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Esta imagem ilustra muito bem como fico por dentro sempre que me fazem essas colocações. Fico ali entre um olhar de Garfield, uma cor de Simpson, com o devido bigodinho como qualquer portuguesa de gema se preza em ter, mas sempre dando uma pose de libertária descolada em que não me esqueço qual o cocar ou os cocares que devo honrar e que me faz continuar neste imenso e diverso território brasileiro.
Quando as pessoas têm opção para escolher se devem ficar num lugar ou ir para outro é algo que só a elas lhes diz respeito, talvez até sejam convocatórias de vidas anteriores sua ou de antepassados, para fazer diferente e honrar os que vieram antes duma forma que possa beneficiar todos os seres, se não todos aqueles que podermos alcançar. Eu estou no Brasil porque artisticamente é muito mais pulsante que em Portugal, embora também se façam bons trabalhos por lá. Mas na área do teatro e da palhaçaria o Brasil está a muitos de luz à frente do que em Portugal. Esta é a minha experiência. Nas artes visuais, principalmente as de rua o Brasil é pulsante, assim como na música. Os saraus de poesia e música nas periferias são uma lição de democracia para as bolhas de mentalidade de condomínio fechado. Há uns tempos visitei uma exposição do Basquiat no Rio de Janeiro em que alguns artistas brasileiros estavam expostos. A curadoria escrevia que o que hoje se vive em várias cidades do Brasil como produção artística é o que se viva em Nova York nos 70/80. Concordo.
Por outro lado, Portugal saiu, aliás ainda está a sair, duma crise financeira e dum desemprego galopante para criar sub empregos. Então, o cidadão brasileiro que vem com essas perguntas acima mencionadas para uma portuguesa que mesmo assim não nasceu ontem, tá nasceu um pouquinho antes do antes de ontem, parece até que confirma que o cidadão comum reproduz o que escuta na Globo e que se move pela lógica neo liberal do individualismo: " Portugal tá ' bão' demais! 'Tá todo o mundo indo para lá!". Estas duas frases ditas desta forma já as escutei várias vezes, ditas por diferentes pessoas. Umas vão para desfrutar da sua aposentadoria brasileira. Olha, muito obrigada. Até pode ir para a Grécia! Outros vão para um Portugal com um governo de esquerda neo liberal, mesmo quando votam no Coiso. Votando ou não, neo liberalismo é neo liberalismo seja de esquerda, direita, torto ou maquiado. Não sei em que informação elas se baseiam e se realmente conhecem o astral do português comum. Ihihih Se preparem minha gente que a lamúria com algumas pitadas de antipatia fazem parte do pacote. Ehehehe além de uns serem mais ou menos assumidamente racistas e xenófobos. Mas come-se bem e bebe-se melhor. E também tem gente porreira, mas carece de alguma alegria vital de simplesmente dançar e tocar música e sorrir para vida mesmo quando esta está uma bagunçada. Por isso também curto muito o Brasil. E aqui gentileza gera gentileza. Podem crer. BOA SORTE! Vai lá tu que um dia destes eu passo por lá.
Por outro lado há ainda a frase: " O Brasil não está com nada! Vou para a França! Vou para a Suécia!". Então 'tá. A Europa também deu aquele retrocessinho com foco nas fobias em relação aos estrangeiros e emigrantes. Bom, também nunca escutei nenhum indígena nem negro da periferia falar uma coisa dessas. No primeiro caso, no dos indígenas, eles "só" querem que deixem o território deles em paz e também a eles. Depois há ainda a oportunidade de escolher, já não falando que aqueles que querem ir para a Europa ou EUA são descendentes de europeus. Assim podem voltar à casa dos seus ancestrais sem esquecer de agradecer profundamente pelo território brasileiro, o Novo Mundo, ter acolhido em algum momentos seus antepassados chegados do outro lado do mar por motivos vários. Se não pode soar a ingratidão e até alguma desresponsabilização para contribuir para um Brasil mais justo e igualitário sem violência.
Quanto a mim fico no Brasil que é um vasto campo de atuação e muito tenho a agradecer aos nativos e nativas de cocar por me terem possibilitado de enxergar o caminho vermelho do coração e me apaziguar com todos os processos históricos antes de mim, assim como a aprender com eles e com o pessoal da periferia, com os artistas de distintas áreas e pensadores com ação que tenham como foco o coletivo. Porque o individualismo é chão que já deu uvas. E não 'tá dando mais, né mesmo?
EVOÉ! HAUX HAUX
A Piu
Brasil, 04/09/2019
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