"Quem quer brincar à cabra cegaaaaa?" Abraçadas, as duas amigas
passeavam-se pelo recreio tentando recrutar outros amiguinhos. "Como é
que se brinca à cabra cega?" perguntou o menino André por detrás dos
seus óculos. André chulé, o caixa de óculos. Era assim que o chamavam,
pois nunca uma alminha madura chamou a atenção para tal aberração no
trato. Talvez ainda não fosse moda ser politicamente correto. "Como é
que se brinca à cabra cega?" repetiu audaz e timidamente. "Olha, é
assim: nós atiramos-te areia para os olhos e depois damos-te duas voltas
até ficares zonzo e depois tens de nos procurar, correndo." As meninas
riram aquele riso esganiçado de dentes definitivos em formação. O menino
ficou radiante. Nunca ninguém brincava com ele! Assim que as
meninas lhe atiraram areia para os olhos o André chulé ficou impávido e
sereno. Os finos grãozinhos de areia apenas atingiam as suas grossas
lentes. Ele, de sorriso na boca desdentada, estava tão radiante que nem
entendeu a irritação das duinhas. As duinhas menininhas de corpo
saracoteado franziam as sobrancelhas. " Agora já não somos mais tuas
amigas!" O menino André chulé falou:" Porque é que vocês já não são mais
minhas amigas?..." ;"Porque tu és um xonónó!"; "E se eu for eu xenéné
posso brincar com vocês?" perguntou o menino com uma fina esperança. As
meninas viraram costas e continuaram pelo pátio do recreio: "Quem quer
brincar aos índios e cowboys?"
A piU
Br, 19 de Março de 2013
A piU
Br, 19 de Março de 2013
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