava as mulheres. Poderia até ser uma murraça sem punho, ou um olhar como aqueles pais à antiga, tipo: ' mais um passo em falso e tás á pega..." 

ZÁS TRÁS PÁS umas duas três mulheres uivando das entranhas. A quarta, por se achar tão sagrada transportando a luz solar dentro de si, fugiu aterrorizada refugiando-se em homens igualmente pequeno burgueses como ela. Acendeu velas, incensos e palos santos para afastar a má energia feminina que desestabilizava a sua paz interior. Mesmo levantando bandeiras, quando sentia uma mulher uivando ou prestes a uivar refugiava-se no meios dos seus cactos como se dela própria se protegesse, Ainda teria muito que caminhar no entendimento de si e das manas, mulher sagrada auto centrada locomovida a petróleo.

O impostor afinal já não era mais impostor porque afinal amava a sua liberdade e a sua irreverência funcionava para os desatentos que com o amadurecimento das duas uma ou continuavam a ser coniventes com as infantilidades sofisticadas do caprichoso impostor e as mil manobras um tanto sinistras ou fingiam que não percebiam ou iam à sua vida e esqueciam-no... Porque afinal, o que restava da pós duma pandemia em que todos estão com a vida por um fio? Os orgulhosos levariam o seu orgulho para onde? E o mesmo seria possível de ser higienizado?

A Piu
Campinas SP 06/04/2021









PARA IR A DIREITO É SEMPRE PRECISO VIRAR À ESQUERDA

 


Tudo depende da perspectiva, do lugar de onde olhamos e como. Se eu a olho de frente ela vai virar à esquerda, à minha esquerda, mas na realidade é a direita dela. O lado direito do cérebro é o lado feminino, da intuição, da criatividade. Já o esquerdo é o lado racional. Assim, resumidamente. Claro.


Provavelmente a nonna da Laura não teria o estilo duma atriz de cinema europeu dos anos 60 e sim o estilo duma nonna italiana emigrante no Brasil vinda de navio dos anos 40, 50 que se vestia e comportava recatadamente ao serviço do nonno. 

Num caderninho, que guardava na gaveta dos remédios, estava escrito numa letrinha torta aprendida no seu breve percurso de quatro anos pela escola: ' Para ir a direito é sempre preciso virar à esquerda".

A vida foi acontecendo, entre fazer a comida preferida do marido, deixar o melhor para ele em tempo de escassez, em lavar a roupa e passar impecavelmente a ferro até a roupa interior e panos da cozinha. 

Para Laura,a sua neta, aquela frase era enigmática... Seria algum grito de guerra interior para não se esquecer de quem ela era e  assim ir fazendo as coisas do seu jeito dando a ilusão de poder ao nonno, ou seria uma forma de se resignar à sua condição sabendo que contornando o que  lhe pesava tudo seria mais leve?


A Piu

Campinas SP 06/03/2021

ANTES DO ANTES DO DEPOIS


Quando ele nasceu, ela já sabia ler e escrever mas  mais ou menos cheia de erros 'ortogrânficos'. Era a melhor da sua sala na quantidade da troca do "f" pelo 'v' e muitas palavras carentes de 'n' e até  onde a imaginação possa levar para que o ditado ficasse todo adornado de riscos e correções a bic vermelha. Uma loucura. Um êxtase de insucesso escolar!,,, Também já tinha aprendido a pedalar e raras foram as vezes que caiu na sua bicla que mais tarde viria a ser uma bmx. Em suma, quando ele nasceu, ela já metia o dedo no nariz e olhava para a escola com um grande porquê. Tipo do género mais ou menos assim: " Pra que serve tudo isto?"

Quando ele se sentou numa cadeirada escola e metia o dedo no nariz entediado já ela escrevia, já tirava boas notas, sonhava em ser pintora e apaixonou-se pelas teatradas e foi estudar isso, embora curtisse Antropologia.

Quando a ele provavelmente apareceu aquele acne casual e descobriu que existia rock já ela andava pelo mundo de mochilas às costas e a viver das suas teatradas. Quando voz dele começou a dançar entre o fino e o grosso tornando as vogais dissonantes ela estava no lugar onde recentemente havia um Muro que separava a Europa Ocidental da Oriental, o capitalismo do comunismo.

Quando a filha dela nasceu, provavelmente foi pela época do seu primeiro beijo, com uma bobinha qualquer como com certeza enxergava as meninas da sua idade e olhava as mais velhas como caquéticas desprezíveis. Mas paradar uma de galera até fazia-as sentir fofinhas.

