sábado, 30 de março de 2013

DIVAS


O quarto era forrado por imagens pequenas, maiorzinhas, outras que ocupavam uma parte considerável da não menos pequenez considerável do tamanho do seu quarto. Isto é, da sua mansarda. Uma janelita espreitava timidamente do meio do telhado para outros telhados. Sonhava com todas elas. Sonhos que adquiriam todos os contornos possiveis. Quanto a quotidionez dos sonhos tinha mais dificuldade. Não imaginava ir com a Dietrich ao supermercado. Ela não seria senhora para ficar numa fila para pagar umas cotonetes! Ir à sorveteria com a Bo Derek até que imaginava.!

Aos 25 anos casou-se com Marlene. Sentiu um calor no peito tão grande. A sua esposa chamar-se Marlene! Como a Dietrich!... Iria chamar-lhe carinhosamente Lili. Lili Marlene. Marlene era sardente e roliça. Ficou ainda mais quando ofereceu-lhe cinco filhos. Todos iguazinhos a ele. De beiçola gorda, pois a sua avó era uma nega que fez as delicias do calmeirão do seu avô, de terras andaluzes com nariz e olhos de cigano de gema. Cuspidor de fogo, veio com a sua família ambulante para terras do além mar. E ali estava ele Zeribeu, o homem do trapézio. Timido no dia a dia, mas ágil em cena.

Agora, Zeribeu, estava casado. Mas quando aquela tal de Juli Fox veio à sua cidade dar autografos... Não se conteve de emoção. De tal forma que não ganhou coragem para levar um timido papel de caderno ou até mesmo aquela imagem que trazia escondida na carteira. Veio ainda a Sarah Stolphen. Também não teve coragem.

Amava mansamente a sua Lili Marlene. E quando fechava os olhos, tocando o macio rosto sardento, podia sentir uma textura como que de papel amolecido pelo tempo, gasto de tanto ser olhado e sonhado.

a piu
Br, Março de 2013

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