quarta-feira, 1 de julho de 2020

MAS QUE CÉU É ESSE QUE HÁ MILHARES DE ANOS AS PESSOAS CONTEMPLAM?


No ano de 2013 o espetáculo de formas animadas ‘ Um Buraco no Céu’ é criado e estreado num Festival de Títeres em San Nicolas na Argentina. Criado por mim, Ana Piu, uma artista cênica e por Denise Valarini, uma artista visual. Quem trouxe a ideia do buraco no céu que estava se abrindo sobre um povoado e seria urgente costurá-lo foi essa artista visual.

‘ O Buraco no Céu’ foi escrito  a duas mãos e montado antes de eu conhecer o manuscrito  ' A queda do céu: palavras de um Xamã yanomami’ do David Kopenawa e do Bruce Albert. Porém essas coincidências de montar um trabalho autoral cuja protagonista é uma anciã e as outras personagens ativas são mulheres que representam a idade maior, a ancestralidade, tenha esta ou não sabedoria, e que aborda a questão ambiental e posteriormente a ecologia das emoções com o reconhecimento das preocupações dum povo antigo da floresta foi ‘Aha!’, um entendimento trazido para a consciência. A Senhora do Silêncio é uma boneca de manipulação direta que protagoniza toda a trama, guardando um segredo que todos já sabem mas muitos esqueceram, ou lembraram-se e esquecer ou esqueceram de se lembrar e por isso por ora desconhecem. Ao inicio contemplam esse buraco deslumbrados, mas depois assombrados sem saber como resolver e entrando num estado de aflição tentando encontrar culpados e sem conseguirem chegar a conclusão nenhuma, pois a escuta é algo que não está afinado como exercício de cidadania. Com o desenrolar da trama a Senhora do Silêncio, que sempre esteve lá é relembrada e finalmente olhada com atenção e o exemplo de olhar o céu enraizada na terra em silêncio abre espaço para que tudo volte a ser um todo, sem rupturas que gerem o perigo do céu nos cair na cabeça e ser o dilúvio total onde não há escapatória nem mesmo numa lata de conserva.

A Piu 
01'07'2020

crédito: Italo Medina

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