Quando ele chegou à universidade para fazer a sua graduação ela estava, no seu mestrado, de passagem pelo meio académico para tentar criar diálogos entre o seu oficio de palhaça hospitalar e a antropologia.

Um dia picharam uma parede da erudita, douta, conceituada faculdade onde os dois transitavam, sem nunca se terem cruzado. Logo uma discussão (pseudo) intelectual analítica tomou o grupo do facebronx. Se aquilo era arte ou não.... zzzzzz A tuga, que já vira e vivera umas coisas para lá do seu lugarejo suburbano a 20 km da capital portuguesa, que hoje é essa tal de Lisbonne está na moda porque está com uma roupagem neo liberal cool, falou da sua experiência e visão sobre o gratfitti. Muitos aplaudiram com curtidas que dá sempre aquele status...:

Uma bela noite, tipo à hora do jantar duma família comum com filhos, o sujeito manda uma mensagem no privado assim: " Entendo você.". Ela perguntou quem era e ao que se referia. Apresentou-se com a sua identidade verdadeira e deu uma resposta evasiva. Na verdade ela é que não entendia o que ele tinha entendido... Mas tudo bem. Deve ser tímido. Ingenuamente achou que poderia fazer um amigo naquela faculdade de ambiente um tanto ou quanto insalubre.... Porque competitivo e outros convencimentos meritocráticos que roçavam o assédio moral. Ele não conhecia nem o Maio de 68 nem o Paulo Freire !!! Ela estava abismada, a forasteira!!!! Bombardeou-o de informação sobre a primavera franciu e sobre o seu conterrâneo que nomeadamente fora professor na faculdade de educação daquela conceituada universidade. 

Ela, ingenuamente, por nunca ter vislumbrada fazer da sua vida uma carreira académica achava que as pessoas que frequentavam universidades, principalmente na área das humanas e das artes fossem mais cidadãs, logo mais solidárias. Era tempo dessa menina mulher moça de outras vivencias planetárias olhar as outras bolhas e saber que as suas utopias e onirismos eram também umas bolhas que ela poderia e deveria defender mas sem ingenuidade. Porque corria o risco de ganhar como brinde,à laia de tinder surpresa mas no fakebronk, um tanto marafado.

Mas como lá atrás com os seus 8, 9 anos ela perguntava para que servia a escola ela agora sabia que as coisas e os acontecimentos servem sempre para alguma coisa, que é subirmos mais um degrau na consciência e tornarmos nos mais leves. Quem entender, bótimo. Quem não entender mantem-se num emaranhado que para si mesmo criou querendo levar amigos, parentes, colegas e desconhecidos atrás. 

A boa noticia é que as pessoas podem sempre se rever. A menos boa, mas que também é boa noticia: é que ninguém faz essa desintoxicação emocional por nós. O desafio, lá está, é tornarmos-nos responsáveis por nós mesmos  ao invés de importunar os outros e ser gente de verdade com verdade. A gerência agradece de coração

A Piu

Campinas SP 06/03/2021

sábado, 3 de abril de 2021

UMA CRÓNICA CRÔNICA

 

" Eu não acredito que ainda tenha que protestar desta merraça. ' Tradução minha livre para não traduzir " fucking shit" em " história" à laia de traduções feitas no meu Portugal para teatro, cinema e tv. Tipo: Fuck you é traduzido em " Com os raios". Além de ninguém falar isso na sua vida normal a expressão original perde toda a força. Enfim... Vamos ao que interessa. Primeiro falarei brevemente desta foto e de seguida farei uma espécie de crónica baseada em factos do dia a dia de muitas pessoas, embora pareça um tanto insólito.

A expressão e a postura desta senhora é incrível. Se tudo correr bem eu quero envelhecer assim. Sair à rua, encontrar pessoas mais jovens que eu, não esquecer dos princípios que me movem e também usar um colarzinho como o dela que parece um nariz de palhaço. Ao que parece daqui ela segura um maço de cigarros com os seus óculos escuros. Eu não fumo, só muito mas muito de vez em quando. Mas também não me cabe a mim julgar outras pessoas que fumam. Outro dia, nos comentários duma entrevista com os cartoonistas Marjane Satrapi e o Art Spiegelman o que algumas pessoas repararam foi que eles fumavam e isso causava-lhes desconfiança.... Não confiavam em pessoas que fumam, mesmo quando estas fazem um trabalho incrível reconhecido internacionalmente. O my dog!!!

