Num dia e meio devorei, degustei e ainda a digerir " Irmã outsider" de Audre Lorde, uma escritora negra, poeta, lésbica, mãe solteira duma relação com um branco, ativista, professora académica. Sinceramente a voz dela, a escrita dela representa-me muito mais do que a de Simone de Beauvoir, sem desvalorizar obviamente a importância que esta teve para o pensamento e ação das mulheres, no último século.
Audre Lorde vai no ponto sem papas na língua, sem condescendias, mas com muita amorosidade sem aquela chachada de clichés, vindo principalmente de mulheres brancas ou branqueadas pequeno burguesas para cima que: " Ai! É só amor! É só irmandade! A raiva e o desejo precisam de ser eliminados da nossa luz interior divina."
Audre Lorde distingue com precisão raiva como energia (des)construtiva de ódio como uma lógica destrutiva já instituída. Assim como distingue entre erotismo como energia de criação, criatividade com o gozo e alegria de compartilhar com terceiros com pornografia que é destituída de sentimento para responder a um desejo distorcido fruto duma lógica mercantil, logo patriarcal. Sempre alertando para a importância da (auto) gentileza.
Dou assim inicio a esta série textos inspirados na leitura do pensamento de Lorde. Série essa que falará da importância de romper silêncios, valorizarmos-mos mutuamente, da solidariedade, do auto conhecimento, consciência de classe, dos estereótipos, das apropriações, do valor do nosso trabalho e do valor que atribuímos ao trabalhos de quem nos rodeia e da importância de falar do óbvio que não é óbvio unanimemente. Resumindo e concluindo, entender o que nos une e não o que nos divide nesta complexidade de inúmeros olhares e existências.
A Piu
Campinas SP 02/01/2021
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