segunda-feira, 2 de setembro de 2019

WAS? O QUÊ? - algumas considerações sobre a ganância de que a Amazônia tem sido alvo ao longo de séculos

expressionismo alemão foi um estilo cinematográfico cujo auge se deu na década de 1920, que caracterizou-se pela distorção de cenários e personagens, através da maquiagem, dos recursos de fotografia e de outros mecanismos, com o objetivo de expressar a maneira como os realizadores viam o mundo.


Ao assistir à palestra do líder indígena, ambientalista e e escritor brasileiro Ailton Krenak. O que foi uma honra, senti por instantes o que uma alemão ou alemã deve sentir sistematicamente fora da Alemanha. A uma dada altura da palestra, Krenak diz que fora convidado duas vezes para ir a Portugal. A primeira foi um convite para as comemorações dos descobrimentos!!!!!! Que falta de noção de quem o convidou!!!!! Uma deselegância que transita entre a arrogância e ignorância. O que vai dar ao mesmo. É mais que óbvio que o homem não foi. Eu também não iria. Só se fosse para dizer umas verdades. Mas duma segunda vez o Kranak foi e quem o convidou dizia que tinha uma dívida histórica para com o povo Ameríndio. Krenak comentou então para a plateia: " Afinal os portugueses também sentem a pimenta na boca. (...) Eu sei que tenho uma certa implicância com Portugal." Umas meninas de trás riram-se... Talvez as mesmas sejam filhas ou netas de portugueses..., italianos... , espanhóis e por aí vai. Mas riram-se não sei muito bem porquê... Mas pergunto: é mais fácil colocar a culpa em algo ou alguém alheio a nós do que realmente conhecer a nossa própria história? 

É mais que compreensível que a implicância de Krenak  com Portugal. Porém, a pimenta na boca de alguns portugueses, não todos nem a maioria, é um movimento de consciência. Sim, Portugal tem uma dívida histórica com África e com o Brasil. Com África ainda mais, pois somente se passaram quarenta anos de independência. Ao passo que com o Brasil já se passaram 200!  O que se fez de diferente durante estes últimos dois séculos em relação aos povos nativos?

O Brasil vive um momento político bastante bipolar, num estágio muito antes do debate. A despolitização ao nível da esfera partidária é gritante. Uma grande maioria parece que ainda vive o clima da guerra fria onde estão os capitalistas dum lado e os comunistas do outro. Como isso está tão desfasado do panorama atual, tanto ao nível nacional como internacional logo os argumentos são muito fracos as pessoas passam diretamente para o bate boca, o xingamento. 

Como se vê na imagem de cima, a pessoa que não espera tanta despolitização aliada a xingamento e defesa de coisas completamente distorcidas. Uma maioria defende ideias feitas que muitas vezes nem se dá ao trabalho de aprofundá-las e refletir acerca. Já é hora de não consumirmos noticias e informações pela metade distorcidas. Ler. Não ter preguiça de ler e refletir. Existe um livro do xamã Davi Kopenawa com o Bruce Albert: " A queda do Céu". Deveria ser leitura " obrigatória" - ninguém tem que obrigar ninguém a nada - de todo e qualquer cidadão, não só brasileiro. Porque o povo " branco"/ ocidental/ capitalista vive principalmente no plano das ideias, do mental, longe do caminho do coração.


O Coiso que está no poder é "só" uma mente perversa que se olharmos bem é uma jóia! Sem cinismo! Ele é um reflexo grotesco das nossas mentira diárias. Darei de seguida um exemplo do prefácio escrito pelo Eduardo Viveiros de Castro do livro acima citado, publicado em 2010 durante o governo do PT, para todos refletirmos sem xingamento e com compromisso:

 O presente governo, e refiro-me aqui ao Executivo, desde sua comandante até suas ordenanças ministeriais, vem se mostrando o pior desempenho, desde a nossa tímida democratização, no tocante ao respeito a esses direitos, agravando a já péssima administração anterior sob a mesma gerência: procedimentos de demarcação e homologação de terras indígenas praticamente nulos; políticas de saúde mais que omissas, desastrosas para as comunidades indígenas: uma indiferença quase indistinguível da cumplicidade diante do genocídio praticado continuadamente e às escâncaras sobre os Guarani- Kaiowá, ou periodicamente 'por descuido ' sobre os Yanomami e outros povos nativos, bem como diante do assassinato metódico de lideranças indígenas e ambientalistas pelo país afora - quesito sobre no qual o Brasil é campeão mundial. -pág. 20 (...) Em suma, o  que a ditadura empresarial- militar não conseguiu arrasar, a coalizão comandada pelo Partido dos... Trabalhadores! vai destruindo, com eficiência estarrecadora. Seu instrumento material para tanto são as mesmas forças político-econômicas que apoiaram e financiaram o projeto de poder da ditadura. Tal 'eficiência' destrutiva, note-se bem, anda longe da  " destruição criadora " marxista e shumpeteriana, valha o que esta ainda valer nos sombrios tempos que correm. Não há absolutamente nada de criador, a menos ainda de criativo, no que a classe dominante e seu orgão executivo fazem na Amazônia. O que falta em inteligência e descortino sobra em ganância e violência. - pág. 21.

Pergunta do dia: vivemos numa realidade tipo expressionismo alemão em que a foto do meio é ilustrativa do nosso estado diante de toda esta maluqueira?


A Piu
Brasil, 02/09/2019










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