Vamos à crónica:

Naquela época a sua internet era muito falha. Era no tempo das pen's de plano mais barato... Constantemente a cair. Uma espécie de prova de paciência nem sempre superada. Mas naquela noite a divina tecnologia estava com ela como se o wifi fosse um enorme anjo da guarda. No momento em que o sujeito propôs textualmente uma masturbação a dois onde ele é que orquestrava como ela deveria fazer e sentir ZÁS a internet cai e não volta mais até à manhã seguinte. De facto, ela respirou de alivio porque não estava a fim de desenvolver esse tipo de fantasia que lhe deixava um sensação de pornografia duvidosamente consentida mas sem escuta e sem a poesia dos preliminares.

Ingenuamente quando o contactou como se duma amiga se tratasse sem tocar no assunto levou um fora. Talvez por ingenuidade e nunca ter tido amigos assim e também por querer fazer amigos num novo território onde agora moraria insistiu em conhecer a pessoa ao vivo e a cores. Vários foras... Pobre ingénua que nunca entrou num tinder e agora tinha um brinde um tanto grotesco à laia de tinder surpresa pela frente que duraria anos. O sujeito sempre dizia que não dava para se encontrar porque estava namorando... Ela não entendia a relação, pois tinha e tem amigos que namoram... Nem por isso ela vai desrespeitar a relação. Depois vieram situações um tanto sinistras: mensagens sem nexo anónimas ou com nomes falsos - algumas pedindo ajuda mas com um mau gosto assombroso ( um exemplo entre vários: Olá! Tenho 12 anos e estou hospitalizado. Sei que é palhaça e gostaria que me fizesse cócegas nos pés), entradas nas suas contas de e mail por outros dispositivos que não os seus, vírus no facebook disparando mensagens pornográficas para familiares e amigos, apagamentos de publicações e comentários das mesmas, apagamento de fotos e contatos nomeadamente de trabalho, do dentista (!!!) e de amigos das filhas ... Enfim, a p..ta da loucura. A sorte desse sujeito é que tinha uma colega e também amiga da faculdade que sempre se prestou a escutar aquela mulher menina moça que tinha até idade para ser sua mãe e ao que consta não o rechaçou mas ficou atenta. Esse sujeito também tinha muita sorte de ter um irmão que o amava, provavelmente por conhecer as suas dores de criança ferida, defendia-o até um certo ponto, não competia com ele ( pelo menos aparentemente) e não o julgava publicamente, mesmo quando não concordava com a sua atitude. Isso é amor de irmão. Talvez toda essa bizarraria tivesse um propósito maior. 

Até ao próximo texto cujo titulo é: ' Quando a bizarraria se desfaz'.

A Piu

Campinas SP 03/04/2021

DO MEU MURO CUIDO EU

 


Esta imagem pode ter várias leituras. Podemos imaginar uma mulher contra um muro beijando alguém ou simplesmente encostada contemplando o céu por saber que está a salvo de algo ou alguém. Pode ser um ritual que ela faça diariamente para que o muro se desfaça aos poucos. 

O muro se desfazer aos poucos como um ritual que ela coloca para si pode ser uma alegoria dela ir olhando para si mesma, auto conhecendo-se e desfazendo os seus obstáculos internos fruto da sociedade onde vive, do sistema familiar onde nasceu e cresceu. Enfim, do que já passou e ficou na memória celular e do que ainda se passa no piloto automático.

Existem por aí uns fundamentalistas que cobrem as mulheres dos pés à cabeça e que ainda dizem: " Nós cuidamos das nossas mulheres contrariamente ao que acontece no Ocidente. "

Esta frase tem pano para mangas como a manga da foto. Primeiro: as mulheres não são deles. como eles não são das mulheres. Elas são delas e eles são deles. Já sermos de nós mesmos é uma grande empreitada que nem toda a gente está a fim de se comprometer com esse desafio, que no final das contas é o desafio de encarnarmos. Sim, nós somos feitos de carne, corpo, espirito, éter e alma. 

