sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

NA SENDA DE AUDRE LORDE - IV


Não, esta não é Audre Lorde e sim Chimamanda Ngozi Adichie.A primeira escritora negra que conheci através de " O perigo duma história única". Conceituada escritora nigeriana, filha do primeiro professor de estatística e da primeira mulher a trabalhar na secretaria da universidade na Nigéria. Chimamanda além da Nigéria viveu nos EUA. Não sei onde vive agora e também não sei se ela vive de forma abastada ou remediada. Isso é com ela. O que me interessa é a sua obra que é emancipatória e por isso vencedora de vários prémios da literatura. Sim, pela imagem ela pode pertencer à classe média alta da Nigéria. Embora em uma das suas obras ela fale das restrições alimentares num campus universitário nigeriano durante conflitos ocorridos no país. Ela retrata também com muito humor e perspicácia o olhar estreito que uma grande maioria dos norte americanos têm acerca do resto do mundo. Um pouco semelhante aos franceses, mas mesmo assim estes são um pouco mais cultos embora igualmente arrogantes. Nem Portugal, que está ao lado, conhecem direito achando alguns que todos os portugueses vão à missa e de carroça. Tooooodos os vestidinhos de preto e com lenços na cabeça, mesmo no Verão. Fora de brincadeiras! Embora pareça! Uma vez disse a uma parisiense , estudante de artes cénicas, que existem escola de atores em Portugal e Belas Artes na Guiné Bissau. Esta ficou assaz surpreendida.... E ainda fazem chacota dos norte americanos!... Ai os francius!..... ihihih

" Escolher escrever é rejeitar o silêncio." Chimamanda não diz nada de novo, mas é bom lembrar. Lorde diz que o silêncio não nos protege. Precisamos de pôr a boca no trombone. Naturalmente elas referem-se a verbalizar o que elas sentem como algo que precisa de ser visto e transformado. Encontram na palavra uma utopia realizável. Eu subscrevo, embora para falarmos precisamos de nos silenciar, esvaziar e escutar a voz interna. Aquela voz sábia que nos guia diante de distrações e tentações fajutas de grandes verdades que nos levam a grandes ciladas. 

Lorde, filha de emigrantes do Gana, nos EUA diz que às mulheres negras  não lhes é permitido analisar as emoções como as mulheres brancas fazem, pois estão preocupadas em sobreviver e não morrer ou serem mortas. Pois. É uma realidade. O que fazer diante disso para que seja possibilitado às pessoas menos favorecidas poderem se auto conhecer dispensando análises racionais caraterísticas duma lógica patriarcal que somente dá importância ao mental, ao ganho aos cifrões, ao prazer fast foda, ao resultado imediato e ao tudo explicável dispensando a intuição e espontaneidade do corpo, da alma e do espirito. 

A questão não está nem pode estar em estigmatizar as mulheres favorecidas pertencentes, em alguns casos, à classe média alta. Essa estigmatização já é feita pelos misóginos que odeiam as mulheres opacas e as que brilham. E os misóginos estão em qualquer parte. Não só do lado direito da politicagem. A questão está em quem tem acesso compartilhar, democratizar o seu conhecimento e sabedoria com o máximo de seres humanos possíveis. E isso Chimamanda faz, como Lorde, Pinkola e muit@s. 


A Piu 

Campinas SP 08/01/2021

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