quarta-feira, 18 de setembro de 2019

FULAN@ É RIC@? NÃO SEI NUNCA LHE CONTEI O DINHEIRO

Sempre que você estiver sentido sozinha, lembre: o universo está com você e te escuta. Tudo o que você pensar com força vem, então comece a desejar somente o que te faz bem. - Isadora Não Entende Nada

Em criança, de vez em quando, eu perguntava para o meu pai se determinada pessoa era rica. Nem lembro o porquê de tal pergunta. E a resposta vinha sempre a mesma, impecavelmente engomadinha numa afirmação com reticências seguida dum ponto final parágrafo: " Não sei. Nunca lhe contei o dinheiro." Até hoje riu com esta resposta, pois foi uma forma de me passar o principio:"Cada um cuida da sua vida e da sua consciência. E o que é que isso importa da pessoa ser rica ou não? " Era assim que eu interpretava, pois a conversa acabava ali, mas imaginativa como sou e somos imaginava o meu pai a contar as notas verdes da caixa forte da pessoa em causa, como se esta fosse um Tio Patinhas. A imagem divertia-me, assim como a resposta dada com quem diz: Deve dar uma trabalheira contar as notas do Tio Patinhas que eu tenho mais que fazer!! É bom sermos divertid@s, se assim não for como sobreviver a esta maluqueira toda de desequilíbrios sociais e outras coisas tais como as ambientais?

Ontem um curador dum festival de dança desculpou-se publicamente diante de uma plateia multicolor e multigenérica - diversos géneros, gêneros e não genérica/ genêrica de medicamentos : " Eu como homem branco, o que é uma m...da estou repensando as diversas masculinidades." QUE BOM QUE ESTEJA REPENSANDO O QUE É SER HOMEM E AS DIFERENTES MASCULINIDADES! Agora porquê pedir desculpa por ser homem branco, muito provavelmente duma classe mais privilegiada em relação a uma grande maioria da população? A pessoa tem que pedir desculpa por ter nascido com um penduricalho entre as pernas e a sua pigmentação ser mais clara, além da sua barba crescer às mãozadas? Nesse caso vamos começar a pedir desculpa porque temos os dentes separados, o cabelo liso, o cabelo crespo, o nariz batata ou nariz tucano? Pedir desculpa porque somos mulheres? Porque temos um sotaque diferente? Porque nascemos em tal lugar? Porque não conhecemos isto ou aquilo? Porque dançamos descalças num terreiro? Pedir desculpas porque um familiar nosso foi um babaca em algum momento? NÃO! Nós temos sim, é nosso dever rever as nossas estreitezas de como nos enxergamos e como enxergamos os outros assim como temos ou não nos cuidado e cuidado os outros seres vivos. Rever sim essas masculinidades, feminilidades e outras questões sociais e culturais.

No domingo passado ao escutar uma mulher negra feminista, depois da projeção dum documentário seu sobre violência contra a mulher, senti-me profundamente só. Aliás, esse sentimento foi-se aflorando até hoje eu conseguir dissipá-lo através de esvaziar a mente de pensamentos negativos e outras tagarelices internas. Assim sendo, escrevo este texto para compartilhar com tod@s que
 estiverem dispost@s a repensarmos junt@s esse paradigma que é a convivência e o respeito mútuo.
Adianto já que estou sinceramente agradecida a esse mal entendido e  embate que aconteceu entre mim mulher negra feminista com o seu empoderamento. Apesar de ter tocado numa ferida minha, que é o facto de ter sido alvo duma relação abusiva há uns anos atrás pelo pai da minha primeira filha. Pai esse que além de brasileiro não é branco, nem negro e sim indígena. Vivendo em contexto urbano e não na floresta a sua vivência será outra. E aqui não se trata, no meu ponto de vista, de colocar as pessoas por categorias de cor, nem de classe social. O que é tão recorrente no Brasil. Trata-se sim de chamar a atenção para a violência que um homem exerce sobre uma mulher, ou uma mulher sobre um homem, ou um homem sobre outro homem e uma mulher sobre outra mulher. NADA LEGITIMA A VIOLÊNCIA EM CASO ALGUM!

