Em algum momento, lá pelo final dos anos 60, descobri que estava rindo, inesperadamente, incontrolavelmente: primeiro um ganido de descrença, incrédulo, depois uma risada de verdade. Ah, meu Deus, mas é tão engraçado... O quê? O sexo. Essa risada está fora do seu devido lugar apenas em termos cronológicos, porque não era apenas para os 60 que eu estava olhando e sim também para os 50: como já deixei subentendido, o sexo não começou nos 60.
O que distinguiu os 50, e depois os anos 60, é que não havia regras. (...) Valia tudo. E não haveria regra nenhuma até o advento da AIDS, que restaurou a moralidade de um só golpe.
Eu diria que nos anos 50, no que diz respeito ao amor, ao sexo, o mais óbvio- óbvio mais tarde- é que as pessoas faziam porque era isso que se esperava delas. ( O Zeitgeist exigia). Algumas pessoas estavam copulando feitos peixes hipnotizados, que dão um encontrão na água. Curiosidade? Talvez, um pouco. Exaltação sexual, nem um pouco. Aqueles encontros não tinham nada a ver com o amor, e muito pouco a ver com sexo. Quero dizer, com a verdadeira atração sexual. Havia uma passividade geral.
Lessing, Doris "Andando na Sombra, segundo volume da minha autobiografia" Prêmio Nobel, Companhia das Letras, SP 1997.
* pergunta minha: E agora? Não é igual? Mais ou menos igual ou até mesmo acentuado visto a lógica consumista do descartável cheio de corantes e desconservantes estar ainda mais apurada? Embora, já haja um movimento inverso que timidamente avança, porque o que a essência não é iluminada com neons e boquinhas de bonecas de carne e osso osso dirigido a bonecos de peito inchado por receitas de academia. ( Ana Piu)
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