segunda-feira, 16 de setembro de 2019

MULHERES DE MULTIPLAS CORES OLHANDO OLHO NO OLHO RECONSTROEM MUNDOS

Laço; corda forte, pacto entre indivíduos, aliança, vínculo, união.

Pintura Digital, 2018.

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Ilustração feita pro texto da @amandalyraoficial pra @putapeita 💖 (acesse o site da peita pra ler!)
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MULHERES DE MÚLTIPLAS CORES OLHANDO OLHO NO OLHO RECONSTROEM MUNDOS
" Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio. "
Martin Luther King Jr.
Viver no Brasil desde 2012 tem sido muito intenso para mim. Todos os dias praticamente. Essa intensidade de desembaciar as lentes com que enxergo e percebo o mundo. Cada dia é uma revelação, como se uma tampa que se abrisse, aquela tampa da caixa de gordura nas traseira das casa para limparmos tudo o que além de cheirar mal precisa de dar espaço a novos paradigmas de escuta e empatia mútua.. Uma porta que sempre esteve ali pronta para ser empurrada e abrir caminhos. Caminhos auspiciosos.

Há uns dias atrás no yoga foi dito: ' Que todas as pessoas que encontremos no nosso caminho as enxerguemos como um meio de devolução e não um obstáculo. " Isso! Nada acontece por acaso nesta vida - ou acontece? acaso o acaso é uma acaso? - e se estivermos atent@s com os sentidos alerta acolhemos a nossa intuição. Ai a intuição! Essa bela menina que nos fez avançar, recuar e até parar. Essa aí, parece que não mas diz muito.

Para mim ainda é um quebra cabeças entender este imenso Brasil, repleto de multiplicidade, desigualdades extremas, cores, amores, dissabores, horrores, alegrias e também um lugar de muita cura espiritual. Uma questão de nos abrirmos a tal façanha.
Apresento aqui esta artista cujo trabalho conheço na Feira SUB - arte impressa e publicações independentes que aconteceu no sábado na cidade de Campinas, São Paulo.
Antes de mais, honrarmos, reverenciarmos nos umas às outras é um gesto de sororidade. Honrarmos e reverenciarmos artistas, pensadores, ambientalistas, seres que consideramos que trazem benefícios para o coletivo não é nem paternalismo, tampouco puxa saquice.

Ontem estive presente num documentário numa Bienal de Dança lá no Sesc. Esse documentário era sobre violência contra a mulher, com foco na mulher negra. Eu tanto gosto, como faço questão de assistir ao trabalho dessas mulheres negras que reivindicam um lugar de voz e ação numa sociedade tão segregatória como a brasileira. Porém... Lá vem o porém que não é um obstáculo e sim um meio hábil para mergulharmos mais fundo em nós e também entender narrativas, tratos, olhares de um sobre o 'outro'. Ontem aprendi muito ao ter me esbardalhado numa palavra, fui remetida a branca europeia abestalhada. Disse que mesmo assim o racismo no Brasil era mais """" honesto """ do que na Europa que dá uma de politicamente correta. Eu queria dizer que aqui "pelo menos" o racismo é escancarado. Será? Lição um: não tenho que fazer comparações da realidade europeia com a realidade brasileira que diariamente humilha, prende, tortura e por aí vem negros e negras deste país. Na verdade o que eu também me referia era à plateia branca que ali estava e verbalizou sentir-se escrota porque nunca ter olhado realmente para a mulher negra, É honesto a pessoa assumir a sua lacuna. Da minha parte eu nunca me senti escrota para com uma mulher negra nem para com um homem negro. Além de eu vir duma outra sociedade e também eu não ser representativa da mesma que é racista assumida ou camufladamente. Refiro-me á realidade portuguesa. Neste vai para lá e vai para cá confirmou-se uma dúvida acerca de algumas violências simbólicas que aqui e ali também sou alvo. Uma delas a minha questão do que é ser mestiço e o que é o movimento negro sentir que os brancos estão se apropriar da sua cultura e os lenços na cabeça e tal.

Eu, da minha parte, uso lenço na cabeça há mais de 20 anos e só há pouco tempo soube dessa questão que algumas mulheres colocam sobre a apropriação. Ora, lenços na cabeça usam-se em muitas partes do mundo e mesmo que a minha referência fosse a africana, que não é, eu tenho familia negra africana e seria assim honrar esse lado. Ao que fui logo rotulada de paternalista por honrar. Chiça! Então todo e qualquer gesto e fala é visto como racista e paternalista sem nos conhecermos de facto? Então substituo por reverenciar. Depois veio a cereja em cima do bolo que confirma uma narrativa de legitimação de violência de um homem negro para com uma mulher branca é que esta por vezes relaciona-se por exotismo (?!?!) e o homem negro e/ou pardo está sempre abaixo da branca. Tá... Da minha parte eu relaciono-me por Amor. Também nunca conheci ninguém que tivesse um filho com outra pessoa por exotismo. Até pode haver, mas desconheço. Já a mestiçagem no Brasil é algo muito complexo e traumático pois envolve abuso e branqueamento. Porém, nós todos mas todinhos mesmo somos mestiços. Oh eu devo vir dos judeus e dos árabes lá do norte de África que se misturaram com outros tantos de vários territórios.

Resumindo e concluindo: aprendi ontem a escutar e observar mais sem fazer comparações com a realidade de onde venho, porque assim parece que estou a tirar o foco duma problemática aqui vivida. Mantive me até ao fim do bate papo sem sair e escutando de verdade oferecendo assim a vitória a quem achou que eu sou equivocada e racista. O nosso silêncio ativo com uma escuta generosa é também um gesto de solidariedade para com quem ainda se sente muito ferido. Por outro lado, foi ótimo este incidente ter acontecido para entender certas e determinadas posições que nos afastam ao invés de nos aproximar com uma comunicação não violenta pautada pela escuta das necessidades de parte a parte. Porém! Outra vez o porém! ESTAMOS JUNTAS MULHERES NEGRAS, INDÍGENAS, BRANCAS, NIPÔNICAS, ÁRABES, JUDIAS MESMO QUE LEVE TEMPO A SABERMO-NOS ESCUTAR E SILENCIAR QUANDO NECESSÁRIO SEM SUBJUGAÇÃO DE PARTE A PARTE.
A Piu
Brasil 16/09/2019

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