segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

ANITA E O NA TAL


 Natal de 1977. Esta sou sou com uma grande sacola cheia e presentes/ brinquedos só para mim no meu quarto com um armário onde tem uma maquininha de lavar a roupa e em baixo um serviço de chá de miniatura que se espatifou em parte em cima de num dia que fui pegá-lo durante uma tempestade, duma prateleira mais alta. A manta da cama foi tricotada pela minha mãe e o vestido igualmente feito por ela.. 70's entre o consumo e a bricolage. 

Tenho  4 anos e olho para a minha mãe que segura umas peúgas, presente natalício/ natalino ( olha as variantes do idioma com tranquilidade) da praxe. 

A minha avó Rosária, que nasceu no ano de 1922 como o Saramago, escritor prémio nobel que tão bem retrata o seu Alentejo em "Levantado do Chão", dizia: "Ah! Agora vocês têm tudo e não dão valor a nada!". Também dizia: " Nunca pensei que te tornasses assim. És maluca!"

A minha avó alentejana, que como os retirantes nordestinos brasileiros,  foi viver para perto de Lisboa nos idos 40, partiu no Carnaval de 2014 na mesma época que eu tentava vender  e subsistir dos meus livrinhos de poesia e um sabichão veio se armar em espertalhuço virtualmente, achando que por detrás da  máscara da internet poderia me diminuir, sem me conhecer presencialmente, por ser mulher, artista, estrangeira, no caso portuguesa. Só que antes dele nascer eu já existia e todas as minhas avós que vieram antes de mim e que me passaram valores de dignidade, mesmo subjugadas à obediência duma lógica patriarcal. 


Quando ela partiu, a mãe da minha mãe, que foi minha mãe quando a minha mãe partiu eu senti-me sem chão  e com chão. Com o chão das raízes de sabermos quem somos, quem nunca deixamos de ser, de onde viemos e quem queremos honrar. Ah! E como a Lorde diz e escreve: Poesia não é um luxo. 

Agora ofereço esses textos mas ainda venderei livros e artigos. Me aguardem! Ooops Aguardem-me!

A Piu

Campinas SP 04/02/2021


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