Segundo: as mulheres não precisam que os homens cuidem delas por elas. Porque como foi dito acima, essa é uma empreitada que a cada um e cada uma compete. Um homem que cuida de si e clareia a sua mente é muito sensual. Porém, muit@s sentem medo da sensualidade e do prazer então distorcem, diabolizam, perseguem, podam e descarregam todos os seus desejos e impulsos sexuais pela calada duma forma muitas vezes grotesca. Nomeadamente mutilam os genitais das mulheres para que estas não sintam prazer e estes possam descarregar os seus impulsos em relações poligâmicas onde cada uma delas é só dele, mas eles é o tal do seu harém.  Isto no Ocidente também acontece, sem mutilações genitais, e o homem ainda diz que a relação é aberta... Mas onde há ciúme infundado e a igualde não está presente... Vai dar ao mesmo... Algumas religiões, não todas claro, são exímias em incentivar o homem em ter várias mulheres, famílias sem ofertar uma presença de qualidade. Já os homens que se acham mais modernos, considerando-se alguns ateus ou agnósticos, também não estão com a situação totalmente resolvida. Porquê? Para atalhar: porque não cuidam deles mesmos que é coisa mais sensual e atraente que pode existir na face da terra. Estou-me a repetir... Mas é de propósito.

'Tá um homem moderno aprecia mulheres descascadas, desde que não seja a sua esposa, noiva, namorada expressando-se para o mundo, mas quando não cuida de si o suficiente acha que não é merecedor do amor de alguém. (Falo aqui numa relação hetero, mas acredito que em alguns aspectos seja semelhante a outros tipos de orientação sexual e amorosa ). Logo, se a nossa insegurança toma conta de nós e para tentar engana-la recorremos a nudes e achamos que toda a minha gente habita no universo dos nudes como vai querer ser feliz e que outras pessoas o façam feliz? Como posso exigir que alguém me faça feliz se eu não me faço feliz e não faço o exercício de fazer o outro feliz sem nudes e suposições? Sim, no meu ponto de vista o síndrome da gostozice é uma consequência da lógica dos nudes, do consumismo, que vulnerabiliza principalmente as mulheres. Porquê? Porque está dentro duma lógica do ego e no do Eu, daquele self que vai de mim até ti. A qualquer momento o nude vaza, a mulher ou menina é ridicularizada e rechaçada. Uma vez enviei um poema erótico e o sujeito tomou aquilo como um nude e ainda se vangloriou que tinha vazado. Ahaha que bom que muita gente tenha acesso a poesia erótica, pena que perdi essa escritura. Vazou e a mensagem foi apagada... Ahahaha  E eu já não tive cara para pedir o  meu poema de volta só queria que a conversa acabasse e ele me deixasse em paz. O que não aconteceu...  Fui percebendo como a pessoa enxerga o desejo e o modo de se relacionar com o sexo oposto...Fica a dica: se quer dar a conhecer a sua poesia erótica publique no seu blog, num livro para que não seja confundido com um nude. Se quer conhecer uma pessoa olhe-a nos olhos, sinta a expressão dos silêncios presenciais. Se ela te olhar com ar de lobo do chapeuzinho vermelho dê meia volta e siga o seu caminho. Em suma, esta é uma lógica que não vai pela via do coração. Ou vai? Se for comentem aqui. É como a lógica do ir a todas e todos que alguns chamam de poliamor. Eu ainda estou para conhecer uma relação de poliamor firme, amorosa e duradoura. Eu quero conhecer de facto. Poliamor não é p..taria. Vamos combinar. Xim?

Um cultura, uma sociedade, uma religião que decide pelas mulheres se elas devem andar cobertas ou despidas, correndo o risco de assédio e estupro, cuida delas? Sim, temos que cuidar uns dos outros, mas ter livre arbítrio para decidirmos como nos expressamos corporalmente, espiritualmente através da nossa alma. E quando falo em alma, falo daquela que sujeitos como o Jung e o Kaká Werá anunciam, entre outros estudiosos do espirito e da alma na perspectiva da psicologia transpessoal e analítica. 

Este confinamento tem sido para muitos um desafio, mas quem quiser aproveitar a convocatória - um tanto imposta- de olhar para si e se cuidar talvez os beijos e os abraços pós pandemia tenham um gosto de  fruta e flores frescas e não um hálito de carniceiro esfomeado cheio de ai credos não enxergando as mulheres como um ser integro, potente, alegre, dançante, graciosa, malucaça e sensual. Façamos para nos merecer uns aos outros. E se eventualmente recebermos um 'Não' acolhemos sem perseguir ninguém, sem invadir o seu espaço intimo e privado. Alguns seres humanos levam tempo a entender isso, talvez porque a imagem que tem de si próprios é difusa logo acham que ninguém os topa quando se escondem ou aparecem. Mas desejar o melhor para eles é o mesmo que desejar o melhor para nós. Já outros que somos muitos de nós, sedentos de sermos aceites e amados embora por vezes nos atrapalhamos mas sabendo que intenção para com a outra pessoa não é maliciosa, cuidemos de nós mesmes. Eu e o tu somos um TODO.