Este este espetáculo de palhaçaria feminina sobre violência contra a mulher " AR Dulce Ar" trata das histórias pessoais de nós, estas duas palhaças, que antes de tudo somos mulheres e mães. Este espetáculo traz para cena, nessa linguagem de comicidade, as agruras que passamos há uns anos atrás com os pais das nossas filhas.

Ora uma mulher negra feminista com as suas pautas especificas, diferentes das mulheres indígenas e das brancas de diferentes classes sociais, afirmar publicamente que se um homem negro ( não branco) agredir uma mulher branca ela estará do lado do homem pois este sofre diariamente descriminação!!!... E que se a mulher branca chamar as autoridades esse homem não branco é facilmente punido!!!... Além de que a maioria das mulheres brancas relacionam-se intimamente com um um homem negro /  não branco por exotismo.


Primeiro, nós somos livres de nos apaixonarmos e amarmos quem nós quisermos. Se alguém o faz por puro exotismo só a essa pessoa diz respeito e naturalmente a relação não se sustentará por muito tempo e se se sustentar será com base na mentira.

Segundo, quem disse que uma mulher acabada de dar há luz uma criança quer que o homem que a maltrate seja preso? E quando falo em mal tratar falo em quebrar a casa toda sem motivo aparente e apontar uma faca a uma mulher com uma criança no colo.Quando falo em mal tratar falo de ser ameaçada de morte se ele for denunciado. Isso é razoável.É justo? Uma mulher que se diz feminista achar que as mulheres brancas devem ser punidas por serem brancas, mesmo por homens que as mal tratam a elas como poderiam mal tratar uma outra mulher duma outra pigmentação?


Porque estou agradecida? Porque essa mulher, que não deixo de admirar o seu empoderamento embora haja a salvaguarda acima referida, revelou o porquê de toda essa violência vivida na primeira pessoa. A sua fala, a sua narrativa era a mesma que o sujeito usava. Que eu só estava com ele por exotismo e que nós colonialistas exploradores tínhamos sim que expiar. Em suma, uma narrativa social e cultural. Já se passaram duas décadas, embora o sujeito de vez em quando apareça virtualmente, com espaços de largos anos. Umas vezes mais calmo outras nem tanto. Da minha parte eu só quero que ele siga a sua vida e que se encontre na sua lucidez. Que seja feliz, que encontre as verdadeiras causas da sua felicidade e supere as verdadeiras causas do seu sofrimento. E que depois desse processo possa estabelecer uma relação saudável com a sua filha sem precisar que eu seja intermediária. Vejo isso como um ato de amor  da minha parte. Querer mante-lo à distância e com o nosso trabalho artístico poder chegar ao máximo de pessoas possíveis, nomeadamente nas periferias, sem ter que recorrer às autoridades.

É isso. Muito grata por todas as oportunidades em aprender a cultivar a paz sem medo assim como a colocar limites para abusos e assédios, sejam estes físicos como morais.

Ah! E quanto a ser rica ou pobre eu venho dum contexto social em que ser da classe média é viver do seu trabalho sem acumular riquezas e benesses às custas da exploração dos outros. Assim como da realidade ( portuguesa) do qual sou oriunda não existem faxineiras, jardineiros, babás e motoristas.

Bigadu por terem chegado até ao fim deste texto., Espero não ter ofendido ninguém.

A Piu
Brasil, 18/09/2019

Ah não se esqueça de curtir, se curte, a página no facebook " Ar Dulce Ar"- espetáculo de palhaçaria feminina sobre erradicação da violência contra a mulher com Geni Viegas e Ana Piu com direção de Leonardo Tonon e assessoria artística de Adelvane Neia. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209

Não existe caminho para a paz. O caminho é paz. - GANDHI
foto: André Brandão pág. facebook: FOTOS CORRIQUEIRAS



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