sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

HANAH PIL

 " É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar." Gilberto Gil

Há precisamente 9 anos eu chegava com duas filhas de malas e bagagens ao aeroporto de Viracopos. Muitos copos já se viraram desde então. Uns quebraram, outros resistiram e outros re existiram. Só tenho a agradecer cada dia que passa, cada desafio, cada superação que a resiliência traz para sair do piloto automático.

Chegámos no auge da crise financeira e desemprego em Portugal. em que muitos conterrâneos migraram para outros destinos planetários.  Hoje, o "meu" Portugalito está maquiado de gourmetização e virou moda. Ainda penso:' Quais são as oportunidades que os próprios portugeses ainda não sacaram? Como são vistos os portugueses por quem migra para lá? Quem migra conhece de facto Portugal intimamente com suas resistências e desistências de si mesmo?" Livrar-me do ressentimento que isso me provocou tem sido um grande desafio, entre outros. Sair da matrix É O DESAFIO. Dá trabalho, por isso é um desafio.

Viver no Brasil é um desejo antigo com um propósito muito maior. Ir ao encontro da riqueza cultural e social que este grande território emana, independentemente de (des)governos.

Artistas , pensadores, pedagogos, escritores, terapeutas, ativistas (populares e não populares sem populismo e pseudo erudição).

Ainda não entendo todos os códigos de conduta daqui, assim como os discursos internos institucionalizados que por o serem são rasos. Por exemplo: " Os portugueses vieram e fizeram isto e aquilo no Brasil..." ( sim, é absolutamente verdade a triste história que até hoje se perpetua de invasão e violência), " Portugal é bom demais para se viver.", talvez seja, para mim já deu e guardo o meu país no coração sem patriotismo agradecendo cada oportunidade de crescimento aprendendo a dizer "sim" e " não". Mas pergunto-me o porquê de tal afirmação. O que se admira e quem se admira em Portugal para virar o paraíso de um dia para outro? Eu admiro muito o Brasil, desde criança.e cada vez mais admiro os indígenas, os afro descendentes, as mulheres, os homossexuais e tran desta terra, assim como todos os periféricos e não periféricos que agem para um país mais justo e emocionalmente sustentável.

Algumas vezes é bastante desafiador ser mulher e também portuguesa neste país. Assim como mãe de duas jovens moças com a sua autonomia em curso. Não dá para negar a história e as nossas origens. Mas eu sei quem sou e qual o meu propósito nesta oportunidade de estar viva. Também agradeço a esse mergulho orientado por muitas pessoas incríveis daqui. Desde pajés, mulheres que resgatam e curam o feminino e o masculino e muitos artistas e educadores inspiradores. 

Aprendi a levar com um humor mais leve as piadas de portugueses e suas conotações. Depois daquele final de 2018 já tenho uma na manga: " É verdade! Tem uns portugueses e portuguesas que só visto! Mas pergunto-me onde andava a inteligência no Brasil para elegerem um coisinho..."

Bom, no último domingo alguns tugas mostraram  a sua " raça" votando num sujeito que tem um discurso faxixi... Que estigmatiza os ciganos e enaltece o Tonecas Sal Azar... Estigmatizar os ciganos infelizmente é secular. A minha avó alentejana, que eu tanto amo, dizia-me quando eu fica sapeca: " Porta-te bem se não vem um cigano e leva-te dentro dum saco!" Talvez por isso eu tenha uma profissão aciganada. ihihih Para minha felicidade nasci e cresci num ambiente anti fascista. Menos mal! 

Beijos e abraços para o Brasil e Portugal num olhar transcendental para lá da matrix!


A Piu

Campinas SP 29/01/2021

Crédito: 
Amanda Dumont






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