' O machismo é o medo dos homens das mulheres sem medo. ' - Eduardo Galeano

A Piu

Campinas SP 03/04/2021


sexta-feira, 2 de abril de 2021

QUEM NASCEU PRIMEIRO O MURO OU A CASCA DO OVO?


Qual foi a menina mulher moça que nunca escutou isto: ' Andas muito saidinha da casca!' ? Pode até nem ser dito com estas palavras. Porém, quando uma moça mulher menina começa a se mostrar, a ir ao encontro dela mesma ou simplesmente a se posicionar alguém tenta - por vezes  consegue por um curto, médio e até longo prazo- coloca-la num lugar que lhe é conveniente, ridicularizando a sua existência que corre o risco de ser exuberante, ofuscante para uma mesquinhez, uma mediocridade institucionalizada e aceite.

Em criança, quando eu era refilona ( ainda sou um pouco, acho.... ihihih) o meu pai dizia: ' Ai que a formiga já tem catarro!" Até hoje adoro essa imagem! Uma formiguita ínfima com  a voz rouca a vozeirar: ' Comigo não! Não me pisem os calos!' Uma formiga com calos... Como será? Devem ter. As formigas são muito trabalhadeiras. São é um pouco limitadas das ideias, porque acham que as cigarras por cantarem, dançarem e bailarem não são profissionais da arte. Não é justo! 'Tá mal!

Hoje é aquela sexta feira que antecede o domingo de Páscoa. É dia 2 de Abril, que precedeu o dia 1 que foi dia das mentiras. Em criança adorava esse dia. Em casa contávamos sempre umas balelas uns aos outros, tipo: ' Um leão fugiu do Jardim Zoológico, do Zoo vá,  e disseram na rádio que a última vez que foi visto estava muito perto aqui de casa." Quando me contaram esta eu gelei. 'Dia das mentiras!!! Nham nham nhamna!"

Bom, uma mentira assustadora mas que se desfaz logo no momento e todos se riem.

Já o que aconteceu aqui no Brasil em 1964, na passagem de Março para Abril foi e é uma grandessíssima  piada de mau gosto ( eu já vi escrito mal gosto, mas eu sempre disse e escrevi mau gosto em oposição ao bom gosto. Mau é oposto de bom, no caso. E mal o oposto de bem. Mas o que interessa é nós nos entendermos e a língua é viva). 

Acredito que é muito importante para ressignificar a História, lembrarmos datas e momentos históricos tão ou mais sinistros como aquela chegada do meu conterrâneo Pedro ( não o meu irmão Pedro, que esse veio muito mas muito depois) em terras de Vera Cruz na Páscoa de 1500. Nessa época e  até meados de 1974 basicamente nós moças mulheres meninas portuguesas éramos muito, mas muito mal vistas e até rechaçadas se colocássemos um pezinho fora da casca.

Em jeito de breve conclusão: uma sociedade, uma cultura, um regime com os seus cidadãos incluídos, mesmo aqueles que não concordam com o dito regime e são perseguidos e tudo o mais, muitos até desaparecidos, que não respeitam as mulheres no geral e as da sua comunidade no particular estão, (in)conscientemente a contribuir para essa grande mentirinha de mau gosto que dura há séculos. E nós viemos aqui, neste plano, para quê? PARA SAIR DA CASCA E CELEBRAR A VIDA, RENASCER COM NOVAS FORMAS DE NOS RELACIONARMOS. 

Não é para me gabar, mas não é um 'granda' sacada da formiga que já tem catarro? Na verdade não fui a primeira nem serei a última a ter este tipo de visão cosmicómica. Sim, rir é saudável, principalmente quando a intenção é rir junto sem espezinhar ninguém. Mas rir de quem acha que o abuso poder e a tirania nunca terá fim é liberta dor!!!!!!

Choose! Bai bai! Agora vai! Yo yo! Agora me vou! Aliás, agora me voo!

A Piu

Campinas SP 02/04/2021